Paulo Jr e Andreas Kisser (Sepultura), Carlinhos Brown e Felipe Andreoli e Rafael Bittencourt (Angra). Foto: divulgação.

Texto por Leonardo Cantarelli

O carnaval é uma festa europeia, cristã e há muitos séculos é festejada. É um evento que tinha como objetivo anunciar a chegada da quaresma. As pessoas faziam extravagâncias, como embriagar-se com álcool e/ou orgias sexuais, antes de entrar no período de 40 dias de jejum até a chegada da Páscoa.

No Brasil, a festa ficou extremamente popular e famosa, onde foi inserido aspectos da nossa cultura, como os desfiles de escola de samba.

No exterior é praticamente impossível dissociar a imagem do brasileiro com o carnaval.

Paralelo a isso, nos anos 70 surgiu o heavy metal, e tempos depois, apareceram vários fãs no Brasil. Como um movimento revolucionário e contra o sistema, o headbanger sempre gostou de se diferenciar dos demais: escutando bandas impopulares, frequentando shows em bares desconhecido (onde só os rockeiros se sentem a vontade) e andando com roupas pretas, além dos cabelos compridos. Algo pertencente a uma cultura do movimento.

Inserido nesse cenário, é praticamente proibido frequentar carnaval.  É ‘cult’  dizer que odeia carnaval e todas as músicas que tocam na festa.  Ser visto em uma festa carnavalesca é igual flagrar um fã de Black metal em um culto evangélico. E não adianta dar explicações. Não há perdão.

Entretanto, o Heavy Metal assim como outros estilos, tem as suas raízes. A principal é o rock. E o rock veio de fãs de blues e jazz e se ‘alimentou’ de outras vertentes também.

Para um estilo sobreviver é necessário inovação e influências. Para se tornar um bom músico, é necessário ter conhecimento de vários estilos.

Ao longo dos anos foi comum surgirem  bandas que faziam metal com música folk  e também com influências da cultura nórdica (conhecido popularmente como viking metal).

No Brasil, algumas bandas resolveram quebrar o tabu e misturar o metal com sonoridades típicas do nosso País, como o samba. Houve grupos que mesclaram metal com sons da cultura indígena e alguns headbangers até subiram em trio elétrico, causando revolta nos mais radicais.

Aproveitando o período de folia, o Portal do Inferno traz uma lista de bandas que resolveram arriscar-se na inovação e misturaram música pesada com o samba.  Há nomes famosos como Sepultura e Angra e também um bloco de carnaval com a temática Iron Maiden.  Por fim, há uma entrevista exclusiva com Marcus D’Angelo, vocalista e guitarrista do Claustrofobia sobre a música Nota 6.66.

Confira:

Sepultura no Carnaval da Bahia-2016:

A primeira vez que o Sepultura usou ritmos brasileiros em suas músicas, foi no Chaos A.D. (1993), nas músicas Kaiowas e Chaos B.C. (esta, em uma versão do cd lançada em 1996). Entretanto, foi no Roots (1996), que o Sepultura de fato, ‘mergulhou’ fundo nas raízes brasileiras. Na ocasião, o músico baiano Carlinhos Brown foi o convidado especial e gravou a música Ratamahatta.

20 anos depois, a banda mineira estava em Salvador/BA (no coração do carnaval brasileiro) tocando em um trio elétrico a música Roots juntamente com Carlinhos Brown.

Soulfly

Ainda na ‘linha Sepultura’, o vocalista Max Cavalera quando deixou o grupo, formou o Soulfly e em seu primeiro álbum (que leva o mesmo nome da banda)  lançou músicas com sons brasileiros como ‘Tribe’. Ainda há o cover de Umbabarauma, que originalmente é de Jorge Ben Jor, um dos nomes mais famosos do samba.

Confira:

Angra

O Angra é, possivelmente, uma das bandas de heavy metal brasileiro que mais colocou influências regionais em suas canções. O álbum Holy Land é um dos mais apreciados do grupo paulistano, principalmente no exterior.

A temática do álbum lançado em 1996 é sobre o descobrimento do Brasil e seus primeiros anos.  Em algumas canções, como The Shaman, se nota bem o lado do batuque que ficou bem caracterizado como som brasileiro.

