Por: (Arte Metal)

O VORGOK a princípio é um duo formado por Edu Lopez (vocal/guitarra, ex-EXPLICIT HATE, NECROMANCER) e João Wilson no baixo. A dupla que se juntou lá por 2014, lançou no ano passado seu debut “Assorted Evils” e mostrou ao mundo um Thrash Metal furioso e recheado de brutalidade. Agora, contando também com Bruno Tavares (guitarra, FORCEPS, DEMOLISHMENT) a banda colhe os frutos de seu primeiro trabalho. Edu conversou com o Portal do Inferno e nos ajudou a destrinchar melhor o disco e falou também de outros assuntos.

Vorgok
Vorgok

Primeiramente gostaria que você apresentasse o VORGOK ao público. Como se deu a formação da banda, como chegaram até esse nome e o que significa?

Edu Lopez: Eu tinha recebido o convite para integrar o NECROMANCER, que é uma banda de amigos lá dos anos 80 e que sempre foi conhecida por fazer um Thrash Metal clássico, para promoção do álbum que estava para ser lançado (exclusivamente com material dos anos 80 e início de 90 que nunca havia sido propriamente lançado), chamado “Forbidden Art” (2014). Contudo, as diferenças de objetivo começaram a aparecer quando a banda decidiu iniciar as composições para um álbum seguinte, pois ficou evidente que a decisão foi fazer um som, digamos, mais moderno, algo que não é do meu interesse. Por isso, minhas composições não estavam sendo aproveitadas. As músicas “Kill Them Dead, Deception in Disguise” e “Antagonistic Hostility” foram compostas para o NECROMANCER e acabaram entrando no disco do VORGOK, todas numa pegada muito old school, que é o meu interesse. Para não ter dúvidas disso, veja que a música “Hell´s Portrait” foi originalmente composta para o ANSCHLUSS, lá por volta de 87, quando eu tinha 15 anos! Com exceção de um riff aqui, um arranjo lá, das letras e do título (porra, não dá pra gravar, hoje, a letra feita por um moleque de 15 anos! risos) a música é a mesma. Fico muito feliz de ter gravado essa música, e a considero uma das mais elaboradas do CD. Por tudo isso, senti que, desta vez, precisava de uma banda em que pudesse expressar o tipo de Thrash Metal de que sou fã, com espaço para as minhas composições e visão artística. Dessa necessidade surgiu a idéia de formar o VORGOK. Eu tinha uma ‘banda’ de covers com o João Wilson (baixo) só pra diversão. Aquele negócio de ir pro estúdio com os amigos pra tocar músicas que todo mundo conhece sem compromisso nenhum, tomar umas cervejas e tal. O baterista dessa ‘banda’ se mudou pra Curitiba e aí convidei o João pra montar uma banda autoral de Thrash e ele, que é o maior pilhado e adora esse estilo de Thrash ‘porradão’, topou na hora. Assim começou o VORGOK. Atualmente, a banda conta também com Bruno Tavares (guitarra; DEMOLISHMENT, FÓRCEPS) e estamos trabalhando com diversos ‘session drummers’.  Já o nome “Vorgok” surgiu da necessidade de uma palavra que fosse curta, soasse forte e traduzisse a seguinte ideia: a coleção de todos os males passados, presentes e futuros praticados e a serem praticados pela humanidade. Tendo em vista a inexistência de uma palavra que designasse esse coletivo, fui fazendo experiências, tipo juntando sílabas desconexas, até chegar em “Vorgok”. Esse significado apresenta a temática lírica da banda.

As bandas e ex-bandas dos integrantes estão basicamente entre o Thrash e o Death Metal. O VORGOK também trilha esse caminho. Essa foi a proposta desde o início que formaram a banda ou é algo que fluiu naturalmente?

Edu: Sim, a proposta foi essa desde o início. Curtimos outros estilos de Metal, mas na banda todo mundo só tem interesse em tocar Metal mais bruto.

E como é trabalhar com músicos experientes, como os que integram a VORGOK? Quais as vantagens e desvantagens disso?

Edu: Não há desvantagens e as vantagens são inúmeras: facilita muito pro processo de composição e arranjos, pra rotina de ensaios, para estabelecimento de objetivos comuns e evita a criação de expectativas não realizáveis.

Falando em trabalho, como foi o processo geral de composição e produção do primeiro disco “Assorted Evils”? Enfim, como é a forma de compor da banda?

Edu: As músicas que estão em “Assorted Evils” foram todas compostas por mim, inclusive as letras, como exceção da faixa “Drowning“, que foi composta pelo João Wilson (baixo) e é um prelúdio em violão de nylon que funciona como uma introdução para a faixa seguinte, que fecha o disco, chamada “Mass Funeral at Sea“. No entanto, os arranjos das músicas foram exaustivamente trabalhados por mim e pelo João, que deu uma contribuição importantíssima nessa área. Contudo, espero e é bem provável que todo mundo participe do processo de composição do próximo CD.

A produção de Celo Oliveira no Kolera Home Studio é um dos grandes trunfos do disco e fez com que ao mesmo tempo o trabalho soasse atual, além de que as músicas não caiam na mesmice artificial que se tornou muito comum nas bandas de hoje. Esse foi o objetivo da banda? Fale sobre o trabalho de Celo.

