Pegando a rebarba do Rock In Rio, São Paulo viveu uma noite de gala hard rock com duas lendárias bandas tocando juntas na mesma noite. É para fã nenhum botar defeito. A noite foi regada com um caminhão de hits fazendo do dia 24 de setembro de 2017 uma data histórica.
Após quase 20 anos longe do país, os britânicos do Def Leppard receberam a incumbência de abrir o evento e logo mostraram que não estavam de brincadeira. Joe Elliott e sua trupe começaram o show com Let’s Go, do último disco da banda, de 2015. Junto com Man Enough, foram as únicas músicas da fase pós anos 2000 tocadas. O resto do setlist foi só de antigueira para tirar o atraso, focando na fase áurea da banda que foi de 1981 à 1992, privilegiando sua gravação mais famosa, Hysteria, de 1987. Animal foi a primeira das seis músicas do disco que eles tocaram. A qualidade do som ao vivo impressiona, parece que era o disco que estava tocando. Redondíssimo.
Outro destaque foi para a produção, telão e iluminação nível europeu. Eles vieram com show completo. Famosos pelas baladas, a primeira do show foi Love Bites, uma velha conhecida do público brasileiro. No início dos anos 90, a banda Yahoo gravou uma versão que foi batizada de “Mordida de Amor” e, por ser tema de novela da Globo, virou um hit nacional. A música funciona muito bem ao vivo, não deixando o clima baixar. Rocket e Armageddon It botaram a plateia para dançar, afinal, hard rock também é música para agitar.
Refrão grudento é com eles mesmos. Como não cantar junto Bringin’ on the Heartbreak e Hysteria? A banda conta com músicos extremamente talentosos. A dupla de guitarristas Phil Collen e Vivian Campbell é de cair o queixo. Além da técnica refinada, dominam o palco perfeitamente. A troca de posições entre eles e o baixista Rick Savage não deixa espaços vazios no cenário, que ainda contava com uma escadaria perto da bateria de Rick Allen. Este cara é um exemplo de vida. Mesmo sem um dos braços, continua tocando perfeitamente. Enquanto muitos teriam desistido da carreira musical, ele continua sendo um dos principais bateristas do hard rock com seu timbre da bateria característico.
Mas quem rouba a cena mesmo é o vocalista Joe Elliott. Ele chama a responsabilidade para si e levantou o público no Allianz Parque. A parte final do show teve só clássicos: Let’s Get Rocked, Pour Some Sugar on Me, Rock of Ages e Photograph. Saldo final totalmente positivo. O público brasileiro espera que não demore mais 19 anos para retornarem ao país. Com o público aquecido, era hora do show principal da noite.
Os americanos do Aerosmith estão no meio de sua tour de despedida dos palcos, “Aero-vederci Baby!”. Depois de fazer um show para mais de 90 mil pessoas no Rock In Rio, a banda retornou ao estádio do Palmeiras para outra maravilhosa apresentação. Sem muitas mudanças na apresentação, o setlist continua basicamente o mesmo apresentado ano passado no mesmo lugar.
Steven Tyler e sua trupe sabem como fazer rock de arena. Passam os anos e a banda parece melhor do que nunca. Após um pequeno vídeo de introdução, eles começaram dizendo quem manda na coisa toda. Let the music do the talking abriu o show seguida de Love in an Elevator. Não tinha um que não estava cantando junto. Na sequência, duas músicas do álbum Get a Grip, de 1993: os mega-hits Cryin’ e Livin’ on the edge foram executadas de forma perfeita.
A banda parecia estar curtindo o show, usando a passarela que liga o palco a galera o tempo todo. Só alegria!! Após a animada Rag Doll, tivemos uma pausa blues no espetáculo onde o guitarrista Joe Perry assumiu os vocais e mandou o tradicional cover do Fleetwood Mac, Stop Messin’ Around, com sua voz de gralha. Esta parte acaba parecendo meio enrolação para ganhar tempo de show. A prova disso que a próxima música foi um cover instrumental do também Fleetwood Mac. Sim, mais um cover deles!!! Desta vez, contou com Steven Tyler na percussão e gaita. Não dá para reclamar, a base da banda sempre foi o blues rock e as jam sessions fazem parte do negócio.
Como eles não estão aqui de brincadeira, mandaram seu maior sucesso por essas terras: Crazy. Clássico absoluto, a música foi exaustivamente tocada nas nossas rádios e MTV’s da vida no começo dos anos 90. Nem sempre eles a tocam e quando o fazem, acaba trazendo outro peso para o show. Vi muito marmanjo chorando nessa hora. Continuando no clima de balada, após uma breve introdução no piano, tivemos a hollywoodiana I Don’t Want to Miss a Thing, trilha do filme “Armageddon” que foi número 1 em todos os charts da época, se tornando referência para uma nova geração de fãs da banda de Boston.
Voltando aos primórdios de 1973, quando foi lançado o primeiro álbum da banda, Mama Kin deixou o clima romântico para trás com seu riff classudo, energético e tudo mais que podemos chamar. A fase anos 70 é um verdadeiro ouro para os fãs. Desde o início a banda já mostrava seu potencial. Para melhorar, a voz de Steven Tyler está melhor do que a gravação original.
Outro ponto positivo para a banda foi ter tocado um de seus covers mais famosos, Come Together, dos Beatles. A versão de estúdio é de 1978, que saiu como parte da trilha sonora do filme “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, que a banda hora ou outra traz de volta para os shows.
Após uma brincadeira com a letra da Hole in my Soul, o baixista Mr. Tom “Sweet Emotion” Hamilton tomou a frente da passarela e começou a tocar sua linha de baixo mais famosa. A música do disco Toys in the Attic é uma das mais famosas da banda, sendo um dos pontos altos do show. Para fechar a primeira parte do set, outro hit, Dude (looks like a lady).
Após as luzes apagarem, os roadies trouxeram um piano de calda para frente e a volta foi em grande estilo. Uma das baladas mais épicas de toda a história da música. Dream On é um caso a parte. Ela vai além do estilo rock. Após tantos anos de seu lançamento, continua sendo totalmente atual. Parece que ela nunca saiu de perto de nós. É inspiração pura. Este foi o momento mais emocionante da noite. Fazer um estádio inteiro cantar junto toda a letra da música não é para qualquer um. Encerrando o show, tivemos Walk This Way.
Incrível uma banda que mantém os membros originais do line-up por tanto tempo. São mais de 40 anos tocando juntos. Palmas para o baterista Joey Kramer e para o guitarrista-base Brad Whitford pelo trabalho em conjunto e pela competência em fazer sua parte para que Steven Tyler e Joe Perry brilhem.
Vamos torcer para eles desistirem da ideia de acabar com a banda porque show do Aerosmith é bom demais! Parabéns ao São Paulo Trip pela bela entrega. Que vire rota anual dos shows de São Paulo. A cidade precisa de mais festivais como este.
Set-list – Def Leppard
Let’s Go
Animal
Let It Go
Love Bites
Armageddon It
Man Enough
Rocket
Bringin’ on the Heartbreak
Switch 625
Hysteria
Let’s Get Rocked
Pour Some Sugar On Me
Rock of Ages
Photograph
Set-list – Aerosmith
Let the Music Do The Talking
Love in an Elevator
Cryin’
Livin’ on the Edge
Rag Doll
Stop Messin’ Around (Fleetwood Mac cover)
Oh Well (Fleetwood Mac cover)
Crazy
I Don’t Want To Miss a Thing
Mama Kin
Come Together (The Bealtes cover)
Sweet Emotion
Dude (Looks Live a Lady)
bis
Dream On
Walk This Way