Entretanto, o grupo paulistano, nunca teve medo de misturar os estilos e já gravou música com a cantora Sandy , já fez clipe da música ‘Pra frente Brasil’ que foi tema da Seleção Brasileira na Copa de 1970 e também gravou ‘Chega de Saudade’, de autoria de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Essa versão foi gravada em Paris.

Confira:

Claustrofobia- CD:Peste

O sexto álbum de estúdio do Claustrofobia, intitulado Peste (2011), mostra músicas que mesclam o thrash/death com o samba, inclusive de carnaval.

Um dos destaques é a música ‘Bastardos do Brasil`, onde o grupo de Leme/SP, faz o tradicional thrash/death, mas coloca na introdução, um samba de marchinha já antecipando a temática explorada na letra: o caos e exploração do brasileiro pelo sistema capitalista .

Em seguida vem a instrumental ‘Nota 6.66’, onde se explora mais o lado sambista e  imagina a banda em um desfile em alguma avenida de cidade grande do País.

“A gente tinha um estúdio em São Paulo-SP. Várias bandas ensaiavam. Uma delas era o Batuque de Corda que faz um samba raiz. Éramos amigos dos caras desde a infância. Jogávamos bola na rua e estávamos sempre brincando. A gente sempre curtiu samba, mas esse samba de estádio de futebol, com uma batida agressiva. Parecido com o que há nas escolas de samba. Nem tanto as músicas, mas mais as batidas. Meus pais tocavam isso no churrasco e a gente curtia muito. O Batuque de Corda fazia vários breaks. Uma vez o Caio (D’Angelo, baterista do Claustrofobia) estava lá com o meu outro irmão, o Bruno (D’Angelo, empresário da banda),  vendo o ensaio deles, ouviram e pediram para tocarem de novo e gravarem. Eles aceitaram. Cheguei depois, escutei a gravação e achei muito legal. No dia seguinte, liguei de novo o som gravado, peguei o breque e tentei por o som da guitarra em cima. Na hora que eu ouvi, achei sensacional! Mostrei para todos ali  da nossa banda e eles adoraram. A gente já havia ‘flertado’ com esse lance de misturar metal com estilos brasileiros. Não é uma coisa inédita, visto que outras bandas de metal já haviam feito isso. Não foi algo inovador, mas a gente gostava e fizemos em uma linguagem que ninguém tinha feito. Foi uma trilha sonora: a alegria do brasileiro aliada a com a sua difícil realidade. Um povo usurpado pelo governo a vida inteira, trabalhando bastante, recebendo baixo salário e mesmo assim faz o seu churrasco, toma uma cachaça e com alegria. É a  pessoa tentando sobreviver nesse caos. Quando vimos o resultado, pensamos: temos que colocar no novo álbum. Tanto que  o nome é nota 6.66 que é uma metáfora às notas que os juízes dão às escolas de samba,” disse Marcus D’Angelo, em entrevista exclusiva ao Portal do Inferno, para esta matéria.

“Essa música hoje pode ser usada para trilha sonora de filme ou de propaganda. Começou por acaso, mas sempre curtimos e a música tem essa pegada brazuca que é uma identidade da banda”, emendou Marcus, que é vocalista, guitarrista e um dos fundadores do Claustrofobia.

Confira:

Huaska

A banda paulistana se denomina como Bossa-Metal.  O grupo fundado em 2002 tem composições próprias, mas regrava músicas de cantores como Caetano Veloso, Tom Jobim, dentre outros, colocando o peso do Heavy Metal.

A música escolhida é ‘O Trem das Onze’ de Adorinan Barbosa:

Carna Maiden:

A cidade de Paraibuna/SP, no Vale do Paraíba, abriga desde 2014, o Carna Maiden. Há um bloco de carnaval e uma banda tocando as músicas do grupo britânico, mas com pitadas de marchinhas de carnaval. A mistura fica interessante.No bloco, o tema das fantasia são camisas do Iron Maiden e temáticas com o Eddie (mascote da ‘Donzela`).

“Normalmente as pessoas que gostam da música e do estilo heavy metal se sentem deslocadas durante esta época do ano. Como faço parte de uma banda de rock, dei a ideia e chamei alguns amigos do samba para compor o bloco”, disse Emerson Silva, fundador do bloco, em entrevista ao G1, em 2015.

Confira: