Sétima edição do festival ocorreu dia 22 de abril, em São Paulo.
Após quase oito longos anos, enfim tivemos uma nova edição do Monsters of Rock na capital paulista. O sábado do dia 22 de abril ficou marcado e ficará na memória certamente por ter, em sua escalação, bandas que são consideradas referências em seus respectivos estilos – algumas delas, precursoras.
Entre as bandas escolhidas para o festival, nenhuma era novidade para os paulistas – todas, sem exceção, já haviam tocado no país em pelo menos duas ocasiões, mas vê-las tocando junto foi uma oportunidade única.
Sendo assim, contarei a seguir como foram as apresentações do Kiss (terceira vez headliner do festival), Scorpions, Deep Purple, Helloween, Candlemass, Symphony X e Doro.
Doro
Dentro do horário marcado, o som da introdução já soava nos falantes, e o baterista Johnny Dee anunciou a “Metal Queen” Doro, que foi a primeira artista a subir ao palco do Monsters nesse dia, abrindo os trabalhos com “I rule the ruins”, clássica música do álbum “Triumph and Agony” de sua antiga banda, Warlock. Mesmo nesse horário, já havia um público considerável para assistir a “Metal Queen”.
Doro Pesch mostrou sua alegria em estar novamente em palcos brasileiros, arriscando algumas frases em português, inclusive. Lembrou que “Burning the Witches”, seu primeiro álbum com sua antiga banda, estava prestes a completar 40 anos, e foi lembrado na apresentação com a música título e “Metal Racer”.
Acompanhada ainda pelo brasileiro Bill Hudson (guitarra), Bas Mass (guitarra) e Stefan Herkenhoff (baixo), outras músicas de sua fase Warlock, além de mais recentes, como a ótima “Revenge” e “All for Metal” (que fechou a apresentação) foram executadas em cerca de 45 minutos.
A balada “Für immer” não foi executada, e deu-se a impressão de que a escolha foi feita de última hora, pois foi possível ver Bill se direcionando ao teclado colocado no palco. Ao invés disso, Doro anunciou “All we are” que teve ajuda da plateia. O som estava perfeito e o festival começou da melhor forma possível.
Minutos antes do show se iniciar, o guitarrista Bill Hudson veio à frente do palco a convite dos mestres de cerimônia Tatola Godas (Rádio 89 FM) e Walcir Challas (Woodstock Discos) para responder algumas perguntas, tais como se deu o gosto pelo rock e seus projetos atuais (que incluem o projeto I am Morbid, de David Vincent, ex-Morbid Angel, e sua banda, Northtale). Walcir, com sua Woodstock Discos, foi responsável por lançar diversas bandas estrangeiras através de seu selo nos anos 1980.
Set-list
I Rule the Ruins (cover – Warlock)
Earthshaker Rock (cover – Warlock)
Burning the Witches (cover – Warlock)
Fight for Rock (cover – Warlock)
Raise Your Fist in the Air
Metal Racer (cover – Warlock)
Hellbound (cover – Warlock)
Revenge
All We Are (cover – Warlock)
All for Metal
Symphony X
Na sequência, os estadunidenses do Symphony X entraram em cena para executar o seu pesadíssimo prog metal. Russel Allen (voz), Michael Romeo (guitarra), Michael Pinella (teclados), Jason Rullo (bateria) e Mike LePond (baixo) já são figurinhas carimbadas por aqui, e se apresentavam no país – era a décima visita da banda por aqui.
Alguns problemas de som ocorreram durante a apresentação, mas isso não atrapalhou o andamento, que teve um set-list curto (sete músicas) devido à duração das canções um pouco mais longas.
Não faltaram o hit “Sea of Lies”, com o baixo marcante de LePond a anunciando, assim com músicas do mais recente álbum, “Underworld”, de 2015, como “Nevermore”. Russel comentou ser uma grande honra para a banda tocar ao lado de outras bandas que eles ouviam em sua infância, e mencionou que “nenhum de nós estaria aqui sem vocês”, fazendo alusão e anunciando a canção seguinte, a belíssima “Without You”.
O vocalista convidou a plateia para pular na pesada e cadenciada “Run with the Devil”, e com “Set the World on Fire (The Lie of Lies)”, finalizaram mais uma passagem pela capital paulista.
Set-list
Nevermore
Serpent’s Kiss
Sea of Lies
Without You
Kiss of Fire
Run With the Devil
Set the World on Fire (The Lie of Lies)
Candlemass
Originalmente o Saxon tocaria no festival, mas devido problemas de saúde de um de seus guitarristas, os ingleses cancelaram parte de seus shows agendados, incluindo sua passagem pela América do Sul. Sendo assim, o Candlemass foi convocado para substitui-los. E não decepcionou!
