Por: (Morticínio Produções)
Falar sobre a importância do Vulcano para o metal extremo nacional é chover no molhado. Após décadas de peso e fidelidade com o estilo, a banda se consolidou como um dos principais nomes brasileiros, além, é claro, de ter grande importância no resto do mundo.
Se hoje o Brasil é contemplado com centenas de bandas de Thrash, Death e Black Metal, muito disso se deve à desbravadores como Vulcano, Dorsal Atlântica, Sarcófago, etc. E por essa luta, todos esses ícones merecem ser reverenciados por bandas que beberam e ainda bebem dessas fontes.
“Simplicidade” é uma palavra que pode ser usada para descrever alguns pontos do novo álbum dos gigantes do Vulcano. A começar pela capa. Fundo preto com o desenho clássico da bruxa do Vulcano e o número 14 (em vermelho) em algarismo romano XIV, lembrando um hexagrama. Nem mesmo o logotipo da banda aparece.
Direto e reto, sem enrolações, XIV começa com a honestidade de sempre do Vulcano. A afinação padrão que a banda sempre usou é notável de cara. Abandonaram a afinação baixa adotada nos últimos dois álbuns e voltam com mais cara de Vulcano do que nunca. “Propaganda And Terror” inicia-se com um riff difícil de esquecer distribuído pelo lendário guitarrista e fundador da banda, Zhema Rodero e por Gerson Fajardo. O experiente Luiz Carlos destilando toda a agressividade proporcionada por suas cordas vocais em um vocal rasgado e ao mesmo tempo fácil de compreender.
O incansável Arthur Von Barbarian enfia o pé nos “portais do inferno” do Vulcano, abrindo The Tides of Melted Metal com uma percussão galopante e direta. A cozinha segue como sempre coesa e pesada. Essa faixa tem uma pegada clássica calcada no metal old school, quintal da banda.
Thunder Metal é a típica faixa que prova que o passar do tempo só faz bem ao Vulcano. Não tem como ouvir este disco e essa música em específico e ser saudosista (ao menos não de uma forma negativa). Velocidade e pegada não faltam por aqui. Os riffs, a cozinha e a linha vocal são todos flagrados acima do limite de velocidade. Piada ruim à parte, essa é mais uma prova de que é possível ser criativo sem abandonar suas raízes e influências. Destaco também o refrão muito bem composto e executado. O melhor refrão na opinião deste que vos escreve, marcante, com uma ótima pegada e um belo coro. Como diz a letra “pump my fist, the arms high”, dá pra se imaginar cantando essa música com os punhos cerrados e erguidos. Uma das melhores do álbum.
Necrophagy certamente irá agradar aos fãs de Slayer. Riffs que chegam a nos remeter aos disparados por Jeff Hanneman e Kerry King na fase do Reign In Blood. Obviamente que não estou falando de cópias ou qualquer coisa do tipo aqui. Semelhanças existem sempre, mas o Vulcano mesmo após tanto tempo na estrada sabe fornecer uma bela dose de criatividade em suas composições. Que excelente casamento entre base e solo há nesta música. Há também um quê de metal brasileiro perceptível em alguns trechos por aqui.
Em uma das primeiras audições deste novo trabalho, Thou Shalt Not Kill foi uma das que mais me chamou a atenção. É uma música mais cadenciada, com levadas compassadas. Mas, obviamente, a velocidade não pode ficar 100% de fora de uma música do Vulcano e como costumamos dizer por aqui, o velocímetro sobe consideravelmente. Título fácil de lembrar após uma única audição. A voz de Luiz Carlos berrando Thou Shalt Not Kill seguidamente fica retornando à sua mente quando você menos espera.
Paradise On Holocaust com um título polêmico é a faixa mais curta do álbum, com pouco mais de dois minutos e meio. Um refrão marcante com uma ótima levada, quebrando o tempo dos riffs metralhados sem misericórdia.
The Face of The Abyss possui um dos melhores trabalhos das cordas em conjunto, com uma preocupação notável com os solos das guitarras.
Em To Kill Or Die, a percussão se destaca novamente. O som começa com um pedal duplo comendo solto para logo, o restante da banda se juntar à desgraça sonora. Como funcionam bem essas pausas do instrumental para uma bela e audível virada na bateria. É como se alguém chamasse a sua atenção para o que vem a seguir. Zhema e Gerson se revezam em ótimos solos. Há também pausas da banda para o vocal se destacar com ódio cravado nas vibrações das cordas vocais de Luiz Carlos.
I’m Back Again fecha o álbum magistralmente, como já é de se esperar do Vulcano. Um álbum que não dá um minuto de descanso para nenhum headbanger. Uma veia thrash metal oitentista é facilmente notada nesta faixa.
Resumidamente, XIV é um prato cheio para fãs do metal old school, um álbum que passa a sensação de uma banda no auge de sua energia, ainda com muita lenha pra queimar. O ano está apenas começando, mas esse é um álbum que fatalmente figurará a lista de melhores álbuns do metal nacional de 2017.
Para ouvir o álbum na íntegra, clique no link: https://vulcanometal.bandcamp.com/album/xiv