Da escuridão profunda, fria e misteriosa da costa da finlandesa, uma nova banda nasceu para redefinir o significado de pós-black metal. Originário de Helsinki, o Woland foi fundado em 2010. Eles chamaram atenção pouco depois, quando lançaram um single intitulado Conquer All & Live Forever, em fevereiro de 2011, para o evento internacional Finnish Metal Expo. Desde então, o Woland esteve concentrado em compor para seu álbum de estreia, Hyperion, lançado em 24 de fevereiro no mundo todo pela renomada gravadora norueguesa Indie Recordings. O álbum conta com a participação de vários artistas nos vocais, como Geir Bratland (Dimmu Borgir), Mathias “Vreth” Lillmåns (Finntroll) e Janica Lönn (Black Sin Aeon).
O ano de 2014 começou a toda velocidade para o Woland com uma incrível apresentação na primeira edição do Blastfest, o festival de metal extremo que aconteceu em Vergen, Noruega, em fevereiro. Recentemente, a banda foi confirmada para a edição deste ano do Eindhoven Metal Meeting, que acontecerá nos dias 12 e 13 de dezembro, na Holanda. Eis o que o vocalista e membro fundador, W, tem para compartilhar sobre sua criação.
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Portal do Inferno: Muito tem se falado sobre o Woland desde o lançamento de seu impressionante álbum de estreia, Hyperion. Como você apresenta a banda para os futuros fãs?
W: Começamos tocando apenas eu e o guitarrista, alguns anos atrás. Escrevemos algumas músicas, apenas para tentar descobrir como seria o nosso som, qual estilo deveríamos desenvolver e como queríamos nos sentir com a nossa música. E, então, nós meio que construímos a banda em torno disso. E aqui estamos hoje, tocando na primeira edição do Blastfest, aqui em Bergen. Nosso baterista e baixista são músicos profissionais, eles estavam muito ocupados e, infelizmente, não conseguiram incluir esse show em suas agendas. Então, tivemos que substituir metade da banda, basicamente! Não tivemos muito tempo apra ensaiar com essa formação ao vivo, é algo novo para nos e será interessante ver como vai rolar. Eu acho que o público pode esperar versões levemente diferentes das músicas que tocaremos ao vivo, comparadas com o álbum, já que o baterista e o baixista têm suas próprias versões que vêm de suas próprias personalidades.
P.I.: Antes de abordarmos sobre o Hyperion, eu gostaria de começar falando sobre o Blastfest. Como você se sente apresentando o Woland a um público internacional? Há pessoas de toda a Europa e também do Brasil, Austrália, Estados Unidos e Canadá aqui.
W: Eu reparei na fila que havia muita gente que planejou a sua viagem à Noruega para este evento. Já estive na Noruega muitas vezes e também estive no Inferno, que é um festival com uma característica muito internacional também. Eu nunca toquei nele, estive lá como convidado, como parte do público (nota: o Woland foi acrescentado a Indie Recordins Club Night deste ano do Inferno Metal Festival). Na Finlândia, nós também temos um evento que pode ser comparado ao Blastfest e ao Inferno, o Tuska Open Air…
P.I.: O Tuska, claro! Que também é um festival muito conhecido em todo o mundo!
W: Sim! Eu toquei lá com a minha outra banda há alguns anos. Eu acho que não importa, de fato, de onde as pessoas vêm, já que eu sempre falo em inglês quando me vejo diante de uma plateia estrangeira, na esperança de que todos me entendam (risos!). É claro que o Blastfest é uma grande oportunidade para o Woland e estou muito contente de estar aqui! Estou na cena metal metade da minha vida, fazendo coisas bem underground, o que eu desenvolvi com o Woland é muito pessoal, o trabalho mais pessoal que eu já fiz.
P.I.: Eu tive a impressão, quando ouvi o Hyperion pela primeira vez, que soou muito pessoal mas, também, cheio de energia, que eu posso, facilmente, ver transformada ao vivo aqui no Blastfest. Como vocês se preparam para o show de hoje?
