Fundada em 2010 na cidade de Kingston, na província de Ontário, no Canadá, a banda Sovereign Council vai contra as tendências do heavy metal norte-americano e executa um symphonic metal de muita qualidade, gênero divulgado predominantemente por bandas europeias. As comparações com grandes nomes como Lacuna Coil, Nightwish e Within Temptation sempre surgem, mas não incomodam o grupo – formado por Chris Thompson (guitarra), Alexandre MacWilliam (vocal), Lisa Thompson (vocal lírico), Jessica Marsden (teclado), Patrick Buczynski (guitarra), Shaun Vanhooser (baixo) e Brandon Schneider (bateria) -, que consegue se diferenciar com complexas melodias, principalmente em suas linhas de guitarra e bateria.
Com uma grande base de fãs, a banda tem abraçado boas oportunidades para divulgar sua música, como a que surgiu há alguns meses, quando abriram o show dos icônicos alemães do Primal Fear, em Toronto. No ano passado, eles lançaram, de forma independente, o seu disco de estreia, New Reign, muito aclamado pela crítica, inclusive brasileira. Aliás, a relação da Sovereign Council com o Brasil vai além das resenhas do seu CD. Ainda em 2013, a banda fez alguns shows pelo Canadá ao lado dos cariocas do Santuarium; o guitarrista Chris Thompson está aprendendo português e visitará o País em breve, para reencontrar os músicos cariocas e, quem sabe, planejar uma nova turnê nova conjunta. Sem dúvida, seria um encontro interessante de se ver por aqui.
Confira a seguir uma entrevista exclusiva com Chris, onde ele apresenta a banda ao público brasileiro, fala sobre como é ser um artista independente no Canadá, recorda a turnê com o Santuarium e revela o que espera para os próximos passos da Sovereign Council.
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Portal do Inferno: Olá, Chris. Muito obrigada pela entrevista, é um prazer ter a Sovereign Council no Portal do Inferno. Para o público brasileiro que ainda não os conhece, como você apresenta a banda, quais as principais influências e de que forma esses nomes contribuem para a sua música?
Chris Thompson: Obrigado pelo espaço; estamos honrados de estar aqui. Essa é uma pergunta difícil e uma das que mais nos perguntam. Frequentemente vemos pessoas nos comparando com bandas como Lacuna Coil, Kamelot, Nightwish, Within Temptation, etc. etc. Eu concordo que compartilhamos certos aspectos de nossa música com essas bandas, mas, ao mesmo tempo, somos muito diferentes. Todas essas bandas nos influenciaram de alguma forma, mas nós também temos influências de muitos lugares que as pessoas não esperam. Eu acho que nosso amor pela música pesada – Meshuggah, Lamb of God, In Flames e Gojira, para citar apenas alguns – é o que dá à nossa música mais vantagem nas linhas de guitarra e bateria, comparadas com algumas bandas de metal sinfônico mais tradicionais. Dito isso, também temos muita influência do hip-hop, rap, clássico e rock. Muitas das nossas influências para compor vêm de textos filosóficos, assim como de experiências em nossas vidas pessoais.
P.I.: O metal sinfônico é um estilo bastante desenvolvido na Europa há muitos anos, com bandas como Delain, Epica, Nightwish, entre outros, mas não vemos tantos representantes na América do Norte. Como esse estilo é visto especialmente pelo público canadense?
Chris: Eu acho que há um bom nicho para esse tipo de som aqui. Nós reparamos uma tendência com reviews feitos no exterior: todos na Europa, na América do Sul e, até mesmo, nos Estados Unidos ficam chocados quando sabem que somos canadenses. Aqui no Canadá é um pouco difícil para nós. Acabamos sendo a banda estranha em muitos shows que tocamos, simplesmente porque não existem muitas bandas de metal sinfônico por aqui. A maioria das bandas de metal daqui são de hardcore, progressivas ou thrash metal. No geral, no entanto, nossas músicas e nossas performances são sempre bem recebidas.
P.I.: O disco de estreia da banda, New Reign (2013), foi lançado sem gravadora. Aqui no Brasil, é muito difícil, caro e trabalhoso uma banda conseguir lançar seu próprio material sem o apoio de uma gravadora. E no Canadá, como é ser um artista independente?
Chris: Deu muito trabalho, mas, ao mesmo tempo, eu não diria que foi excessivamente difícil – certamente não fora do alcance de qualquer artista realmente comprometido. Em alguns aspectos, a menos que seja oferecido um bom contrato, é, de fato, mais vantajoso permanecer independente. Eu acho que enquanto você trabalhar bastante, você terá sucesso como um artista independente na cena canadense. Há diferentes níveis de sucesso. Nós, certamente, estamos procurando o apoio de gravadoras e de empresas de agenciamento, mas também não estamos prestes a nos vender. Quando o acordo certo chegar, nós, com certeza, vamos abraçar a oportunidade para seguir adiante com a nossa carreira.
