Aconteceu no último 11 de setembro a 10ª edição do maior festival de música extrema no Brasil, o Setembro Negro. Curiosamente, no mesmo dia em que se “comemorou” os atentados de 11 de setembro nos EUA. Uma data que irá remeter sempre a imagens de destruição, ganhou um reforço brutal esse ano. Pois o que os presentes ao Carioca Club tiveram foi exatamente isso: destruição! E não foram poucos os presentes. Essa foi, sem dúvida, a maior plateia que encontrei em um evento no Carioca desde que começamos nossos trabalhos. Acredito que isso mostre de forma clara a força que a música extrema tem em nossas terras. E também ficou nítido como a lenda Morbid Angel é capaz de mobilizar uma pequena massa.
O Morbid Angel foi inserido na data paulista da turnê conjunta de Belphegor e Ragnarok, que se apresentaram em várias cidades do país, formando assim o cast do evento. No último minuto houve o adendo da banda Hellsakura, que me perguntei ao ver o show o porque dessa adesão. A banda começou a tocar ainda com o público entrando na casa, o que fez com que seu público mal chegasse a cinquenta pessoas, que nitidamente não estavam muito dispostas a serem simpáticas com a banda. Talvez pelo fato do Hellsakura apresentar um som muito mais punk do que extremo, acabaram por soar deslocados. A banda subiu ao palco, fez uma apresentação curtíssima, e provavelmente passou despercebida pela quase totalidade de quem esteve ali.
Coisa de meia hora para arrumação geral do palco, e a primeira atração real da noite surgia no palco: Ragnarok. O Ragnarok, banda norueguesa de black metal, pode ser considerada relativamente desconhecida no meio. Apenas nos dois últimos álbuns mostraram ter encontrado um caminho a ser seguido, e suas músicas cresceram muito. E esse crescimento pode facilmente ser percebido no palco, pois Hansfyrste (vocal), DeceptiCunt (baixo), Jontho (bateria) mostraram uma coesão enorme no som. Rápido e agressivo, com vocais insanos, as músicas soavam perfeitas e agradáveis (se é que o adjetivo cabe num show de black metal), até para quem não conhece a banda. Sem muitas frescuras, onde podia-se perceber as cordas cada uma em seu canto, e apenas o vocal se movendo, a banda preencheu os espaços restantes com muito peso na sonoridade. Com o momento bacana de levarem ao palco uma bandeira do Brasil, e agradecendo efusivamente a recepção encontrada. Fizeram uma apresentação rápida (40 minutos), deixando caminho aberto para o resto da noite, que prometia ser realmente avassalador.
Na sequência, tivemos um ícone: Belphegor. E então pudemos perceber nitidamente a diferença entre uma banda que ainda está se encontrando e uma que já tem uma história sólida nas costas. Pois o que se viu nos mesmos 40 minutos de palco que o Ragnarok teve foi um show, no bom sentido da palavra. Helmuth (vocal), Serpenth (baixo), Bernth (guitarra) e Thyger (bateria) mostraram uma postura extremamente sólida no palco. Com exceção de Thyger, que em minha humilde opinião de baterista carece de um pouco de potência e vida em suas notas, o resto da banda é um show a parte! Aqui inverteu-se o que se viu no show anterior, Heluth permaneceu parado atrás do microfone o tempo todo, enquanto as cordas se movimentavam. Mas, mesmo parado, Helmuth hipnotiza com suas expressões e forma de cantar e encarar o público. Mesmo com uma postura fria, você o sente capaz de controlar o público. E, nas laterias, podia-se ver muito cabelo subindo e descendo num típico ato banger contínuo, em meio a outras tantas expressões típicas e necessárias do estilo. O som estava equilibrado, a iluminação precisa, e a banda “redonda”. Uma grande apresentação, curta para os tantos que ali estavam apenas para vê-los, mas certamente irrepreensível. Nesse momento a pista já tinha 90% da capacidade que teria ao fim da noite. E já estava praticamente tomada.
E eis que a lenda surge no palco. Pela terceira vez em nossas terras, o Morbid Angel trazia sua destruição sonora a São Paulo. E, como que querendo deixar claro para o que vieram, abriram a apresentação com Immortal Rites, certamente o maior clássico da banda. Porém, essa apresentação trouxe uma diferença negativa para os fãs mais antigos: Pete Sandoval, ainda se recuperando de uma séria cirurgia na coluna, não esteve presente. Em seu lugar, o Morbid trouxe Tim Yeung que, se não fez o público esquecer Pete, também não o fez lamentar sua falta. Tocou rápido, pesado, e de uma forma descontraída ainda, sempre fazendo alguma coisa atrás de seu kit, onde baquetas sempre podiam ser vistas levantadas ao alto ou rodadas nos pequenos intervalos dentro das músicas. E o que se viu pelos 100 minutos em que o Morbid esteve no palco foi exatamente aquilo que todo fã já está habituado: muita velocidade, técnica, peso e carisma de seu vocalista, David Vincent. Sempre comunicativo, gritando o tempo todo fora do microfone para o público mais próximo do palco, chega a ser contrastante ver um homem daquele tamanho, com aquela voz, soar até “doce” em alguns momentos. A verdade é que, enquanto com o baixo em mãos e atrás de um microfone, David é uma lenda, e sabe o que fazer com o público. Público este que explodiu de vez durante o show, abrindo rodas por quase todo o set, lotando a casa, tanto na pista como nos camarotes. Não havia lotação máxima, mas confesso que não esperava aquele montante de pessoas ali. Infelizmente, o som estava muito alto, o que acabou deixando o mesmo muito embolado, e em alguns momentos algumas passagens chegaram a ficar incompreensíveis. Mas nada que afetasse o resultado final. Executaram três músicas do último e controverso álbum, e fizeram uma excelente passagem pelos anteriores. Resumindo, um grande show, de uma grande banda, que sabe que ostenta o título de lenda, e isso não lhe pesa nem um pouco.
O que fica desse show é a excelente produção da Tumba, que soube criar um cast impecável para celebrar a década de existência de seu evento. Uma grande banda que precisa de estabilidade, pois um bom trabalho possui. Um ícone, coeso, sólido, pesado e irrefutável. Uma lenda, que pode ser acometida pelo o que for, sempre será uma lenda e digna de assim ser chamada. E um público apaixonado, fiel, insano, que conseguiu criar o clima perfeito para que a destruição acontecesse. Ponto positivo para todos os envolvidos!
Setlist Ragnarok:
It’s war
Bless thee for granting me pain
Stabbed by the horns
Certain Death
In Nomine Satanas
Blackdoor Miracle
Setlist Belphegor:
Feast Upon the Dead
In Blood – Devour This Sanctity
Belphegor – Hells Ambassador
Angeli Mortis de Profundis
Impaled Upon the Tongue od Sathan
Lucifer Incestus
Rise to fall and Fall to Rise
Bondage Goat Zombie
Setlist Morbid Angel:
Immortal Rites
Fall from Grace
Rapture
Pain Divine
Maze of Torment
Sworm of the Black
Existo Vulgoru
Nevermore
I am Morbid
Angel of Desease
Lord of All fevers
Chapel of Ghouls
Bis:
Dawn of the Angry
Where the Slime Lives
Blood of my hands
Bil Ur Sag
God of Emptiness
World of Shit
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