Por: (Arte Metal)
Trazendo em sua estética uma música influenciada pelo Garage Rock dos anos 60 e 70, além de flertes com o Blues, Jazz e Indie, a banda THREESOME, oriunda de Campinas/SP tem abalado as estruturas da música alternativa com sua sonoridade orgânica e ao mesmo tempo adaptada aos tempos atuais. Formada por Juh Leidl (vocal/guitarra), Fred Leidl (guitarra/piano/vocal), Bruno Manfrinato (guitarra), Bob Rocha (baixo) e Henrique Matos (bateria), a banda divulga atualmente o seu segundo EP, “Keep On Naked” (2017) e já prepara material novo para os fãs de um Rock bem abrangente. Juh fala sobre o trabalho, o que estar por vir, a temática que envolve o sexo sem tabu e muito mais nas linhas abaixo.
Primeiramente falaremos do novo EP “Keep On Naked”. Por que do seu lançamento e incluir a regravação de duas faixas, seus rearranjos e mudanças de nomes? No caso Why Are You So Angyre que agora é Sweet Anger e Every Real Woman agora ERW?
Juh Leidl – No começo de 2017 estávamos entrando no estúdio para as gravações do novo EP mas tivemos a saída de um dos integrantes que era justamente um dos vocalistas e com o maior número de músicas do repertório em seu tom. Com essa alteração na formação dividimos as músicas entre os vocais do Fred Leidl e os meus e nessa mudança veio a necessidade de refazer os arranjos, principalmente nas músicas que saíram do vocal masculino para o feminino. Como Every Real Woman era nossa música de abertura de show e de maior visibilidade, optamos por colocá-la no EP com o novo vocal. Em relação a Sweet Anger, foi uma necessidade que tínhamos de mudar a música. Adorávamos a letra, mas o arranjo não nos empolgava na hora de tocar. Antes de qualquer coisa nós precisamos gostar e curtir tocar a música e com o novo arranjo tudo ficou perfeito!
E como foi trabalhar nessas ‘novas’ versões?
Juh – Super tranquilo. Para ERW não mudamos nada na base apenas meu estilo de vocal que sempre foi bem diferente do Bruno e a nova abordagem acabou deixando a música naturalmente mais Hard Rock. Já Sweet Anger aconteceu num ensaio um insight do Fred Leidl de fazer uma guita dropada para a música o que me induziu a mudar totalmente o jeito de cantar e consequentemente baixo e batera acompanharam.
A faixa inédita My Eyes mostra uma pegada mais agressiva e dueto vocal entre Fred Leidl (guitarra/piano) e você que ficou perfeito para a proposta. Fale-nos um pouco mais desta composição.
Juh – My Eyes é uma influência direta de Beatles, super funkeada e com trabalho vocal. Pra darmos dinâmica, já que a base é muito marcada, optamos por usar duas vozes e ainda fazer mudança de andamento no meio da música, algo que costumamos fazer em nossas composições.
A banda carrega influências de Garage Rock dos anos 60, do Stoner e até do Grunge. Porém, não soa ‘básica’ como é muito comum ouvir quando se aposta nestes estilos. A acentuação pop também é latente. Sei que isso é difícil para um músico, mas como definiram a sonoridade da banda?
Juh – Na verdade não definimos. O estilo, a composição, os arranjos são totalmente naturais, jamais direcionamos ou moldamos para encaixar o trabalho em um estilo ou conjunto de influências. Tudo acontece de maneira muito livre e segue a intenção da letra ou a letra da harmonia e em cima disso procuramos entender que sonoridade e abordagem aquela composição em particular pede. Claro que todos temos mais ou menos a mesma idade e influências musicais. Os gostos são bem parecidos e aí é que a química acontece e vira música.
A sonoridade da banda também traz influências de Blues, Jazz e Indie. Como administrar tantas influências sem tornar o som da banda um emaranhado?
Juh – Simples, como dito acima, não tentamos moldar uma sonoridade com x estilos dos quais gostamos e sim fazemos o que a composição está pedindo. Quando esse processo é bem sucedido, mesmo fazendo um Blues, depois um Hard e depois um Jazz, ainda mantemos a personalidade da banda que, ao final das contas, posso chamar de compromisso com a arte. Temos uma grande preocupação em sermos verdadeiros, não importa em que estilo. Acho que isso nos salva do emaranhado como colocou.
Aliás, como vocês fazem para não soarem datado e transportar essas influências para os dias atuais?
Juh – Na verdade acho que a gente acaba soando datado sim, mas pelo que escutamos sempre, falam que nossa música tem algo de contemporâneo. Se pensarmos que somos um apanhado de tudo que ouvimos e gostamos do antigo ao atual, e ouvimos ‘muuuuita’ coisa nova o tempo todo, além dos nossos ídolos clássicos, então soar contemporâneo é resultado mais que esperado.
A estética lírica da banda também é muito interessante e traz certa malícia ao abordar relações humanas pela perspectiva de experiências sexuais. Gostaria que falassem o que tentam passar em suas mensagens, principalmente em relação ao EP “Keep On Naked”?
