O bom filho a casa torna. O dito popular não poderia se encaixar melhor ao já quase naturalizado brasileiro CJ Ramone, um dos membros remanescente da lendária banda punk de Nova York, Ramones. O músico retornou ao Brasil pela terceira vez, exatamente um ano após sua última tour por estes lados, para novamente apresentar um show energético, e absurdamente lotado para um terça-feira ordinária, chuvosa e comum na grande São Paulo, no mesmo Hangar 110, o nosso CBGB.
Para iniciar a festa, após uma década de estrada, cinco álbuns lançados, trocas de formação, e fazendo o lançamento do seu novo (e ótimo) álbum, Alive from the Graveyard, o Corazones Muertos fez a abertura da noite, aquecendo o ainda tímido público para a grande catarse da noite.
Sem deixar se intimidar, e com ares de headliner, o Corazones Muertos fez uma apresentação impecável, e bebendo de fontes como Hellacopters, Backyard Babies e Forgotten Boys (a banda conta, inclusive, com o ex-baterista dos “Garotos Esquecidos”, Flávio Cavichioli), os músicos colocaram o público para cantar seus refrões grudentos e banguear ao som de suas guitarras afiadas, comandadas a punhos de ferro pelo argentino Joe Klenner, conhecida figura rocker da noite paulistana.
Dando continuidade à noite, alheio a batalhas judiciais, troca de integrantes, indenizações e muita troca de farpas nas redes sociais entre o eterno garoto podre e ex-vocalista Mao e a atual formação da banda, uma instituição do street punk/oi! paulistano subiu ao palco. Com quase 30 anos de carreira, os Garotos Podres colocaram mais lenha nessa fogueira, e desfilaram hits e mais hits para um público que, apesar de jovem em sua grande maioria, recebeu calorosamente estes gigantes do underground. Tecnicamente, a banda correspondeu fielmente às suas gravações antológicas, Rock de Subúrbio arranca lágrima até do punk mais ranzinza. Mas ver o grupo sem seu vocalista original (apesar do novo vocalista, Gildo, ter uma ótima presença de palco, e possuir uma potência vocal invejável) soa como um cover deles mesmos.
A seguir, com a casa de shows lotada por completo e pulsando ansiedade por todos os lados, CJ Ramone subiu ao palco, acompanhado de seu velho boné dos NY (que viria a ser roubado mais tarde, por um fã empolgado), e acompanhado de outra lenda do punk rock mundial, Steve Soto (Adolescents, Agent Orange) iniciou sua apresentação. O grande público presente, imagino eu, aguardava por um show cover do Ramones, pois a recepção para as músicas da carreira solo de CJ eram absolutamente frias, mas quando uma música do Ramones era entoada após o mítico “1, 2, 3, 4”, a coisa virava final de Brasileirão.
E nesse ritmo esquenta/esfria seguiu o restante do show, desde a abertura, com a dobradinha Understand Me e What We Gonna Do Now, a Ramônica Judy is Punk, a bela homenagem aos eternos Ramones que já faleceram, com Three Angels, a balada e apaixonada You´re the Only One, Strenght to Endure, que já contava com os vocais de CJ Ramone em sua gravação original, assim como a absurda R.A.M.O.N.E.S, que também foi gravada pelo Motörhead. Houve tempo também para Glad to See You Go, cantada em uníssono pelo público, Blitzkrieg Bop, California Sun, e o bis com 53rd and 3rd, Commando e Psycho Therapy.
O público ia à loucura com os sons Ramônicos executados por CJ e sua trupe, deixando um clima nostálgico e festivo no ar, porém, parando para tomar uma cerveja ao som das composições solo do próprio baixista (que poderia incluir em seu set registros do Los Gusaños e do Bad Chopper, duas de suas ex-bandas que fizeram relativo sucesso por aqui nos anos 90). O ex-Ramone ficou sem muita chance de mostrar seu trabalho paralelo à icônica banda, executando músicas dos Ramones para ganhar a simpatia do público.
A banda que acompanha CJ dispensa comentários, com o mais fino punk rock californiano dos guitarristas do Adolescents, Steve Soto – possivelmente a figura mais simpática da velha escola do underground – e Dan Root, além do ex-baterista do D-Generation, Michael Wildwood.
Apesar de realizar um show político e tecnicamente perfeito, CJ ainda não consegue se desvincular de sua ex-banda, ficando à sombra daqueles que fizeram o mundo conhecer a importância de quatro jaquetas de couro, talvez pelo desgaste de se apresentar pelo terceiro ano seguido no Brasil. Porém, como diria João Gordo, “QUEM NÃO GOSTA DE RAMONES, BOM SUJEITO NÃO É”.
Texto e fotos por Danilo Souza
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Set list:
Understand Me
What We Gonna Do Now?
King Cobra
Judy Is a Punk (Ramones)
Ghost Ring
Low on Ammo
Carry Me Away
Last Chance To Dance
You’re the Only One
Three Angels
Won’t Stop Swinging
I Wanna Be Your Boyfriend (Ramones)
Glad to See You Go (Ramones)
Clusterfuck
One More Chance
Now I Know
Aloha Oe
Blitzkrieg Bop (Ramones)
Do You Wanna Dance? (Bobby Freeman cover)
California Sun (Joe Joves cover)
R.A.M.O.N.E.S. (Ramones/Motörhead cover)
53rd & 3rd (Ramones)
Commando (Ramones)
Psycho Therapy (Ramones)