W: Para ser honesto, não temos muitos planos para nenhum dos nossos shows ao vivo. Nós não ensaiamos performances, nós ensaiamos as músicas, o tempo todo. Então, seremos apenas nós mesmos, tentaremos retratar os nossos sentimentos mais profundos. Não temos nenhuma coreografia planejada, nunca… eu estou preocupado e estive trabalhando sem parar nos últimos dois dias, estou muito cansado, mas seu que a energia surgirá assim que subirmos no palco. Há um fogo em nós que começará a queimar.
P.I.: Eu estou ansiosa pelo show! Vamos falar agora sobre o álbum de estreia, Hyperion. Eu o achei muito empolgante e um começo complexo para uma banda tão jovem. Como você descreveria a concepção dele?
W: Bem… foi um processo tanto difícil, como natural para nós, de forma que as duas primeiras músicas que decidimos incluir no disco, Conquer All e Live Forever, foram as duas primeiras músicas que escrevemos como uma banda. O som e o estilo das faixas foram adequados para nós, num primeiro momento, então decidimos seguir pelo mesmo caminho. Eu acho que foi um álbum desafiador no sentido de… gravamos no estúdio do nosso guitarrista, por isso demorou tanto, porque tínhamos muito tempo para realmente trabalhar nele. Ele me mandava uma música para ouvir em casa e, então, eu pedia para ele mudar alguma parte, ou adicionar um solo de guitarra e reorganizar alguma seção. O desafio para mim, como vocalista, foi descobrir uma nova forma de escrever as letras. Até mesmo a pronúncia das palavras conta, o que nós fazemos é tão cuidadoso e cada batida é tão precisa, todos os riffs são tão claros, que se você pronunciasse uma palavra levemente diferente, como o ritmo comparado com a guitarra ou com a bateria, tudo soaria errado. Então, eu também tive que arranjar todos os vocais de uma maneira muito precisa: foi muito desafiador mas, ao mesmo tempo, foi a música mais recompensadora que já fizemos, além do seu tempo.
P.I.: Seus vocais soam muito poderosos e ricos em definição ao longo do álbum. Você é treinado como vocalista?
W: Não…
P.I.: Acho que seria um pouco difícil recriar a mesma intensidade ao vivo.
W: Sim, é um pouco difícil e não apenas para os vocais. Nós temos sintetizadores no álbum, assim como efeitos e barulhos de fundo, então precisamos de algumas faixas de apoio, já que somos apenas quatro pessoas. Essas faixas nos ajudam com o som, dando a quantidade certa de magnitude. E eu tento fazer o mesmo com a minha voz, é difícil, é um grande esforço físico.
P.I.: No geral, a atmosfera de Hyperion é muito obscura. O que te inspirou fazer esse álbum, tanto no ponto de vista das letras quanto da música?
W: Eu sou o responsável pela maior parte das letras. Desde os anos 90 eu estou envolvido com essa cena underground e suja do black metal, realmente old school. Bem, sim, nós dois (nota: W e o guitarrista, LXIV) temos influências de bandas como o Mayhem. Então, queríamos o outro lado da mesma moeda e retratar não o lado destrutivo, violento e suicida do black metal. Queríamos retratar sua iluminação espiritual, algo como um modo luciferiano de pensar. O tipo de iluminação que te coloca em contato com o seu Deus interior. Uma das nossas maiores inspirações sempre foram filósofos como Nietzsche…
P.I.: Isso é exatamente o que eu senti, um aspecto nietzscheriano é bem perceptível em quase todas as faixas do álbum.
W: … sim… e também de Albert Camus, ele também percebeu que a essência da vida é o que está dentro de você, que é o que não foi roubado de você. Esse é o tema que focamos em desenvolver, tentando não idolatrar o passado, mas, ao invés disso, abraçar o futuro em um nível mais alto. É por isso que eu digo que o Woland não é uma banda de black metal, é uma banda de pós-black metal. Não usamos corpse paint, não usamos nenhum tipo de spikes, não estamos revisitando o tradicional som dos anos 90, tocamos uma versão moderna dele. Como eu disse antes, é o outro lado da moeda baseado em um satanismo luciferiano criativo ao invés de um satanismo destrutivo.
P.I.: Muito bem explicado, obrigada! E como você descreveria seu país de origem, a Finlândia?