P.I.: Fale um pouco sobre o New Reign: seu processo de composição e gravação. O que te inspirou para fazer esse álbum, tanto no ponto de vista das letras quanto da música?
Chris: New Reign foi um projeto em construção por um bom tempo. Cada música começou como uma ou duas linhas de guitarras e foram construídas a partir daí. Eu chegava para o Alex com a linha de guitarra que eu sentia que tinha potencial e ele pegava e adicionava baixo, baterias, direções de cordas, etc. Para a maior parte, deixamos a música se escrever sozinha, se isso faz algum sentido. Algumas músicas, New Reign, por exemplo, levaram vários meses antes de serem finalizadas, mas outras, como Down The Rabbit Hole, foram compostas em um único encontro. Nós queremos apenas ter certeza de que nunca estamos forçando nada: a música precisa soar orgânica e fluir naturalmente.
Quase sempre nós temos a música escrita antes que as letras sequer tenham sido pensadas. Nós realmente ouvimos o que a música está carregando emocionalmente e, então, baseamos nossas letras ao longo desse sentimento e dessa atmosfera.
Muito do álbum foi inspirado nas nossas próprias experiências pessoais, musicalmente e liricamente falando. Eu acho que tivemos sucesso ao contar uma história com a nossa música e a maioria das pessoas parece realmente conectada com a contação de história teatral em um nível emocional, o que quer dizer que muitas pessoas podem se relacionar com essas experiências humanas comuns.
P.I.: Ouvindo as faixas de New Reign, percebemos variações nas melodias e nos vocais. As canções passam por vocais limpos, guturais e pelo belíssimo e delicado vocal da Lisa Thompson, que faz ótimos duetos com o vocalista Alexander MacWilliam. A comparação com bandas que têm vocais femininos e masculinos é inevitável. Surgem nomes como Lacuna Coil, Kamelot, Nightwish, entre tantas outras. Isso os incomoda? De que forma a Sovereign Council se diferencia dessas bandas nesse aspecto?
Chris: Essa é uma ótima pergunta. Isso não nos aborrece. É quase sempre uma coisa boa sermos comparados com algumas dessas bandas; e eu diria que nós realmente tentamos nos separar ou nos associar com essas bandas. Nosso som é muito diferente e, ainda assim, em alguns aspectos, como vocais, é similar. Uma coisa que nos distingue é nossa forma teatral de contar uma história e a performance ao vivo. Além disso, os guturais e screams do Alex também nos ajudam a nos diferenciar ainda mais. Entretanto, eu realmente acho que nossa maior diferença está nas linhas de guitarras e bateria. Nossas guitarras são muito complexas nas suas composições; às vezes, nossas guitarras carregam a melodia e a contra melodia juntas e deixam o ritmo para o baixo e teclados.
P.I.: No começo de maio, vocês tiveram a oportunidade de abrir o show dos alemães do Primal Fear em Toronto. Como foi essa experiência? O som da Sovereign Council é bem diferente do apresentado pelo Primal Fear, como vocês sentiram a reação do público?
Chris: O show com o Primal Fear foi uma experiência incrível. O Primal Fear é uma banda extremamente talentosa e foi uma honra abrir o show deles e conhecê-los. A reação do público não foi muito diferente da nossa experiência com novas plateias. Muitas pessoas pareciam bastante confusas ao longo da metade da primeira música, mas não demorou muito para que ganhássemos o público. A singularidade do nosso som sempre leva novos ouvintes a uma certa desconfiança, mas quase sempre os ganhamos bem rápido. No começo da nossa segunda música, já havíamos conquistado a plateia, especialmente quando a Lisa começou a cantar. Nós gostamos de pensar nela como nossa “arma secreta” – no nosso setlist padrão ela não canta na primeira música, então, quando ela aparece em Sweet Poison, ela realmente leva as pessoas à loucura.
P.I.: Em 2013, vocês fizeram diversos shows pelo Canadá com a banda brasileira Santuarium, do Rio de Janeiro. Como vocês se conheceram e como surgiu a oportunidade dessa turnê em conjunto? Qual é a sua avaliação sobre essa miniturnê?
Chris: Na verdade, nós os conhecemos por acaso. A empresária deles na época estava procurando por bandas de abertura para a turnê canadense que eles fariam. Ela nos encontrou no Facebook e perguntou se queríamos fazer parte da turnê. Depois que falamos com ela por Skype e ouvimos às músicas da Santuarium, decidimos que adoraríamos trabalhar com eles. Daí do Brasil, ela e eu trabalhamos juntos para marcarmos vários shows com as duas bandas. Tivemos a oportunidade de jogar um pouco de futebol com eles em Toronto antes de um show, que, é claro, foi muito divertido! Nós jogamos uma partida amigável da Sovereign Council x Santuarium, o que seria como Canadá x Brasil. Não é preciso dizer que o Brasil ganhou a partida, mas foi um jogo apertado! Depois, em novembro, nós encontramos o Sanitarium para mais dois shows, o que foi ótimo.
