Por: Fabiola Santini | Tradução: Renata Santos
Pelos fãs, para os fãs: quatro dias, quatro palcos (Ronnie James Dio [palco principal], Sophie Lancaster, New Blood and Jagermeister) e nada além de grandes momentos . É disso que se trata um dos mais prestigiados festivais do mundo, e que entrega o que promete com força total.
O primeiro dia finalmente começou, e enquanto o público chegava, o sol prometia um fim de semana livre de chuva. Quando os portões se abriram, a nona edição do Bloodstock Open Air teve início no palco Sophie Lancaster. Antes de se transformar em uma tenda de festas que viravam a noite, o palco coberto recebeu bandas como Motherload, Bull Riff Stampede, Oaf e Ravenage. Foi um ótimo aquecimento, apenas uma amostra do que estava por vir.
O Bloodstock Open Air, também chamado de BOA, mais uma vez proporcionou um conjunto de shows que precisamos ver antes de morrer, eventos ao vivo que alimentam a alma insaciável da comunidade metal. A organização dá uma atenção especial para as áreas de camping bem posicionadas, próximas ao portão principal, criando uma forte celebração e senso de comunidade (além disso, você conseguia chegar da sua barraca ao palco principal em dez minutos!). Para os mais ansiosos, o pacote VIP BOA’s Serpent’s Lair oferecia uma região de camping mais aberta e acesso a uma área restrita com praça de alimentação e bares. Ali, os fãs podiam dar uma pausa na maratona metal e aproveitar variedades de cervejas stouts e ales, como a Black Sabbath, Dizzy Blond e Stairway to Heaven, apenas para mencionar algumas.
As bandas circulavam o tempo todo pela área de imprensa, conversando e bebendo com os fãs entre as entrevistas, tudo parte da experiência. Com a colossal sequência de headliners dessa edição, King Diamond, Lamb of God e Slayer, o BOA 2013, sem dúvida, será lembrado por muito tempo. No entanto, o festival vai muito além da música: pelo terceiro ano consecutivo, a organização recebeu doações e vendeu camisetas para reverter a renda para a Teenage Cancer Trust.
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Sexta-feira, 9 de agosto
O segundo dia começou com um tempo ainda mais promissor e as apresentações de Earthtone 9, de Nottingham, e dos ícones do thrash metal norte-americano Death Angel. Enquanto o Earthtone 9 aquecia o público gradualmente, o Death Angel deu dois passos a frente com sua adrenalina explosiva. Com o seu sétimo álbum, The Dream Calls for Blood, que será lançado em breve, fica claro que o Death Angel está de volta aos circuitos de festivais em grande forma.
Depois do show do Ex Deo, o BOA recebeu seus primeiros ícones do black metal, os suecos do Dark Funeral, que fizeram uma das melhores apresentações do dia graças às estranhas interpretações de Stigmata e My Funeral. Neste momento, o público já estava pronto para receber a instituição grega do heavy metal, o Firewind. O guitarrista Gus G. e os demais integrantes agora são liderados pelo novo vocalista, Kelly Sundown Carpenter, que chegou após a saída de Apostolos “Apollo” Papathanasio.
De volta ao palco Sophie Lancaster, o Skiltron veio da Argentina e apresentou ao Reino Unido o seu distinto folk metal: tocando gaitas de foles e vestindo kilts, muitos escoceses que estavam na plateia foram à loucura. O Municipal Waste foi a próxima banda no palco principal e tudo se transformou, como de fato deve ser, em um caos, enquanto no palco New Blood, o Second Rate Angels chamou a atenção de um público bastante grande.
Os canadenses do Quebec do Voivod fizeram um show esplêndido, para dizer o mínimo, destacando sua dinâmica bem conhecida e cativante; os excepcionais vocais de Denis “Snake” Bélanger e os incríveis riffs do guitarrista Dan Mongrain deixaram a plateia entusiasmada. O repertório do Voivod foi perfeito para abrir o palco para o Accept.