W: Eu não vejo o Woland como uma banda finlandesa, apenas aconteceu de sermos da Finlândia. Eu acho que nada da nossa música representa o nosso país. Eu acho que nosso som é mais escandinavo que finlandês. É por isso que estávamos interessados em assinar com a Indie Recordings, eu conheço pessoalmente muitas das bandas que assinaram com ela, então eu sei o tipo de trabalho que a Indie promove, é por isso que eu estava tão interessado em trabalhar com eles. Felizmente, eles gostaram do álbum e aqui estamos!
P.I.: Podemos esperar uma turnê a partir desta performance de hoje?
W: Espero que sim, temos alguns planos em desenvolvimento e estamos trabalhando em algumas negociações, mas, hoje em dia, as coisas mudam tão rápido e tão facilmente o tempo todo. Apenas pense que já tivemos duas turnês canceladas…
P.I.: Três é sempre um número da sorte…
W: (risos!) sim! Eu não acho que vamos sair muito em turnê durante a primavera, temos algumas datas em festivais no verão. Basicamente, esperamos ter uma turnê europeia ou, até mesmo, algumas turnês europeias. Nesse momento, estamos conversando com algumas bandas para tentar arranjar alguma turnê em conjunto.
P.I.: Nos mantenha atualizados sobre o Woland!
W: É claro!
English version
From the deep darkness and the eerie cold of the Finnish shores, a new band was born to redefine the meaning of post black metal. Originally from Helsinki, Woland were founded in 2010. They caught the attention shortly after, when they released a double single called Conquer All & Live Forever in February 2011 for the international event Finnish Metal Expo. Since then, Woland have concentrated on writing their full length album Hyperion, which was released on February 24th worldwide via the well known Norwegian label Indie Recordings. The album also features additional vocal performances from artists like Geir Bratland (Dimmu Borgir), Mathias ‘Vreth’ Lillmåns (Finntroll) and Janica Lönn (Black Sun Aeon).
The year of 2014 started at full speed for Woland with a remarkable performance at the first ever edition of Blastfest, the extreme metal festival that took place in Bergen last February. The band also have been confirmed to play at the 2014 Eindhoven Metal Meeting, the ultimate, hardest metal festival that will take place at the well now Effenaar in Eindhoven, Netherlands, from 12 to 13 December. Here is what frontman and founding W member shares about his creation.
Portal do Inferno: There has been so much being talked about Woland since the recent release of your stunning debut album Hyperion. How would you introduce the band to future fans?
W: It was just me and the guitarist who started to play together, a couple of years back. We wrote a couple of songs, just to try out how we wanted to sound, what style we should develop and how we wanted to feel about our music. And then we kind of built the band around that. And here we are today, playing at the first edition of Blastfest here in Bergen. Unfortunately our drummer and bass player are professional musicians, they were so busy and could not fit this show in their schedule. So we had to replace half of the band basically! We didn’t have too much time to rehearse with this live line-up, it’s a new thing for us it will be interesting to see how it turns out. I think the audience can expect a slight different version of the songs that we will be playing live, compared to the album, as both drummer and bassist have their own versions which come from their own personality.
P.I.: Before we venture into Hyperion I would like to start talking about Blastfest. How do you feel about introducing Woland live to such an international audience? There are people from all over Europe and also from Brazil, Australia, USA and Canada.
W: I noticed on line that there were lot of people planning their travel to Norway for this event. I have visited Norway many times and I also attended Inferno which is also a very international festival. I have never played there, I have been there as a guest, as part of the audience. (NB: Woland were successfully added to the Indie Recordings club night at this year Inferno Metal Festival). In Finland we also have an event that can be compared to both Blastfest and Inferno, Tuska Open Air…
P.I.: Tuska of course, that is also a rather well known festival, all over the world!
W: Yes. I played there with my other band a couple of years ago. I think it does not really matter where people come from as I would always speak English if I found myself in front of a foreign audience, in the hope that everybody understood me (laughs!). Of course Blastfest is a great opportunity for Woland and I am very excited to be here! I have been in the metal scene for half of my life, doing very underground stuff, what I have developed with Woland is very personal, the most personal work I have even done.
