Aconteceu na noite fria do dia 28/04 a etapa Paulistana do maior embate mundial de bandas, que garante ao vencedor de cada país envolvido a oportunidade de se apresentar no maior festival de Metal do mundo: o Wacken Open Air. Primeiramente, gostaria de citar um fato que percebi: incrível o número de pessoas que vivem o Heavy Metal aqui em SP que não fazem ideia do que seja esse evento.
Chega a ser triste ter contato com isso. Parece que apenas as bandas se importam com este que é, fácil, o maior evento no calendário de bandas fora dos holofotes do main stream. Outra coisa triste a ressaltar: organizadores continuam pensando numa frequência que apenas as cabeças distorcidas deles entendem. Fazer algo assim, numa quinta-feira, e ainda ter o despeito de atrasar uma hora e meia chega ser ridículo! Isso, para mim, soa quase como a corroboração da máxima que diz que “todo músico é vagabundo”. Afinal, nessa ótica, ninguém precisa acordar cedo no dia seguinte para trabalhar ou estudar, não é? Coisas de Brasil. Mesmo com isso, o público na casa podia ser considerado grande. As bandas conseguiram mobilizar seus amigos e fãs, e o que todos viram ali foi algo nítido: o Metal nacional continua vivo, vigoroso, atuante e muito bom!
As bandas indicadas para a disputa por SP foram: Innervate (Doom Metal), Woslom (Thrash Metal), Furia Inc. (Thrash Metal), HellArise (Death Metal) e Red Front (Grindcore). Confesso minha praticamente total ignorância em relação a elas até o momento de suas apresentações. E fico muito feliz em dizer que todas deixaram uma impressão deveras forte e positiva em mim. Todas as cinco bandas fizeram apresentações extremamente competentes, mostrando músicos coesos e com uma energia em cima do palco poucas vezes vista antes! Fosse qual fosse a banda no palco, tendo seu público particular ou não, todas levantaram o público, como um digno festival de Metal. A banda responsável por abrir a noite (como já citado, com uma hora e meia de atraso) foi a Innervate, atual projeto do grande Pedro Salles, idealizador do mítico Avec Tristesse. Com um Dark/Doom incrível, trabalhado e criativo, esta foi a banda que musicalmente mais me impressionou na noite. Contando ainda com o onipresente André Ataíde na bateria (Imminent Attack, Eternal Malediction entre outras centenas!), a banda fez seu debut em palcos com uma apresentação competentíssima. Se mantiverem essa linha, o mundo os aguarda!
Na sequência, a pancadaria desenfreada do Woslom. Mostrando que o Thrash continua vivo e forte, os caras detonaram um vigor impressionante na meia hora de palco que tiveram direito. Fiquei estupefato com a presença de palco do guitar Rafael Iak, um verdadeiro Tsunami das seis cordas! Esses já estão prontos para ganhar o mundo.
Fazendo exatamente a metade da noite, o Furia Inc. subiu ao palco certamente com o maior público do local. E eu admito que tenho um certo receio com bandas que mobilizam muito público em festivais desse porte. Ainda mais quando no meio do show o vocalista agradece ao produtor, que está entre o público. “Excesso de profissionalismo” nesses eventos, no Brasil, carrega uma alcunha meio negativa. Entretanto, a banda mostrou um som muito poderoso e coeso, porém sem grandes novidades. Um show mediano.
Logo após sobe ao palco as meninas do HellArise. Metal extremo competente, de ótimas composições, temperado pelo fato de a banda contar apenas com mulheres em seu line up. O diferencial que Angela Gossow eternizou, as meninas elevaram ao limiar.Apresentação vigorosa, com nítido destaque para a vocalista Flavia Morniëtári, um verdadeiro demônio ruivo atrás do microfone!
Fechando a noite, o Red Front. E aqui tenho que dizer: o inferno subiu a Terra e tomou conta do Manifesto por meia hora. Impressionante a apresentação desses caras. De uma força e um vigor de calar a boca de muita banda gringa! O vocalista Leo e o guitar Oscar tiveram o público nas mãos todo o tempo, público este que transformou aquele pequeno espaço a frente do palco, como disse Leo antes da última música, numa “praça de guerra”. Nesse momento, Oscar desceu à pista, separou o público em duas partes, voltou ao palco e então a roda começou, lembrando aquelas cenas épicas de batalhas medievais. Outro momento a ressaltar foi quando a dupla citada levou ao centro do palco um boneco com a reprodução do rosto do Pe Lanza, vocalista da banda Restart. Após um breve discurso, jogaram o boneco para o público, para que este pudesse “brincar” com o dito. Não preciso dizer que em menos de cinco minutos não havia nem história do boneco para ser contada, não é mesmo? Devastador é a palavra que melhor me ocorre para definir essa apresentação.
Os vencedores da seletiva, claramente, foram os caras do Red Front. Segundo a organização, na votação mais acirrada da história do evento. Mas os vencedores da noite, sem sombra de dúvida, foram todos os Head Bangers que compareceram ao local, numa noite de quinta-feira, fria e chuvosa, e presenciaram uma noite de celebração. Uma noite para calar a boca de qualquer um que disser que o Metal nacional está em coma.
Fotos e Texto: Evandro Camellini ( http://humanzoomusic.blogspot.com )