Era a terceira passagem dos suecos do Doom Metal por nosso país (a primeira foi uma inesquecível e impecável apresentação em 2006 como headliners do Extreme Metal Fest, ainda com Messiah Marcolin como frontman; a segunda, em 2016, tinha Mats Levén como vocalista, e passou por três cidades), e a primeira vez do vocalista Johan Längquist por aqui. Johan, que gravou o clássico álbum de estreia da banda, “Epicus Doomicos Metalicus” de 1986, retornou à banda em 2018, que desde então lançou dois álbuns, “The Door to Doom” e “Sweet Evil Sun”.
Neste sábado, porém, só clássicos foram executados dentre os três primeiros álbuns – “Epicus Doomicos Metalicus”, “Nightfall” e “Ancient Dreams” – e seus riffs arrastados e pesados, somados à interpretação de Johan, agradaram em cheio quem estava no Allianz Parque, seja fã da banda ou quem não a conhecia.
Leif Edling, baixista e membro fundador, foi até o microfone agradecer à plateia e dizer que cada minuto da viagem longa e dolorosa de Estocolmo até São Paulo valeu a pena (o baixista não costuma viajar com a banda em longas turnês ou percursos, tanto que não veio para o Brasil em 2016). Talvez, por conta da viagem, ao anunciar a música mais antiga composta, estava anunciando erroneamente “Dark are the Veils of Death”, mas foi sinalizado por um fã antes de completar, e corrigiu, anunciando “Under the Oak”.
O guitarrista Lars Johansson não veio à America do Sul com a banda, e foi substituido por Fredrik Åkesson, do Opeth, que cumpriu bem seu papel, fazendo dupla com outro membro fundador, Mappe Björkman, nas seis cordas. Lá atrás, Jan Lindh cadenciava tudo com sua bateria.
“Mirror Mirror”, “Bewitched”, “Crystal Ball” e a derradeira “Solitude” foram outros destaques da apresentação do Candlemass, que agradou o público presente. Esperamos que a banda não demore a voltar à nossa terra, e que retorne com um show completo.
Set-list
Mirror Mirror
Bewitched
Under the Oak
Dark Are the Veils of Death
Crystal Ball
The Well of Souls
A Sorcerer’s Pledge
Solitude
Helloween
A essa altura da tarde, o estádio já estava completamente lotado. Na pista, não se via mais espaços. Afinal, uma das bandas mais conhecidas e esperadas do festival iria tocar. Não era a primeira vez que o Helloween tocaria com sua atual formação (três guitarras e dois vocalistas), já que estiveram por aqui em duas turnês – 2017 e 2022 – e um festival, mas a expectativa era grande.
O pano que fica à frente do palco, já tradicionalmente nos shows da banda, não caiu ao começar o show, e a estrutura teve que ser baixada para que fosse retirado manualmente, enquanto a banda já executava “Dr. Stein”. Ali revelou-se o belíssimo telão com projeções relacionadas à banda e a bateria de Dani Löble, envolta em uma abóbora gigante.
“Eagle Fly Free” foi a seguinte, apenas com Michael Kiske, com seu refrão cantado a plenos pulmões pela plateia, com as guitarras dobradas (ou agora triplicadas) de Michael Weikath, Kain Hansen e Sascha Gerstner, e o solo de baixo marcante de Markus Grosskopf. Não faltaram músicas da fase Andi Deris, como as tradicionais “Power” e “Forever and One (Neverland)” do álbum “The time of the Oath”, e “If I could Fly” do “Dark Ride”. A fase old school também foi lembrada, com Kai Hansen comandando os vocais em “Ride the Sky”, tocada parcialmente, e “Heavy Metal (Is the Law)” – ambas o álbum de estreia, “Walls of Jericho”. Ao final da canção, disse que os brasileiros eram, em bom português, “picas das galáxias”.
Do mais recente álbum, “Helloween”, de 2021, foi executada “Best Time”. Na sequência, Kai deu início – com os tradicionais acordes que remetem à “In the hall of the Mountain King” do compositor Edvard Grieg – à “Future World”, do “Keeper of the Seven Keys pt. 1”. E “I want out”, com a tradicional interação entre os cantores e plateia e as bolas cor de…abóbora… jogadas pelo estádio, deram números finais à apresentação dos alemães.