P.I.: I had a feeling when I first listened to Hyperion that it sounded very personal but also full of energy which I can easily see transformed live here at Blastfest. How are you preparing for your show later this evening?
W: To be honest, we do not have too much planned for any of our live shows. We do not practice performing, we practice playing, all the time. So we will just be ourselves, we will try to portrait our deepest feelings. We do not have any choreography planned, ever… As far as I am concerned I have been working non-stop for the last two days, I am very tired but I know the energy will kick in as soon as we arrive on stage. There is a fire behind us that will start burning.
P.I.: I am looking forward to your show! Let’s now talk about your debut full-length Hyperion. I find it a very exciting and complex start for such a young band. How would you describe the making of it?
W: Well…. It was a process that was both very difficult and very natural for us, in the way that the first two songs that we decided to include in the album, Conquer All and Live Forever were the very two first songs that we had ever written like a band. The sound and the style of both tracks suited us at first, so we decided to follow that same path. I think it was a challenging album in the sense that… we recorded it in our guitarist’s studio, that’s why it took so long because we had so much time to really figure it all out. He would send me a song that I would listen at home, and then I would ask him to change a certain part, or to add a guitar solo and reorganize a certain section. The challenge for me as a vocalist was to figure out a new way to write lyrics. Even the pronunciation of the words counts, what we do is so accurate and every beat so precise, all the riffs are so clear that if you pronounce a word slightly differently, like a rhythm compared to the guitar or to the drums, it all sounds wrong. So I also had to arrange all the vocals in a very precise manner: it was very challenging but at the same time it was the most awarding music we have ever done, up to this time.
P.I.: Your vocals sound very powerful and rich in definition throughout the whole album. Are you trained as a vocalist?
W: No…
P.I.: I think it would be quite hard to recreate the same intensity live.
W: Yes, it is quite hard and not just for the vocals. We have synthesizers in the album, as well as effects and background noises, so we need some backing tracks as it’s only four of us. These backing tracks help us with the sound, by giving the right amount of magnitude. And I try to do the same with my voice, it’s hard, it’s a very physical work.
P.I.: The overall atmosphere of Hyperion is very dark. What inspire the making of this album, both from the lyrics point of view and the music?
W: I am mostly in charge of the lyrics. Since the nineties I have been involved in this very dirty, underground black metal, really old-school. Well yes both of us have a background in bands like Mayhem. So we wanted to take the other side of that same coin, and portrait not the destructive, violent and suicidal side of black metal, we wanted to portrait its spiritual enlightenment, like a more Luciferian way of thinking. The kind of enlightenment that brings forward your inner God. One of our biggest inspirations has always come from philosophers like Nietzsche…..
P.I.: That’s exactly what I sensed, the nietzscherean aspect is quite perceivable in almost all tracks of the album.
W: … yes… And also from Albert Camus, he also realized that the essence of life is what is inside you, that which is not stolen from you. This is the theme we focused on developing, trying not to idolize the past but rather embracing the future at a higher level. That’s why I say that Woland is not a black metal band, it’s a post black metal band. We are not wearing corpse paint, we are not wearing any type of spikes, we are not revisiting the traditional nineties sound, we play a modern version of that. As I said earlier, it’s the other side of the coin based on creative, Luciferian Satanism rather than a destructive Satanism.
P.I.: Very well explained, thank you. And how would you describe your home country and breeding ground, Finland?
W: I do not perceive Woland as a Finnish band, we just happen to be from Finland. I think that nothing in our music represents our country. I think our sound is more Scandinavian than Finnish. That’s why we were interested in signing with Indie Recordings, I know personally many of the bands that are signed to them so I know what kind of work Indie promotes, that’s why I was very interested in working with them. Fortunately they liked the album so here we are!
P.I.: Can we expect a follow-up tour to tonight’s performance?
W: I hope so, we have some plans lining up and we are working on some negotiations but these days things change so fast and so easily and all the time. Just think that we just had two tours cancelled…
P.I.: Three is always a charm..
W: (laughs) yeah! I do not think we will be touring so much during the spring, we have a couple of festival dates over the summer. Basically we hope to have an European tour or even a couple of European tours, right now we are talking with a couple of bands, to try to arrange a tour together.
P.I.: Keep us posted Woland!
W: Of course!