Noite de gala do hard rock e heavy metal pra fã nenhum do estilo botar defeito. O sábado de frio teve um Tom Brasil quase lotado. As duas bandas americanas fizeram a cabeça dos presentes com um desfile de hits.
Pela quarta vez no Brasil, O Mr. Big trouxe na bagagem seu novo disco “Defying Gravity” de 2017, enquanto Geoff Tate, ex-vocalista do Queensrÿche, tocou o disco “Operation: Mindcrime” na íntegra. Apesar de ter vindo ao Brasil com sua ex-banda, Geoff nunca apresentou o álbum do começo ao fim em nossas terras.
Ao apagar das luzes e começar da intro I Remember Now, voltamos ao ano de 1988 quando o mundo pode colocar a agulha na vitrola e ouvir esta obra-prima pela primeira vez. O disco foi executado de cabo-a-rabo de forma impecável, com todas as vinhetas, efeitos sonoros e passagens iguais ao original. Apontado como um dos grandes vocalistas da história do heavy metal, Geoff Tate é realmente um grande frontman que nasceu para estar no palco. Sua presença de palco logo contagiou o público que em poucas músicas já estava em suas mãos. É até sacanagem fazer a resenha desse show. Revolution Calling, Speak, Spread the disease, Needle Lies, Breaking The Silence, I don’t Believe in Love e Eyes of a Stranger podem ser consideradas umas das composições mais inspiradas da carreira do Queensrÿche. Quem é da época do vinil se acostumou a ouvir o disco na ordem das faixas e ver isso ao vivo foi uma experiência incrível.
Para quem estava com medo de ver um show falido, se surpreendeu com uma grande apresentação digna da qualidade do álbum. O último show de Geoff em São Paulo foi no Monsters of Rock de 2013 e não deixou saudades. Na época, ele estava no meio da briga judicial com seus ex-companheiros de Queenrÿche e veio para cá com um catadão de bons músicos mas a banda soava mal ensaiada. O show foi meio bizarro.
Desta vez a banda de apoio, somente com músicos brasileiros, fez o trabalho de casa perfeitamente. Felipe Andreoli no baixo, Léo Mancini e Dalton Santos nas guitarras, Edu Cominato na bateria e Bruno Sá nos teclados e voz foram impecáveis. O show ainda contou com a participação da cantora Marília Zangrandi como Sister Mary. Deu para perceber o empenho dos músicos em tocar o disco com os mesmos timbres e notas do original. Ao final, ainda tocaram o mega hit Silent Lucidity.
Com o público já aquecido, era a hora da atração principal da noite.
Após 2 anos, o Mr. Big voltava pela terceira vez ao palco do Tom Brasil para cravar de vez o relacionamento amoroso com o público brasileiro. O maior show da carreira da banda foi em 1994 no estado de São Paulo, na cidade de Santos em um extinto festival para uma plateia de 500.000 pessoas. Já mais velhos e com menos fama, os americanos mostraram que ainda estão no auge da forma tocando melhor do que nunca.
O show de virtuosismo começou já na intro da Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Eletric Drill Song) com o baixo e a guitarra fritando. O que falar dessa linha de frente: Billy Sheehan e Paul Gilbert? Jogo ganho. O que os dois tocam não é brincadeira. A música do álbum “Lean Into It” de 1991 foi uma boa escolha para começar o show. Na sequência, duas do “What if…”, de 2011, álbum que marcou a volta da banda. American Beauty e Undertow caíram na graça do público brasileiro. Vi muita gente cantando junto.
Mestres do chamado “Rock de Arena” o Mr. Big tem um caminhão de hits: Just Take My Heart, Green-tinted Sixties Mind e Take Cover foram as próximas.
Destaque para o pequeno grande vocalista Eric Martin. Poucas vezes citado dentre os grandes vocalistas do Hard Rock, ele segue entregando ótimos shows. Sempre simpático, agradeceu muito a recepção e questionou todos se não estava faltando alguma coisa. Claro que estava, um kit de percursão foi montado ao lado da bateria e do fundo do palco surgiu Pat Torpey, ex-integrante da banda. Em 2014, o músico foi diagnosticado com Mal de Parkinson e desde então a banda continua levando ele em todos os shows pelo mundo. Alive and Kick’n!!!! Que história!! Em um mundo cheio de interesse e ganância, o Mr. Big traz para o palco um músico, que apesar de debilitado, continua cantando e tocando numa boa. Emocionante a homenagem que a banda faz ao músico que contribuiu para o sucesso do grupo. Como Pat não consegue mais tocar em alto nível, o músico Matt Starr assumiu as baquetas do grupo e não deixou a peteca cair. A música Take Cover, do disco “Hey Man”, de 1996, tem uma das linhas de bateria mais emblemáticas que foi criada por Pat Torpey. Sonzaço!
Pausa para o solo de guitarra do Paul Gilbert. Pela segunda vez no ano na cidade (a primeira você confere aqui), o músico mostrou porque é um dos guitarristas mais técnicos e criativos dos últimos 30 anos. Virtuosismo não é masturbação, é recurso. Tem momentos e momentos para ser ultra técnico, até com furadeira elétrica ele tocou. Ele sabe dosar muito bem esses dois lados. Solos nem sempre são bem recebidos, e ele se saiu muito bem. Mas o grande destaque da banda é o baixista Billy Sheehan. O cara é um alien! Faz o impossível parecer fácil. Gênio, monstro e bruxo. Qualquer adjetivo fica pequeno perto de sua avançada técnica de tocar baixo. Ele toca de todos os jeitos possíveis e ainda extrai dos instrumentos sons inusitados, mas sempre melodiosos. Dentre os baixistas vivos, Billy está entre os melhores.
Como não poderiam ficar de fora, tivemos o momento love songs com os maiores hits da banda, as baladas To Be With You e o cover do Cat Stevens, Wild World. Estas foram as músicas mais cantadas durante a noite.
Do disco novo, tivemos somente duas músicas Everybody Needs a Little Trouble e a interessante 1992, onde eles cantam como foi duro ser a banda número um do mundo e ser jogado para escanteio pela gravadora. O refrão cantado a capela pelos membros da banda mostram que todos além de serem ótimos instrumentistas, ainda cantam muito.
O show foi encerrado com Baba O’Riley, cover do The Who, mantendo o astral do show lá no alto. É tanta música boa que um setlist de 21 músicas é até pecado. Poderia mudar o set inteiro e continuar sendo um baita show.
Ao final, sorrisos e satisfação da banda e público.
Set-list – Geoff Tate
(Operation: Mindcrime)
Anarchy-X
Revolution Calling
Operation: Mindcrime
Speak
Spreading The Disease
The Mission
Suite Sister Mary (participação especial: Marília Zangrandi)
The Needle Lies
Electric Requiem
Breaking The Silence
I Don’t Believe In Love
Waiting For 22
My Empty Room
Eyes Of A Stranger
bis
Silent Lucidity
Set-list – Mr. Big
Daddy, Brother, Lover, Little Boy
American Beauty
Undertow
Alive And Kickin’
Temperamental
Just Take My Heart
Take Cover
Green-Tinted Sixties Mind
Everybody Needs A Little Trouble
Price You Gotta Pay
Paul Gilbert Solo
Take A Walk
Wild World (Cat Stevens cover)
Rock & Roll Over
Around The World
Billy Sheehan Solo
Addicted To That Rush
bis
To Be With You
Colorado Bulldog
1992
Baba O’Riley (The Who cover)
Agradecimentos a equipe da Free Pass pelo evento.
Veja a galeria de fotos desses shows aqui.