Edu Falaschi ouviu atentamente o rádio e comemorou a sua convocação para a seleção brasileira de futebol. É mais ou menos assim que o vocalista do Almah encarou o convite do Rock in Rio para dividir o palco com a banda gaúcha Hibria, hoje um fenômeno de vendas no Japão.
Sereno e, de certas forma, aliviado, saboreia aquele que considera o marco de sua carreira musical de mais de 20 anos. “Passei dois anos muito difíceis, com problemas de saúde, sofrendo para cantar com qualidade com o Angra e outras coisas. O show do Rock in Rio 2011 foi complicado, o Angra teve problemas no equipamento, eu com a minha voz e isso desencadeou uma série de fatos que me obrigaram a tomar algumas decisões.”
A revanche de Falaschi começou ainda no final de 2011, quando decidiu se cuidar e tratar os problemas vocais. Depois, anunciou a saída do Angra em meados de 2012 para somente se dedicar ao Almah. “O convite para o Rock in Rio é o coroamento de uma carreira de muito esforço e o reconhecimento de que o Almah é uma banda de qualidade. Ao mesmo tempo, deixa claro que o heavy metal nacional tem futuro e boas bandas.”
O ponto alto da carreira do vocalista e de sua banda estará acompanhado de um novo álbum, o quarto do Almah, com uma nova formação, estável, e que já está de olho no futuro. “O telefone não parou de tocar após o anúncio do Rock in Rio com sondagens para shows no segundo semestre. Imagino que teremos um período bem cheio, o que não poderia ser mais maravilhoso nesta retomada.”
A saída do Angra foi fundamental para a retomada de Falaschi. A reorganização do Almah e a recuperação da saúde vieram em seguida, desembocado em uma pequena turnê no final de 2012 e a reunião do Symbols para um show de comemoração dos 15 anos de criação do grupo. Ao mesmo tempo, a inauguração do estúdio Do It!, em sociedade com o irmão, o multi-instrumentista Tito Falaschi, abriu novas possibilidades ao cantor, que agora também é produtor.
Por enquanto, ele tem sido procurado por bandas de heavy metal impressionadas com o trabalho desenvolvido com a banda brasiliense Age of Artemis, que lançou o elogiado álbum Overcoming Limits no final do ano passado.
A repercussão foi tão positiva que o próprio Falaschi ajudou a banda a conseguir um contrato com uma gravadora japonesa. “São mais de 20 anos cantando e gravando com bandas excelentes e músicos extraordinários e aprendi bastante. Creio que estou credenciado a produzir álbuns e o trabalho com o Age of Artemis foi desafiador e prazeroso. Estou curtindo bastante.”
A nova fase serviu até para o vocalista fizesse uma reavaliação da cena nacional do metal, tão criticada por ele anos atrás pelo que considerava “falta de apoio do público”. Um vídeo de uma entrevista recheada de palavrões foi publicado na internet e repercutiu muito mal, embora tenha recebido apoio de parcela expressiva do público roqueiro.
Para Falaschi, o rock in Rio é um marco na sua carreira e é muito importante para o heavy nacional por aumentar a presença de bandas brasileiras, mas crê que o reflexo dos pontos positivos no mercado se darão a longo prazo. “O Rock in Rio joga luz em uma área que estava adormecida. Ao mesmo tempo em que mostra que tem qualidade e tem público, o heavy metal nacional vai ter de correr atrás para mostrar mais profissionalismo e mais músicas de qualidade. As bandas vão se beneficiar disso, como já ocorre com o Age of Artemis e o Shadowside, que faz uma turnê legal pela Europa neste ano. E até mesmo bandas novatas de qualidade, como o trio Nervosa, começam, a despontar no exterior, conseguindo contratos. Vai demorar um pouco, mas acho que é possível recuperar parte do terreno perdido anos atrás.”