Vinda de Highland Park, na Califórnia, a banda Huntress é relativamente nova, com apenas cinco anos de formação, mas já tem muita história para contar. Fundada a partir da união sobrenatural da vocalista Jill Janus e de membros da banda de metal Professor, do sul do Estado, a banda chamou atenção com suas baterias trovejantes, riffs pesados, solos espectrais e refrãos pegajosos, que mostram toda a influência que têm em ciências ocultas. E também já passou por algumas mudanças em seu line-up.
O disco de estreia, Spell Eater, de 2012, foi chamado pela revista britânica Metal Hammer de “uma estreia mágica da banda mais empolgante de 2012”. No ano seguinte, lançaram Starbound Beast e, para 2014, prometem um novo disco, mais pesado e obscuro. Três discos em três anos indicam bem que este grupo está ansioso para mostrar todo o seu potencial.
Durante passagem em Londres, no começo deste ano, em turnê com o Lamb of God e o Decapitated, a bela Jill Janus conversou com a repórter Fabiola Santini sobre a vida na estrada com a banda, paganismo, feminilidade, sua formação em música clássica e a amizade com Lemmy Kilmister, líder do Motörhead. Confira esse papo a seguir:
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Portal do Inferno: Primeiramente, parabéns pelo anúncio de que o Huntress foi confirmado para tocar no Download Festival 2014!
Jill Janus: Estamos muito empolgados!
P.I.: O show do ano passado foi bem recebido pelos fãs: como você se sente em voltar pelo segundo ano consecutivo?
Jill: Estamos muito honrados de tocar no Download por dois anos seguidos. É impressionante para uma banda nova, já que estamos juntos há apenas três anos. Isso mostra muita fé dos nossos fãs do Reino Unido e dos promotores do festival.
P.I.: O Huntress está agora em uma turnê maravilhosa com o Decapitated e o Lamb of God como headliners. Para você, quais são os destaques em fazer parte disso?
Jill: Essa turnê irá nos expôr para uma nova base de fãs. É incrível ver como subimos ao palco toda noite e… não há nenhuma confusão por perto. Os fãs que estão aqui para ver o Lamb of God, querem ver um show destruidor. E é isso o que estamos trazendo noite após noite. Estamos ganhando mais fãs, há muitas pessoas que vêm ao nosso show nessa turnê e não sabem o que esperar. Depois, sempre encontramos os fãs no nosso estande de merchandising e, até agora, temos observado uma resposta maravilhosa deles.
P.I.: Como você se sente sendo a única artista mulher nessa turnê?
Jill: (risos!) Eu amo! Acho sexy, amo ser a única garota em turnê com um bando de homens barbados! Eles são como meus irmãos, tomam conta de mim e fazemos brincadeiras uns com os outros. Chris Adler, o baterista do Lamb of God, estava sentado assistindo o show dos bastidores numa noite usando uma máscara de unicórnio. E eu me virei para tomar água e quando olhei para ele, engasguei e saiu água pelo meu nariz de tanto que eu ri. Fazemos piadas e brincadeiras uns com os outros o tempo todo! Nos sentimos muito honrados de ser amigos deles e estar nessa turnê.
P.I.: Olhando para a sua formação musical, você tem treinamento clássico. Tem algum artista de ópera em particular que você consideraria uma influência?
Jill: Eu sempre ouvi muitas cantoras de ópera e música clássica. Uma que sempre irá se destacar para mim é Maria Callas, sua riqueza vocal, sua história de vida, sua habilidade… ela é um ícone. Porém, eu sou muito, muito rigorosa ao separar o metal da música clássica. O que o treinamento clássico fez por mim foi apoiar os meus gritos, minha voz para o metal. É a razão pela qual eu não perco a minha voz e sou capaz de cantar noite após noite. Essa é a única associação, eu não trago ópera ao metal, eu desprezo isso. Eu não gosto de metal sinfônico, eu o chamo de metal “fácil de ouvir”. Eu sou uma cantora de metal e qualquer influência que eu tive da música clássica foi eliminada. Tudo o que ela faz agora é me dar a habilidade e a fundação nos meus gritos.
P.I.: Se uma vocalista feminina te pedisse um conselho agora, qual seria?