Juh – As artes têm como princípio básico ser manifestação da expressão humana e sua visão e busca da compreensão sobre tudo ao nosso redor. Logo, arte mais sexo faz todo o sentido. O clichê sexo e Rock N Roll pode parecer batido, mas continua sendo verdadeiro. O Rock tem seu caráter muitas vezes rebelde, marginal, incontrolável e como o sexo ainda hoje continua sendo tabu, por mais absurdo que pareça. Mais uma vez falar sobre ele no Rock é quase que inevitável. No mais, quando escrevemos as letras das músicas não partimos de um ponto tão racionalizado, por exemplo, “vamos fazer uma letra sobre uma personagem diante da opressão e objetificação da mulher na sociedade contemporânea”, simplesmente escrevemos uma letra sobre uma mulher forte, bissexual, que toma a iniciativa, que faz o que gosta sem ligar pra julgamentos, que lida com o sexo de maneira livre e por isso é motivo de admiração e desejo simplesmente porque é assim que a vemos e como queremos mostrá-la. Acredito que de alguma forma isso contribui para trazer outro ponto de vista para as pessoas. Falar sobre bissexuais nas músicas é uma forma de lidar com questões de orientação sexual, por exemplo. Temos músicas para falar sobre relacionamento aberto, outro tabu monstro em nossa cultura, e acho que o mais importante é a busca por respeito da individualidade e opção de cada um de nós. Queremos levantar o assunto, pois ele existe e não tem nada de errado nisso, temos sim uma preocupação em falar sobre Liberdade e Respeito, em vários sentidos, você pode achar que aquilo não cabe para a sua vida, para as suas verdades, mas deve respeitar quem acha sem preconceito. Criamos músicas com temas eróticos, mas temos material para pelo menos mais três álbuns já compostos entre letras, só bases e outras letra e base, e não ficamos presos só em sexo, mas aconteceu de deixarmos no primeiro álbum, o “Get Naked”, e no novo EP “Keep On Naked”, músicas do gênero.
Aliás, o nome “Keep On Naked” soa muito interessante e até engraçado…
Juh – Tivemos a ideia de fazer um link com o primeiro álbum, o “Get Naked”, justamente por termos nesse EP duas músicas dele, aí veio a ideia de “Keep On… Naked”.
Falando da produção do EP, ela soa analógica e equilibrada, nos levando longe dessa moda envernizada de se reproduzir som. Com certeza esse era o objetivo da banda. Mas como foi esse processo até atingir este resultado?
Juh – Sempre quisemos gravar de forma analógica. Alcançamos o resultado esperado e, de fato, ficou diferente em relação a uma gravação digital. A performance ficou muito natural, e a fita casa melhor todas as frequências, tudo soa mais orgânico, parece que todos os instrumentos têm o seu espaço sem conflitar. É um deleite. É importante lembrar também que buscamos o Maurício Cajueiro para obter esse resultado. Ele é aquele tipo de profissional que não precisa nem falar nada, só a presença calma e assertiva dele já faz a sua mente se abrir. Junte isso a uma capacidade e sensibilidade extrema de entender a proposta da banda, a linguagem natural de cada um dos músicos e ele extrai e conduz tudo isso sem colocar seus gostos pessoais, mas o que a música pede dentro da estética da banda. É um maestro, um mestre e a cada gravação com ele em seu estúdio Cajueiro aprendemos muito, mas ‘muuuuuuiiiiitttoooo’. Além de ser uma pessoa super educada e agradável, um músico incrível antes de mais nada. Uma ótima companhia dentro e fora da sala de gravação.
Por fazer uma sonoridade que envolve diversos estilos, como foi a repercussão do trabalho e qual público assimilou mais a proposta de vocês?
Juh – Desde o “Get Naked” já tivemos uma boa aceitação. Mesmo falando de um álbum que mistura Rock, Jazz, Blues, os comentários sobre o trabalho sempre apontavam uma identidade e personalidade da banda. O que nos deixou bem felizes e confortáveis para continuar a compor da mesma maneira livre. Depois do lançamento do “Get Naked” começamos a tentar entender um pouco mais e ver outros exemplos de lançamentos e estratégias do mercado musical. Chegamos à conclusão que no mundo de hoje, sendo a plataforma digital o nosso principal canal e o hábito dos usuários cada vez mais de fazer playlists com faixas de vários artistas, não fazia sentido lançar de cara mais um álbum. Então optamos por divulgar faixas em 3 EPs e então um álbum com os 3 e mais 3 ou 4 músicas inéditas. A absorção é mais fácil e mais rápida para o público de hoje. Temos certeza que a estratégia deu certo. A repercussão do trabalho tem sido surpreendente e já obtivemos convites e propostas de trabalho interessantes logo após o lançamento do “Keep On Naked”. Na verdade estamos ainda meio chocados com a repercussão. Não esperávamos algo tão positivo! Mesmo tendo nos dedicado tanto ao processo, é claro.
Provavelmente o THREESOME vem trabalhando em algo novo. O que pode nos adiantar a respeito disso?
Juh – Estamos finalizando duas faixas para dois lançamentos de tributos com bandas brasileiras para o selo Secret Service Records da Inglaterra. Sendo um AC/DC e outro para DEEP PURPLE em que trazemos releituras das faixas Badlands e Perfect Strangers. E assim que finalizarmos os vocais de Perfect Strangers e a gravação do clip oficial de Sweet Anger com o produtor Jun Sakuma, aí entramos em estúdio para finalizar os arranjos e gravar o próximo EP com 4 faixas inéditas.
Muito obrigado. Este espaço é para a banda deixar uma mensagem aos leitores.
Juh – Dependemos dos fãs de ROCK para garantir novas gerações de bandas, músicas, hits. As bandas consagradas já foram bandas de bairro. Apoie a cena local, não ouça só o que já é consagrado, escute o novo, apoie o novo, vá a shows de bandas autorais mesmo sem saber cantar, pode ser que você descubra algo que ama e vai ser questão de minutos aprender a cantar. Não deixe o Rock morrer! Quem pode nos matar não são os fãs de outros estilos, são os fãs de Rock! Vida longa ao rock n roll!
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