Edu: Sim, essa preocupação permeou a produção do disco. Hoje em dia, com toda tecnologia disponível, se você não tiver capacidade de autorrestrição, você acaba fazendo um som que soa, como dito, artificial, o que acho péssimo. Acredito que o trabalho do nosso produtor, Celo Oliveira, esteja diretamente associado a esse resultado. Ele é um profissional altamente competente, jovem, porém muito experiente, com a cabeça muito aberta e antenado. Creio que o trabalho desenvolvido na timbragem e na mixagem, sobretudo pelo espaço que encontramos para o baixo aparecer, sejam elementos importantes para o material não soar datado, tudo proporcionando um equilíbrio entre o antigo e o moderno, isto é, uma sonoridade claramente compreensível e equilibrada, mas que não fosse límpida como os padrões atuais, que muitas vezes te fazem sentir falta do elemento humano. Trabalhar com o Celo foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para a banda. Além das qualidades que citei, ele compreendeu rapidamente a proposta do som e manteve-se fiel a ela, não veio com “invencionices” pra fazer algo “modernoso”. Simplesmente usou seu talento e conhecimento para que, dentro da nossa proposta, o melhor resultado fosse alcançado. Por tudo isso, o processo todo de produção foi muito suave e ficamos todos extremamente satisfeitos e felizes com o resultado final.

Vorgok
Vorgok

A sonoridade encontrada no debut abrange praticamente quase todas as facetas do Thrash Metal, porém com uma dose extra de brutalidade. Isso foi intencional ou fluiu naturalmente?

 

Edu: Exatamente. O nosso propósito é fazer um Thrash bem brutal, tangenciando o Death Metal extremo. Fico feliz com a pergunta porque demonstra que alcançamos esse objetivo!

Vocês acreditam que esse peso extra, essa brutalidade a mais pode diferenciar a banda dentro do estilo?

Edu: Nunca pensei nisso. Fazer um Thrash com essa ‘brutalidade extra’ sempre foi nosso objetivo e, portanto, natural pra nós. Mas, agora que você perguntou, diria que essa abordagem talvez possa sim diferenciar a banda entre as inúmeras – e excelentes! – bandas do estilo. E pelas ideias que estão surgindo, o próximo lançamento será ainda mais bruto.

As maldades cometidas pela raça humana são os temas das letras. Enfim, as letras acabam se conectando, mas o disco não é conceitual, certo?

Edu: O disco não foi concebido como um disco conceitual, mas isso é algo que eu gostaria de explorar no futuro. No entanto, como os temas todos derivam do conceito de “Vorgok”, como expliquei acima, ele dá sim a impressão de ser um disco conceitual. Bom, talvez até seja e eu é que não me dou conta! (risos)

Acredito que abordar tal temática não deve ter sido tão difícil, pois o ser humano se escancara cada vez mais maldoso com o passar das ‘eras’. Como foi escrever as letras?

Edu: Cara, foi fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil, porque, muito infelizmente, o mundo contemporâneo é uma fonte inesgotável de atrocidades, então os temas sobejam. Difícil, porque é muito pesado e emocionalmente desgastante você ficar pensando nesses temas sinistros para escrever as letras, algo que é um processo meio lento e trabalhoso. Por exemplo, um tema que seria excelente explorar é a pedofilia, mas isso é assunto que realmente me deixa transtornado e pra escrever sobre isso preciso construir uma estrutura emocional muito firme, algo que ainda não consegui. Por enquanto, não quero ficar ‘ruminando’ isso na minha cabeça.

Você ainda acredita que o ser humano e/ou o planeta Terra tem salvação? Digo, acha que ainda há esperança?

Edu: Sou um pessimista convicto. Não acredito em salvação da espécie humana nem, desgraçadamente, de todas as demais. Na faixa “Last Nail In Our Coffin” (Último Prego no Nosso Caixão), escrevi: “A tecnologia progressiva acima da ficção científica, o sistema moral estabelecido abaixo da degradação. Cravando o último prego no nosso caixão”. Acredito que esse descompasso, em algum momento no futuro, irá, mais tempo, menos tempo, exterminar a vida no planeta.

Voltando ao álbum, como tem sido a repercussão de “Assorted Evils”?

Edu: O álbum tem tido uma receptividade que nos surpreendeu, com várias resenhas positivas no Brasil, França, Reino Unido, inclusão na programação de webradios da Europa e América do Sul, vários pedidos de entrevista e convites para shows. Estamos muito felizes com a boa receptividade do material e com a quantidade de novos amigos que temos feito em razão dela.

E quais os planos para 2017? A banda ainda não conta com um baterista fixo, mas pretendem se apresentar ao vivo o máximo possível? Quais objetivos neste sentido?

Edu: Durante o correr deste ano nosso objetivo é tocar ao vivo o mais que pudermos. Decidimos contar com a colaboração de diversos ‘session drummers’ ao invés de ter um ‘baterista fixo’. Dessa maneira, o processo decisório da banda fica mais fácil porque são apenas 3 pessoas a participar dele. Ano que vem vamos entrar em modo de composição e, quem sabe, lançar algum material novo no final de 2018.

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Escrito por

Vitor Franceschini

Jornalista graduado, editor do Blog Arte Metal.