Os suecos do Scar Symmetry fizeram um bom trabalho fechando o palco Sophie Lancaster com o seu metal progressivo de altíssimo nível. No entanto, não foi intenso o bastante para preparar o público para o último capítulo do dia: King Diamond. Ele alcançou o status de lenda e muito mais, e finalmente voltou ao Reino Unido. O posto de headliner foi mais do que merecido, mas parece, à primeira vista, que o show perdeu um pouco da grandeza e da pegada teatral, apesar da grande produção de luzes e das misteriosas cercas que separavam o cara de seu público. Ainda assim, graças aos vocais perturbadoramente agudos de King, as interpretações deslumbrantes em At The Graves e a execução de Come to the Sabbath, do Merciful Fate, esse show se transformou em algo que, certamente, será comentado por muito tempo.
Sábado, 10 de agosto
Com a atmosfera do festival evoluindo, as pessoas ficaram ansiosas por mais. No entanto, a tentativa do Stormbringer de acordar os primeiros fãs foi superada pelos britânicos do Beholder e pelos canadenses do Three Inches of Blood, que, neste ano, comemoraram os dez anos de sua primeira apresentação no Reino Unido e o vocalista Cam Pipes mostrou todo o seu orgulho e glória tocando Forest King e a clássica Tom Sawyer, do Rush, com fervor.
O Hell fez um show extremamente artístico; o palco principal se transformou em seu tradicional teatro assustador, decorado com um púlpito e gárgulas flamejantes. O líder David Bower fez um excelente trabalho executando, com muita precisão, faixas como The Oppressors e Save Us From THose Who Would Save Us, e que se tornaram ainda mais grandiosas com o show de fogos de artifício.
Unfathomable Ruination precedeu ferozmente o show do Sworn Amongst no palco Sophie Lancaster. Esta última é, sem dúvida, uma banda que deve ser acompanhada, em grande parte devido ao álbum que sucederá Severance, de 2010. A grande surpresa do dia do New Blood Stage foi a Gethika, mas, de volta ao palco principal, os canadenses do Kataklysm fizeram a sua melhor performance, em parte graças às batidas mais pesadas que o inferno do baterista Max Duhamel. Junto com os franceses do Gojira, o Kataklysm ficou entre os melhores shows do sábado.
O Gojira, como sabemos, é sempre capaz de conquistar seu público. O vocalista Joe Duplantier se desculpou por faltarem alguns equipamentos (embora poucas pessoas tenham percebido ou ligado para isso!), e o set passou por toda a carreira, em uma plenitude maravilhosa. O destaque do dia vai para a participação especial de Randy Blythe, do Lamb of God, na música Back Bone. Ver os dois vocalistas celebrando a antiga amizade com um abraço é emocionante e perturbador ao mesmo tempo.
Os suecos do Sabaton foram a sensação do dia, tocando para uma enorme plateia. Com uma “dieta” restrita de não falar palavrões, o vocalista Joakim Broden sabe como conquistar seus fãs: ele jogava uma lata de cerveja para o público a cada palavrão que falava. Para um show familiar e amigável, ele “acidentalmente” fala muito palavrão. Avantasia é o supergrupo de heavy/power metal idealizado pelo carismático Tobias Sammet, e eles tiveram a honra de abrir para o headliner mais aguardado. Entorpecido com o poderoso melódico do Avantasia, o público alcançou o estado de espírito do festival.
Um pouco antes da apresentação do Lamb of God, o anúncio de que os noruegueses do Emperor serão headliners do BOA 2014 foi como fogo em petróleo: o público explodiu de alegria. O Lamb of God foi a atração principal da noite: com um set list matador, a plateia estava ansiosa para dar as boas-vindas ao pelotão da Virginia mais uma vez. Randy Blythe surgiu no palco, feroz como um leão, pronto para detonar com Desolation. No entanto, foi Ghost Walking, do último CD, Resolution, que fez o show, de fato, ser incrível. Ela envolveu o público com metal puro, graças ao solo digno de quebrar a coluna executado por Mark Morton.
“Tivemos que interromper a nossa última turnê por causa de alguns problemas legais”, disse Blythe, referindo-se, é claro, ao infortúnio que a banda enfrenta na República Tcheca. Blythe lembrou a todos da trágica morte que ocorreu, a morte de “um fã como eu e vocês”. A plateia respondeu ovacionando e sendo solidária com o vocalista; os fãs quase quebraram as grades os separavam do palco (o show teve de ser interrompido duas vezes!), parecia uma turbina que não podia ser desligada. Ficou claro que o Lamb of God conseguiu de novo, encerrando o show com Black Label. É ótimo ver os caras de novo!