P.I.: O que você conhece sobre a cena heavy metal brasileira e qual a sua opinião sobre a musicalidade das nossas bandas?
Chris: Na verdade, eu conheço muito pouco sobre a cena brasileira e a única banda brasileira que eu tive a chance de trabalhar foi a Sanitarium. Dito isso, eles são incrivelmente profissionais e talentosos.
P.I.: Podemos esperar uma troca no futuro, dessa vez com a passagem da Sovereign Council pelo Brasil ao lado da Santuarium?
Chris: Nós temos discutido isso e poderia acontecer. Ainda não há planos sólidos. Eu estou viajando para o Rio de Janeiro para me encontrar com alguns integrantes do Santuarium em julho deste ano, então, quem sabe que planos se desenvolverão para o futuro.
P.I.: Quais são os planos para o futuro da Sovereign Council? Vocês já estão trabalhando em algum material inédito?
Chris: Nós temos um futuro muito brilhante, na minha opinião. Nós somos uma banda jovem, que trabalha muito, talentosa e focada. Nós trabalhamos constantemente para melhorarmos como músicos individuais e como grupo e, como resultado disso, nossos shows ao vivo ficam cada vez melhores. Nós começamos a nos aproximar de vários grupos para assistência e esperamos começar a fazer turnês fora do Canadá em um futuro próximo.
Sobre o novo material, eu não posso falar muito sobre, mas nosso segundo álbum está bem a caminho. Definitivamente terá uma pegada mais pesada, mas continuará fiel ao som da Sovereign Council que foi tão bem recebido com o New Reign.
P.I.: Mais uma vez, muito obrigada pela entrevista, Chris. O espaço é seu para deixar um recado para os leitores do Portal do Inferno.
Chris: Obrigado Renata! Esperamos ver você e seus leitores quando fizermos uma turnê no Brasil!
Portal do Inferno: Hello, Chris! Thank you very much for the interview. It is a pleasure having Sovereign Council at Portal do Inferno. First of all, how would you describe the band to the Brazilian audience that don’t know you yet? What are your main influences and in which way have those influences contributed with your songs?
Chris Thompson: Thanks for having us; we’re honoured to be here. That’s a tough question, and one that we get asked quite often. We often find people comparing us to bands like Lacuna Coil, Kamelot, Nightwish, Within Temptation, etc etc. I agree that we do share certain aspects of our sound with these bands, but we’re certainly very different at the same time. All of these bands have influenced us in some way, but we also draw influences from a lot of places people would not necessarily expect. I think our love of heavier music – Meshuggah, Lamb of God, In Flames, and Gojira, to name a few, – is what gives our music more edge in the guitar and drum lines compared to some of the more traditional symphonic metal bands.
That being said, we also draw a lot of our influences from hip-hop, rap, classical, and rock. A lot of our lyrical influence comes from philosophical texts as well as personal life experiences.
P.I.: Symphonic metal is a really well-developed style in Europe, with bands like Delain, Epica, Nightwish, among others, but we cannot find many representatives in North America. How is this style seen especially by the Canadian public?
Chris: I think there is a real niche for this sound here. We’ve noticed a trend with reviews from abroad; everyone in Europe, South America, and even the USA is shocked when they learn that we’re Canadian. Here in Canada it is a little bit difficult for us. We end up being the odd band out in a lot of the shows we play simply because there aren’t enough symphonic bands in the area. Most metal bands around here are hardcore, progressive, or thrash metal. Overall however, our music and our performances are always very well received.
P.I.: The band’s debut album, New Reign (2013), was released with no record label. Here in Brazil it is very difficult, expensive and demanding for a band to release their own material without the support of a record label. What about Canada? How is it to be an independent artist?
Chris: It was a lot of hard work, but at the same time I wouldn’t say that it was overly difficult – certainly not beyond the reach of any really committed artist anyway. In some ways, unless you get offered a really great deal, it’s actually beneficial to remain independent. I think that so long as you work hard you will have success as an independent artist in the Canadian scene. There are different levels of success. We are certainly seeking support from labels and management organizations, but we aren’t about to sell ourselves short either. When the right deal comes along we’ll definitely jump at the opportunity to further our career.
P.I.: Tell me a little bit about New Reign in regards to the composition and recording process. What inspired you to record this album from a lyrical and musical standpoint?
