No dia 11 de setembro de 1990, muito antes dos ataques terroristas a Nova York e época de euforia na economia norte-americana, o mundo da música vivia a proliferação das hair bands, a maioria maravilhosas. O Warrant, banda de Hollywood, vinha de um bem sucedido e ótimo debut, com os clássicos Big Talk, Down Boys e a balada arrasa-quarteirão Heaven. Devido ao sucesso e pressionados pela gravadora, compuseram como loucos e conseguiram se superar: Cherry Pie é um clássico do hard rock.
O álbum é o registro de uma banda no auge do entrosamento entre os músicos, visual aprimorado, composições inspiradas e muita disposição de tocar. Amparada por um vídeo esperto, estrelado pela futura esposa do vocalista Jani Lane, Bobbie Brown, a canção-título abre com tudo o álbum. Diz a lenda que foi composta em apenas 15 minutos e, ao contrário do que a letra sugere, não teria conotações sexuais e seria apenas simplesmente sobre… uma torta de cereja! Difícil acreditar…
A próxima canção é considerada por muitos (e por este autor também) a melhor composição da banda. Iniciada por um solo de bandolim tocada pelo irmão de Lane, Uncle Tom´s Cabin narra a crônica de dois jovens que sem querer testemunham o xerife da cidade desovando um corpo num lago e precisam fingir que não sabem de nada.
Depois deste petardo, chega a super balada I Saw Red, com a historia de um rapaz que vê a namorada com outro e por isso fica “vermelho de raiva”, que é mais ou menos o que a expressão quer dizer.
Daí em diante é só pedrada. Sure Feels Good to Me, Love in Stereo, passando pela balada Blind Faith e chegando ao bônus, uma hilária “homenagem” a Tipper Gore, então esposa de Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, contendo apenas palavrões ditos por Lane em shows. O motivo é provocar: a moça em questão fazia parte de um comitê moralista e conseguiu que, a partir dos anos 80, alguns álbuns trouxessem a etiqueta “Parental Advisory Lyrics”, um alerta aos pais de que ali havia letras sobre violência, sexo e outros temas considerados impróprios para adolescentes. O Ramones, aliás, tem uma música ótima chamada Censorshit também sobre Tipper, mas isso fica para outro post….
A única tristeza que se tem ao ouvir o álbum Cherry Pie é chegar a seu final e lembrar que nunca mais ouviremos aquela incrível voz de Lane em gravações inéditas. Um dos mais talentosos compositores das hair bands, dono de uma voz incrível e “referência” aqui no Glam Groupies, o vocalista nos deixou há pouco mais de dois anos, mais precisamente em 11 de agosto de 2011, e foi encontrado após uma bebedeira, sozinho, em um quarto de hotel em Los Angeles.
Era o triste fim solitário de um cantor que arrebatou plateias pelo mundo. Ele inclusive veio até São Paulo, em 1997, quando, mesmo fora do auge e em dois concertos acústicos da banda, encheu a extinta casa de shows Columbia com seu carisma.
Depois de Cherry Pie, o Warrant, ainda com Lane, lançou discos mais pesados, tentando embarcar na onda grunge, mas que sempre mantiveram músicas de qualidade. Lane saiu da banda e tentou ensaiar umas voltas, que acabaram não dando certo. Várias formações se seguiram, e hoje o Warrant está com os seus outros membros originais e o ex-vocalista do Lynch Mob, Robert Manson, tendo lançado um belo trabalho chamado Workaholic.
Porém, se você procura o Warrant da fase áurea, só com Jani Lane mesmo. E esse tempo não volta mais. Apenas nos resta “furar” o CD (ou estragar as MP3s) de Cherry Pie de tanto ouvir. E, relembrando a canção… “swing it”!
Texto por: Carlos Augusto Monteiro