Domingo, 11 de agosto
O quarto e último dia, infelizmente, chegou muito rápido, e começou com os irlandeses do Gama Bomb, que acordaram o público bem na hora. Talvez tenha faltado no show algum elemento mais “cru”, mas não há como negar que eles sabem como manter público animado, e os próprios músicos acompanham a animação durante a apresentação. No palco Sophie Lancaster, as bandas Lifer e States of Panic elevaram o clima do dia.
Os norte-americanos do Whitechapel foram claramente posicionados entre os mais esperados de todo o BOA assim que pisaram no palco principal. O frontman Phil Bozeman foi o emblema das doses de cafeína e nicotina que abasteceram o festival. Faixas como I, Dementia e This Is Exile foram tocadas extremamente altas; o Whitechapel fez um show tão intenso que ficou impossível resistir ao moshpit e bangear. A temperatura subiu, momento perfeito para o Sacred Mother Tongue se apresentar, seguido dos ícones finlandeses do Amorphis e seu metal melódico cativante. Com o novo álbum Circle lançado, eles se firmaram como um dos melhores shows de todo o festival. Definitivamente, a futura turnê deles é imperdível, pois muitos desejaram que o show durasse mais.
Das frias paisagens da Finlândia para o sol escaldante da Califórnia, o Exodus, mais rápido e mais barulhento que o inferno, foi simplesmente fantástico. É incrível como após três décadas eles não perderam nada de sua velocidade e força e o show dessa noite foi uma prova viva disso. E das praias do thrash metal da Bay Area para a costa de Santa Barbara tomada pelo new metal, chegou a hora da fúria do DevilDriver. O show é incrível graças fogo indomável do vocalista Dez Farfara.
De volta ao palco Sophie Lancaster, o ícone austríaco do black metal Belphegor foi simplesmente incrível. O show se torna uma experiência única pela presença de palco do frontman Helmuth Lehner, que consegue ser intimidadora e intrigante. As luzes eram assustadoramente fracas e intensas, combinando e dando o clima perfeito para a execução de seus fortes hinos.
Outro grande show foi feito pelo Anthrax. Assim que começou a tocar TNT, do AC/DC, e eles tocaram o clássico In The Mad House, os moshpits começaram e tudo pareceu uma zona de guerra. Com o poderoso Slayer encerrando o último dia, não havia uma forma melhor de fechar o festival. Todos sentiram a falta do guitarrista e lenda Jeff Hanneman (substituído em turnê por Gary Holt), que faleceu em maio, mas seu espírito estava, e sempre estará, presente. Naquela noite veio a prova: clássicos como Angel of Death e Death Skin Mask são executados com a precisão habitual do Slayer e o seu compromisso de sempre saciar seus fãs leais.
Os norte-americanos do Dying Fetus tiveram a honra de fechar as cortinas do palco Sophie Lancaster. Enquanto o Slayer detonava com South of Heaven, o baterista do Dying Fetus Trey Willians atraía os fãs do outro lado da arena com sua pegada matadora. Os gritos de John Gallagher em From Womb to Waste, Kill Your Mother e Rape Your Dog lembraram a plateia o quanto essa banda ainda é incrível, o Dying Fetus conquistou mais uma vez fãs de longa data e novos admiradores.
Com o Slayer e o Dying Fetus se despedindo, o BOA 2013 chegou ao fim. Com sentimentos misturados de alegria e tristeza, a plateia foi lentamente dispersando. Alguns voltaram para o camping, outros paravam para uma última volta nos carrinhos de bate-bate ou para a última cerveja nos bares. O anúncio do grande retorno do Emperor já deixou as pessoas fazendo planos, assim como deveria ser. Em menos de um ano o Bloodstock voltará com fãs a tiracolo, prontos para relembrar a grandeza de 2013 e superá-la. Fique de olho no site do festival para grandes notícias.