Chris: New Reign was a project in the making for quite a while. Each song began as one or two guitar lines and built up from there. Generally speaking, I come to Alex with a guitar line that I feel has potential and he takes it and adds bass, drums, string sections, etc. For the most part we let the music write itself, if that makes sense. Certain songs, New Reign for example, took several months before it was completed, but others such as Down The Rabbit Hole, were completely written in one sitting. We just make sure that we’re never forcing anything; the music needs to feel organic and flow naturally.
We almost always have the music written before the lyrics are even thought about. We really listen to what the music is conveying emotionally and then base our lyrics around that feeling and atmosphere.
Much of the album was inspired by our own life experiences, both musically and lyrically speaking. I think we’ve succeeded in telling a story with our music, and most people seem to really connect with the theatrical story-telling on an emotional level; that is to say that many people can relate to these common human experiences.
P.I.: Listening to the tracks from New Reing, we can notice many melodic and vocal variations. The songs go from clean to guttural vocals and the beautiful and delicate vocals by Lisa Thompson, who makes great duets with vocalist Alexander MacWilliam. The comparison with bands that have female and male vocals is inevitable. Names such as Lacuna Coil, Kamelot, Nightwish, among many others end up being mentioned. Does that bother you? How do Sovereign Council differentiate yourselves from those bands in this aspect?
Chris: This is a great question. It certainly doesn’t bother us. It’s almost always a good thing to be likened to any of those bands; and I wouldn’t say that we actually try to separate from or associate with those bands. Our sound is very different and yet, in some aspects such as vocals, similar. One thing that does separate us is our theatrical storytelling and live performance. Moreover, Alex’s growls and screams also help to separate us even further. I do feel personally however, that our biggest difference lay in the guitar lines and drum lines. Our guitar lines are very complex in their composition; at times our guitars carry a melody and a counter melody together and leave the rhythm to the bass and keys.
P.I.: In the beginning of May you had the opportunity to be one of the opening acts for German Heavy Metal band Primal Fear in Toronto. How was that experience for the band? The music by Sovereign Council is very different from what Primal Fear do, so how did the audience react to your performance?
Chris: The show with Primal Fear was an amazing experience. Primal Fear is an extremely talented band and it was an honour to open for them and to meet them. The audience reaction was not too unlike our usual experience with new crowds. A lot of people look very confused through the first half of the first song, but it doesn’t take too long for us to win a crowd over. The uniqueness of our sound always throws new listeners for a bit of a loop, but it almost always wins them over quite quickly. By the start of our second song in the set we had won the crowd over, especially once Lisa began to sing. We like to think of her as our ‘secret weapon’ – in our standard set she isn’t in the first song so when she appears in Sweet Poison she really blows people away.
P.I.: In 2013, you played several concerts in Canada with Brazilian band Santuarium, from Rio de Janeiro. How did you get to know each other and how did that opportunity to tour together come up?
Chris: We actually met them by chance. Their manager at the time was looking for supporting acts for their Canadian tour. She found us on Facebook and asked us if we wanted to join the tour. After meeting with her on Skype and listening to Santuarium’s music we decided that we would love to work with them. So from there, her and I worked together to set up several shows with our two bands. We got the opportunity to play some football with them in Toronto before a show, which of course was a lot of fun! We played a friendly match of Sovereign Council vs. Santuarium; which effectively worked out to Canada vs. Brazil. Needless to say, Brazil won the match, but it was a close game! Later on, in November, we hooked up with Santuarium for two more shows, which was great.
P.I.: What do you know about the Brazilian Heavy Metal scene and what’s your opinion about the musicality of our bands?
Chris: I actually know very little about the Brazilian scene and the only Brazilian band I’ve had the opportunity to work with is Santuarium. That being said they are incredibly professional and talented.
P.I.: Can we expect a switch in the future, this time with Sovereign Council touring Bazil together with Santuarium?
Chris: We have actually discussed this, and it very well could happen. There are no solid plans in place just yet. I am traveling to Rio de Janeiro to meet with some of the members of Santuarium in July this year so who knows what plans will develop for the future.
P.I.: What are the plans for the future of Sovereign Council? Are you already working on any new material?
Chris: Our future is a very bright one in my opinion. We’re a young, hard-working, talented, and focused band. We’re constantly working hard to improve as individual musicians and as a group and our live shows keep getting better and better as a result. We are starting to reach out to various groups for assistance and we’re hoping to begin touring outside of Canada in the near future.
As for new material, I can’t give away too much information, but our second full-length album is well underway. It’s definitely got a heavier feel, but it stays true to the Sovereign Council sound that has been so well received on New Reign.
P.I.: Thanks again for the interview, we appreciate that. Feel free to send a message to all the readers from Portal do Inferno.
Chris: Obrigado Renata! Esperamos ver você e seus leitores quando fizermos uma turnê no Brasil!