Set-list
Dr. Stein
Eagle Fly Free
Power Ride the Sky (primeira parte apenas)
Heavy Metal (Is the Law)
Forever and One (Neverland)
If I Could Fly
Solo de bateria – Dani Löble
Best Time
Future World
I Want Out
Um fato muito bacana, que não posso deixar de mencionar: além vermos fãs de todas as idades para curtir o festival, vimos muitos pais ou mães com seus filhos (desde adolescentes até crianças de cinco anos aproximadamente), ou famílias inteiras vindo prestigiar o festival.
Deep Purple
A partir de agora, o nível sobe um pouco mais, pois tratam-se de bandas que estão na estrada há cerca de cinquenta anos, fazendo jus ao nome do festival. A primeira delas, a subir ao palco às 16h30, foi o Deep Purple.
A banda inglesa fez um dos melhores shows da noite. É incrível vermos Ian Gillan, Ian Paice e Roger Glover juntos, no palco, após tantos anos. A banda está na ativa desde 1968, e o baterista Paice esteve em todas as formações – ou como são popularmente conhecidas, “Marks” – do quinteto britânico. Foi ele quem deu início aos trabalhos com a empolgante “Highway Star”, seguida de “Pictures of Home” músicas do clássico álbum “Machine Head”, sexto álbum de estúdio da carreira da banda, que completou cinquenta anos de seu lançamento em 2022. E este álbum foi privilegiado no set-list deste dia, sendo executado quase que na íntegra.
Músicas mais recentes, como “No Need to Shout” e a ótima “Uncommon Man” foram incluidas na apresentação. Entre elas, fomos apresentados ao “jovem” guitarrista norte-irlandês Simon McBride – que substituiu o virtuoso Steve Morse nas seis cordas – através de seu solo. Simon, quando jovem, fez parte da banda de NWOBHM Sweet Savage, com quem gravou dois álbuns nos anos 1990.
Neste fim de tarde, ainda fomos presenteados com a belíssima “When a Blind Man Cries”, uma das mais belas composições do Purple, e com “Anya”, música bastante popular nas rádios rock de nosso país, integrante do álbum “The Battle Rages On” – o último com Ritchie Blackmore tocando guitarra.
Na sequência, todos saíram do palco, exceto o tecladista Don Airey, que nos privilegiou com um solo que contou com referências desde “Mr. Crowley” – música do primeiro álbum solo de Ozzy Osbourne, “Blizzard of Ozz”, época em que Don fazia parte da banda do Madman – e de temas tipicamente brasileiros, como “Sampa”, “Brasileirinho”, “Tico-tico no fubá” e “Brasil meu Brasil brasileiro”, temas que arrancaram aplausos dos presentes. Momento que, obviamente, antecedeu outra grande música da banda, “Perfect Strangers”. Outros grandes foram o estádio cantando o refrão de “Smoke on the Water” e o primeiro show de luzes de celulares da noite durante “Black Night”, que encerrou a apresentação destes senhores em grande estilo.
Set-list
Highway Star
Pictures of Home
No Need to Shout
Solo de guitarra – Simon McBride
Uncommon Man
Lazy
When a Blind Man Cries
Anya
Solo de teclado – Don Airey
Perfect Strangers
Space Truckin’
Smoke on the Water
Hush (cover – Joe South)
Solo de baixo – Roger Glover
Black Night
Scorpions
Sem introdução ou outras delongas, os alemães do Scorpions iniciaram com o tanque cheio de gás sua apresentação, quando a noite já havia caído em São Paulo. Klaus Meine (voz), Rudolph Schenker (guitarra), Mattias Jabs (guitarra), Pawel Maciwoda (baixo) e Mikkey Dee (bateria) e suas apresentações, sempre empolgantes, deixam isso claro. Neste dia não foi diferente.
Assim como na última visita à cidade em 2019, O repertório contou músicas mais antigas, como as tradicionais “Make it Real”, “The Zoo” ou a instrumental “Coast to Coast”, além de músicas do mais recente e ótimo álbum “Rock Believer” (lançado em 2022), como “Seventh Sun” e “Peacemaker”.
Um grande momento da apresentação – e onde pude presenciar novamente os celulares – foi durante a canção “Send me an Angel”, do álbum “Crazy World”. Também deste álbum, tivemos na sequência a belíssima “Wind of Change”, que Klaus Meine dedicou à Ucrânia. Curiosamente, esta canção – que faz alusão a abertura política e fim da Guerra Fria na época que foi composta – teve seus versos iniciais alterados:
“I follow the Moskva / Down to Gorky Park / Listening to the wind of change”
deram lugar a:
“Now listen to my heart / It says Ukrainia / Waiting for the wind to change”
Tivemos um solo também iniciado pelo baixista polonês Pawel Maciwoda seguido pelo baterista sueco Mikkey Dee (ex-Motörhead), que é um monstro na bateria desde os tempos em que tocava na banda de King Diamond. Após seu solo impecável, a sirene tocou, anunciando “Blackout”.
