Pain of Salvation. 29 de abril de 2018. Carioca Club, São Paulo, Brasil. Foto: Leandro Pena

Tentar explicar em palavras a experiência de ver uma banda ao vivo com tanta peculiaridade e complexidade no seu som e letras, deixa o redator aqui até perdido. Com os pés cravados entre as melhores bandas de metal progressivo do mundo, os suecos do Pain of Salvation felizmente diversificam a forma de fazer o mesmo som, sem medo de soar pop e de esteticamente flertar com o mainstream. O tempo só fez bem para eles e mesmo com as constantes mudança de formação seguem maduros evoluindo e se mutando a cada ano que passa.

Pela quinta vez no país, a banda desta vez divulgava seu último disco, “In The Passing Light of Day”, de 2017, e contando com o retorno do guitarrista Johan Hellgren após um barraco envolvendo o líder da banda e o ex-guitarrista Ragnar Zolberg envoltos em acusações e textos gigantescos postados no Facebook. Como o público não tem nada a ver com o problema, bola para frente porque a casa cheia era o prenúncio de mais uma bela apresentação em terras brazucas.

Com mais de 25 anos de estrada, os suecos não se prenderam ao passado e usaram o lançamento como base do setlist apresentado. As três primeiras músicas contemplaram o disco novo abrindo com “Full Throttle Tribe” e seus quase nove minutos que vão crescendo de intensidade chegando em um final insano cheio de quebradeiras non-sense e pesadas que deixam a cabeça bagunçada. “Reasons” tem um jogo de vozes ao melhor estilo Gente Giant trava-língua, e “Meaningless” – com um jogo de luz sincronizado com as batidas da música dando um efeito visual incrível. Mesmo sendo músicas novas, a adesão é bem alta junto ao público que sabe cantar tudo do começo ao fim.

Pain of Salvation. 29 de abril de 2018. Carioca Club, São Paulo, Brasil. Foto: Leandro Pena

A banda começou a ficar conhecida no Brasil com o disco “Remedy Lane” de 2002 e dele veio a dobradinha “Rope Ends” e “Beyond the Pale” comemoradas como gol em final de campeonato pelo público que foi conduzido por um simpático Daniel Gildenlöw que estava inspirado, tocando e cantando muito. O tecladista Daniel “D2” Karlsson e o baixista Gustaf Hielm fazem muito bem uma base segura para que os guitarristas brilhem e, de volta a banda, o guitarrista Johan Hellgren (que tocou em todos os grandes discos dos anos 2000 lançados pelo Pain of Salvation). Separaram uma parte do repertório para tocar “Kingdom of Loss” do “Scarsick” de 2007 , “Linoleum” do “Road Salt One” de 2010 e por fim “Ashes”, do disco “The Perfect Element, Part I”, de 2000. Daniel anuncia que a noite contará com mais duas músicas e como os músicos são humanos e também erram, vimos uma cena curiosa. Após uma primeira entrada frustada na música “Silent Gold”, eles tiveram que começar tudo de novo, já na segunda tentativa executaram a canção perfeitamente até o fim. A faixa que abre o disco novo, “On a Tuesday”, foi escolhida para fechar o setlist regular do show.

Após um pegueno break, apagam-se as luzes e um tecladinho conduz a banda para dentro do palco, só que desta vez Daniel Gildenlöw aparece sem guitarra somente com o microfone na mão. A ausência do instrumento facilitou para o cantor ir até bem perto do público para cantar “Inside” – do disco “One Hour by the Concrete Lake” de 1998 – junto com a galera de São Paulo num clima bem intimista. O melhor ficou para o encerramento.

Guarde a imagem de um final apoteótico e emocionante onde todos os presentes dentro do Carioca Club a pedido da banda ligaram as lanternas do celular, apontaram o feixe de luz para o palco e ficaram balançando de um lado para o outro criando um clima estelar enquanto a banda tocava. Este foi o final da “In The Passing Light of Day” com um show de interação público/banda, deixando visível na cara dos fãs e dos músicos a satisfação de terem compartilhados uma incrível noite juntos.

Pain of Salvation. 29 de abril de 2018. Carioca Club, São Paulo, Brasil. Foto: Leandro Pena

A qualidade do repertório atual garantiu o sucesso da apresentação com seis músicas novas. O material lançado recentemente soa mais alternativo mas sem perder a complexidade do prog metal de outrora. Destaque para o baterista Léo Margarit que destruiu seu instrumento com ritmos doidos e passagens inesperadas que tiram o fôlego deixando o público desnorteado, mas quem brilha mesmo é o líder da banda Daniel Gildenlöw que toca e canta derramando todo sentimento contido em seu coração e na sua alma. A coisa é tão passional que em algumas passagens parece que ele vai chorar. Essa relação emocional acaba sendo o fator com que sua base de fãs sigam a banda tendo suas apresentações no país sempre cheias. No mundo heavy metal onde ser durão e mal é a lei, o Pain of Salvation nada de braçada contra essa maré e segue crescendo cada vez mais rumo a um som mais acessível e mais popular.

Agradecimentos a toda equipe da TC7 Produções e Carioca Club pelo grande evento.

Setlist
Full Throttle Tribe
Reasons
Meaningless
Linoleum
Rope Ends
Beyond the Pale
Kingdom of Loss
Inside Out
Ashes
Silent Gold
On a Tuesday
Encore
Inside
In The Passing Light of Day

Confira aqui a galeria de fotos desse show.

Pain of Salvation. 29 de abril de 2018. Carioca Club, São Paulo, Brasil. Foto: Leandro Pena