Uma noite de celebração. Três nomes de (literalmente) muito peso juntos, em um único lugar, para fazerem aquele que, antes mesmo de seu início, já era classificado como um show histórico. E realmente o foi.
Threat
Por volta de 20h10 teve início a destruição sonora da noite. Os responsáveis foram os paulistanos do Threat, ótima banda que vem crescendo e fortalecendo seu nome na cena pesada do país. Formada por Guizão Menossi (vocais), Andre Curci e Wecko (guitarras e vocais), Fábio Romero (baixo e vocal) e Edu Garcia (bateria), o quinteto, durante pouco mais de meia hora, mostrou um som poderoso, coeso, rápido agressivo. A nota realmente positiva foi a resposta do público. Sim, naquele momento era pequeno, talvez não mais do que um terço dos que viram a banda principal ao fim da noite. Porém, estes puderam presenciar uma grande apresentação, e retribuíram isso de uma forma muito positiva. A noite apenas começava, e tudo por ali já tremia.
Sepultura
21h15 e o palco era tomado pelo maior expoente dentro do Metal nacional. O Sepultura dispensa qualquer apresentação e comentário maior. Fizeram uma breve intro instrumental para “aquecimento”, e isto já bastou para que a primeira roda fosse aberta e o público começasse a transformar a frente do palco em um inferno! Assim que Derek apareceu a frente e saldou a todos, o show em si começou, e não poderia ter começado de forma mais devastadora: Arise. Nesse momento, este que vos fala estava posicionado bem a frente do palco, tentando algumas fotos. Não foi possível permanecer ali e trabalhar, ao mesmo tempo. Incrível como basta o som do Sepultura se fazer ouvir para que a insanidade tome conta de todos! Durante uma hora e meia e dezenove músicas executadas, todos ali foram brindados com tudo aquilo que elevou o Sepultura ao patamar de lenda: peso, velocidade, agressividade e muita simpatia. Poder ver Andreas no palco é uma experiência única. Ele não precisa pronunciar uma palavra para ser reverenciado. Por onde ele se desloca no palco, uma multidão se aperta e o saúda. E ele, muito simpático, sempre se comunicando com todos, entregando palhetas nas mãos de alguns poucos escolhidos, vai criando um clima cada vez mais próximo entre banda e público. Ouviu-se desde clássicos como Refuse/Resist (que pode ser conferido no vídeo ao fim da matéria), Dead Embryonic Cells e Territory, até músicas de seu último trabalho, como Kairos (faixa título do álbum), Relentless e Seethe. E em momento algum a banda deixou a peteca cair. Ou deveria dizer que isso foi responsabilidade do público? Talvez, o mais justo seja fazer a divisão equalitária dessa responsabilidade! Grande show, de uma lenda que continua viva. E muito!
Machine Head
23h20. Esse foi o horário que marcou o encerramento de uma lacuna de 20 anos. Vinte longos anos, desde que o Machine Head fez sua estréia, até o momento em que finalmente se fez ver e ouvir num palco em terras brasileiras. Era notório como muitos ali estavam até de forma apreensiva aguardando por esse show. Uma certa aura insana podia ser sentida antes mesmo do início do show. E, pela também hora e meia que o setlist se estendeu, o que se pode ver foi exatamente isso: insanidade. Também muito bem dividida entre banda e público. O Machine Head, que hoje é formado por Robb Flynn (guitar/vocal), Phil Demmel (guitar), Adam Duce (baixo) e o monstro Dave McClain (bateria), escolheu Imperium para ser o som inicial do massacre. Aqui cabe um comentário: o som estava muito mais alto que durante o show do Sepultura (e em minha opinião, pior. Durante o Sepultura ouvia-se mais nitidamente o que acontecia no palco). Esse som mais alto, batendo nos ouvidos dos presentes, ajudou a criar o clima insano da noite. Verdade precisa ser dita: a banda manteve uma postura extremamente democrática no palco. Raramente via-se alguns dos membros se deslocando por ele. Uma postura quase fria, para quem não é doente pelos caras e estava assistindo a apresentação “sem o coração”. Com exceção de Dave, que transpira energia e vigor através de suas baquetas, fazendo seus tambores soarem como verdadeiros tambores de guerra, onde seus bumbos muitas vezes soam como metralhadoras, o resto da banda possui realmente uma postura bem apática. Porém, isso em nada influencia negativamente a execução das músicas. Muito pelo contrário! Robb toca e principalmente canta com uma garra poucas vezes vistas antes! Aquilo, de certa forma, traz o público para junto da banda, que durante quase todo o set cantou em coro todas as letras. A frente do palco, que já havia se tornado uma praça de guerra desde o show do Sepultura, continuou no mesmo clima. E após a execução de Davidian, a banda encerrava esse tão esperado momento. Mas não sem antes Robb permanecer sozinho no palco, por alguns minutos, agradecendo veementemente ao público, onde pode ser visto um largo e sincero sorriso em seu rosto.
Uma noite para entrar para a história da música pesada do Brasil. Uma noite para marcar época na mente de muitos que ali estiveram. O Via Funchal tremeu talvez como nunca antes. Alguns acharam que o cast poderia ser invertido, e que o Sepultura poderia ter fechado a noite. Comentário que apenas reforça a mística do S. Outros certamente acham isso um absurdo, e querem apenas se banhar da felicidade de uma espera de vinte anos finalmente ter sido encerrada. A verdade é que o Thrash Metal está vivo. E destruidor como sempre!
Setlist Sepultura:
Intro
Arise
Refuse/Resist
Kairos
Just One Fix (Ministry cover)
Dead Embryonic Cells
Convicted in Life
Attitude
Choke
What I Do!
Relentless
Firestarter (The Prodigy cover)
Troops of Doom
Septic Schizo / Escape to the Void
Meaningless Movements
Seethe
Policia (Titãs cover)
Territory
Inner Self
Bis
20. Roots Bloody Roots
Setlist Machine Head:
Imperium
Beautiful Mourning
Locust
The Blood, the Sweat, the Tears
I Am Hell (Sonata In #C)
Bulldozer
Old
Aesthetics of Hate
Darkness Within
Ten Ton Hammer
Bis
Halo
Davidian