Não faltaram músicas do bem-sucedido “Love at First Sting”, que contou com “Big City Nights”, que encerrou a parte regular do show, e as tradicionais canções executadas no bis, os hits “Still Loving You” e “Rock you like a Hurricane”.
Set-list
Gas in the Tank
Make It Real
The Zoo
Coast to Coast
Seventh Sun
Peacemaker
Bad Boys Running Wild
Delicate Dance
Send Me an Angel
Wind of Change (dedicada à Ucrânia)
Tease Me Please Me
Rock Believer
New Vision (Solo de baixo + bateria)
Blackout
Big City Nights
Still Loving You
Rock You Like a Hurricane
Kiss
“You wanted the best, you got the best!”. Assim foi anunciada a última (será??) apresentação do Kiss na Terra Da Garoa.
O espetáculo (único adjetivo possível para descrever a apresentação do quarteto mascarado) começou com “Detroit Rock City” e com o trio Paul Stanley, Gene Simmons e Tommy Thayer descendo de uma plataforma no topo do palco, e os primeiros efeitos pirotécnicos. “Shout it out loud”, “Deuce” e “War Machine”, além de “Heaven’s on Fire”, da fase sem máscaras da banda (do álbum “Animalize”). “I love it loud”, outra canção do álbum “Creatures of the Night”, além da participação do público, teve Gene cuspindo fogo ao seu final. Uma particularidade deste que vos escreve: uma das lembranças mais longínquas que tenho em se tratando de rock é desta música, e de imagens do show do Kiss quando esteve em nosso país em 1983, através de reportagens da época.
Do álbum “Sonic Boom”, foi executada “Say Yeah”, além da não tão recente “Psycho Circus”, do álbum homônimo que marcou o retorno da formação original da banda e de sua fase mascarada.
Os solos tradicionais também rolaram. Primeiramente com os “jovens” Tommy Thayer e com Eric Singer. Mas o solo mais esperado, com certeza, era o de Gene Simmons, onde ele incorpora completamente seu personagem “The Demon”, cuspindo sangue, dando sequência a “God of Thunder”. Na sequência, Paul fez uma viagem aérea do palco para uma plataforma colocada no centro da pista, de onde cantou “Love Gun” e “I was made for lovin’ you”. E para encerrar a parte regular do espetáculo, “Black Diamond” foi cantada por Eric Singer.
Para o bis, foi possível ver um piano à frente do palco, e com ele, Eric apresentou “Beth”, música do álbum “Destroyer” originalmente cantada pelo baterista Peter Chris. É interessante mencionar que não só Eric, que tem “cantor” em seu sobrenome, canta muito bem, mas Tommy, que em outras turnês ficou à frente dos vocais, também.
A festa estava chegando ao final, e para concluí-la, após “Dou you love me”, tivemos o hit “Rock and Roll All Nite” e sua chuva de papel picado e explosões para encerrar, em grande estilo, mais uma apresentação do quarteto, nesta que deve ter sido a última oportunidade para os fãs vê-los ao vivo.
Set-list
Detroit Rock City
Shout It Out Loud
Deuce
War Machine
Heaven’s on Fire
I Love It Loud
Say Yeah
Cold Gin
Solo de guitarra – Tommy Thayer
Lick It Up
Makin’ Love
Calling Dr. Love
Psycho Circus
Solo de bateria – Eric Singer
100,000 Years (parcialmente)
Solo de baixo – Gene Simmons (cuspindo sangue)
God of Thunder
Love Gun
I Was Made for Lovin’ You
Black Diamond (Eric Singer cantando)
Beth (Eric Singer cantando e ao piano)
Do You Love Me
Rock and Roll All Nite
O saldo final desta sétima edição do Monsters of Rock foi positivo: apresentações ocorrendo dentro do horário programado (terminando em um horário decente para que aqueles que dependem de transporte público possam voltar tranquilos para suas casas), bebidas e comidas disponíveis, e o que é mais legal e que volto a mencionar, pessoas de todas as idades, de todas as gerações comemorando e se emocionando com os monstros que se apresentaram neste 22 de abril.
E que venham as próximas edições!!!
(Agradecimentos: Catto Comunicação, Ricardo Matsukawa e Mercury Concerts)