Uma das coisas mais legais sobre a experiência que temos em shows é quando o público consegue ser tão presente que até se torna um elemento a mais durante a apresentação da banda no palco. Este foi o caso dos fãs de Turisas que foram até o Carioca Club no dia 16 de março, em São Paulo, para prestigiar a segunda noite de shows que marcou a primeira passagem dos finlandeses aqui no Brasil.
Turisas nasceu em 1997, inicialmente com o vocal Mathias “Warlord” Nygård e o guitarrista Jussi Wickström, mas o primeiro e aclamado CD, Battle Metal, foi lançado apenas em 2004, apresentando uma mistura de folk/power metal com elementos sinfônicos e poderosos vocais limpos/rasgados. Mesmo sendo referência dentro do gênero, a banda nunca tinha tocado no País, e para os fãs que acompanham os finlandeses há algum tempo, já era esperado que um show aqui fosse arrasador, até mesmo pelo próprio estilo intenso das apresentações ao vivo da banda, que combina com as músicas com temas inspirados em grandes batalhas e conquistas históricas, e que também narram exemplos de superação, coragem e motivação. Felizmente para esses fãs que esperaram por tanto tempo, todas as expectativas foram superadas.
Mesmo fazendo muito calor, muita gente apareceu por lá bem cedo e com a tradicional warpaint vermelha e preta que a banda usa nos shows. Outros fãs estavam até vestindo roupas de pele parecidas com as que os integrantes vestem no palco, e já do lado de fora dava para sentir aquele clima legal de quando vamos ver uma banda pela primeira vez.
Pouco tempo depois de a entrada ser liberada, como já virou “tradição” em alguns shows de bandas de folk metal, o grupo de demonstrações de combates Ordo Draconis Belli fez uma apresentação antes da banda de abertura, e empolgou o pessoal que já estava na frente do palco e o restante que ainda estava entrando durante o duelo.
Em seguida, a banda de folk metal brasuca Sigfadhir subiu no palco para abrir o show, apresentando músicas próprias e também uma inesperada cover de Falkenbach. Assim que eles deixaram o palco e o público estava quase todo dentro do local, não demorou muito para os integrantes do Turisas entrarem, tocando The March of the Varangian Guard, música que também abre o CD mais recente dos finlandeses: Stand Up and Fight. A reação do público foi instantânea, com um dos refrãos mais marcantes sendo cantado em uníssono e representando bem as cores que estavam presentes no rosto e nas camisetas de muitos fãs: “red as blood and black as night”.
A agitada In the Court of Jarisleif foi um dos pontos altos do show, e assim que ela terminou, as inconfundíveis primeiras notas de Five Hundred and One começaram a tocar, marcando uma agradável surpresa, já que essa música não tinha sido tocada em nenhum outro show da turnê na América Latina.
Enquanto o público fazia a sua parte, sem deixar nenhuma música passar batida e entrando no clima battle metal, a banda também mostrou o seu melhor no palco, tocando com muita energia e apresentando uma execução impecável, desde o excelente violinista Olli, que praticamente dominou o palco e foi um dos destaques do show, passando pelos integrantes “novos” da banda, que pareciam bastante empolgados (o baixista Jesper Anastasiadis e o baterista Jaakko Jakku) e até a incrível presença de palco e carisma do Warlord, que alternou muito bem entre os vocais rasgados e limpos e agitou muito durante todas as músicas. Ele também conversou e interagiu bastante com o público, inclusive “promovendo” um concurso entre as melhores cervejas brasileiras que ele havia trazido para o palco – concurso este que, no fim, foi vencido por uma marca que nem estava competindo.
Antes do bis, a banda sabiamente tocou os oito minutos de sua maior epopeia sinfônica: Miklagard Overture, visando proporcionar o “merecido” descanso para o público, que estava agitando o tempo todo. Mas aparentemente o pessoal não quis aproveitar muito e continuou cantando junto durante grande parte da música.
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Stand Up and Fight e Sahti-Waari abriram o bis, mas o Carioca tremeu mesmo com a dobradinha final: Battle Metal, que sempre será o hino da banda, e Rasputin, cover do grupo Boney M. e que foi exaustivamente pedida durante todo o show. Mesmo que a versão feita pelo Turisas seja muito divertida (e foi lançada como single em 2007), ainda acho que a banda poderia ter passado sem essa, já que eles possuem material suficiente para empolgar a plateia sem precisar de covers. Mas eles têm o costume de tocá-la ao vivo há um bom tempo e é inegável que as duas últimas músicas encerraram o show da melhor maneira possível: com todo mundo muito cansado, mas ainda pedindo mais.
Com músicas tão bem executadas e com um set list quase perfeito, não é fácil escolher os melhores momentos da noite, já que praticamente toda a discografia do Turisas funciona bem ao vivo e o repertório tocado foi bem variado, com músicas de todos os CDs. Mas foi extremamente gratificante assistir a apresentação de uma banda que muitos dizem exagerar no visual e na grandiosidade das músicas, mas que fez um show de altíssimo nível da forma mais simples possível: subindo no palco e entregando tudo o que o cada um dos integrantes tinha para oferecer. O tipo de evento que vale cada centavo.
Set list Turisas:
The March of the Varangian Guard
Take the Day!
To Holmgard and Beyond
The Great Escape
One More
In the Court of Jarisleif
Five Hundred and One
Hunting Pirates
Miklagard Overture
Bis
Stand Up and Fight
Sahti-Waari
Battle Metal
Rasputin (cover – Boney M.)