Jill: O primeiro passo seria: procure a Melissa Cross. Ela é a minha treinadora de canto, assim como de Randy Blythe e de Angela (Gossow), do Arch Enemy. Ela é incrível: ela lançou um DVD chamado The Zen of Screaming e foi assim que eu comecei, de fato, transferindo muita da habilidade vocal que eu tinha da música clássica para o metal. Ela torna bem fácil a compreensão para jovens vocalistas e como treinar-se apropriadamente. Eu faço o seu aquecimento todos os dias, religiosamente, antes de entrar no palco. Você precisa de treinamento para arrancar esse tipo versátil de screaming, indo e voltando com as partes melódicas que eu faço. E, então, tem o estilo de vida, ter cuidado consigo mesma, ser saudável. Eu não participo de festas em turnê, descanso a minha voz após cada show, eu como bem. É importante perceber que os fãs vêm aqui para assistir ao show e você não quer cancelar de forma alguma. Eu nunca cancelei um show e estamos nos aproximando das 300 apresentações agora.
P.I.: Você acha que ainda hoje há uma pressão para vocalistas femininas terem um visual, de certa forma, sexy e bonito?
Jill: Isso depende de qual meio da música estamos falando. Eu acho que o metal perdoa mais nesse aspecto. Eu não tenho medo de usar o sex appeal para te puxar para perto do fogo. Mas vou te queimar viva com os vocais, você precisa ter habilidade para se afastar. Eu sou uma mulher, eu sou uma bruxa e, é claro, eu gosto de usar a minha sensualidade em tudo o que faço. Ser pagã tornou a nudez muito natural para mim, é natural me sentir muito segura com o meu corpo. Eu sou uma criança da Terra, sou muito confortável com a minha pele. Mas existe uma linha fina, é preciso entender que você precisa recuar a cada decisão que você toma com habilidade. Eu trabalho muito, muito duro para produzir o melhor desempenho toda noite, e os vídeos e as artes. Todos os aspectos fazem parte do legado do Huntress, levamos muito à sério. Uma coisa que não levamos tão à sério somos nós mesmos, gostamos de nos divertir, temos humildade e afastamos o nosso ego. É preciso ser uma boa pessoa.
P.I.: Você descreve a discografia do Huntress como a sua jornada espiritual por três elementos: a donzela, a mãe e a anciã. Seu primeiro álbum, Spell Eater (2012) foi a donzela; Starbound Beast (2013) é a mãe; e o terceiro trabalho será a anciã. O que irá acontecer após a anciã?
Jill: Acredito que ainda é um pouco cedo para falar sobre o quarto disco, mas sei, com certeza, que os primeiros álbuns serão um tributo à Deusa em suas três formas: a donzela, a mãe e a anciã. Não é temático, mas, para mim, espiritualmente, estão conectados. Spell Eater foi escrito na fase da donzela da banda, você pode ouvir a ferocidade, quase como um lindo ataque a isso. Então quando fomos para Starbound Beast, atingimos o Cosmo, é um pouco mais pensativo; a musicalidade e as composições são melhores na fase mãe da banda. E agora vamos para a fase da anciã. A Deusa é perversa e brutal, o que significa que o nosso próximo álbum será mais pesado e sombrio. Estou me divertindo muito compondo-o agora. Ela está com tesão e, sabe? Hey! Eu me divirto muito com isso também! Será legal!
P.I.: Podemos esperar esse lançamento em 2014?
Jill: Vamos gravar o novo álbum e, sim, planejamos lançá-lo ainda este ano. Três álbuns em três anos.
P.I.: Incrível.
Jill: Não queremos desacelerar. Nós queríamos lançar três álbuns em três anos, esse era nosso objetivo quando começamos, então vamos focar nisso, dependendo do prazo da gravação e da agenda da turnê.
P.I.: Você acha difícil compor novo material enquanto está em turnê?
Jill: Não, isso me rodeia constantemente. Eu estou imersa totalmente nessa vida e tive que abolir todas as outras ambições, eu vivo estritamente para o Huntress. Então, mesmo quando eu estou na estrada, estou compondo novas músicas, como agora. Eu também me inspiro muito na estrada, sabe, pode acontecer às 5 da manhã quando estamos no ônibus, eu acordo e começo a receber mensagens e letras.
P.I.: Fascinante! Eu também queria perguntar sobre a sua parceria com o Lemmy Kilmister, do Motörhead. Eu não consigo pensar em duas pessoas mais diferentes no metal que você e ele. Como foi trabalhar com ele naquela grande faixa, I Want to Fuck You to Death?
Jill: (risos!) O Lemmy é um bom amigo há alguns anos, nos encontramos no Rainbow, em Los Angeles, para beber. Um dia, eu perguntei se ele poderia escrever uma música para mim e ele o fez. Ele chegou com dois pedaços de papel com a letra de I Want to Fuck You to Death. E eu pensei: “essa é a coisa mais romântica que um cara já fez por mim”. E achei que era um bom sinal do universo! Ter Lemmy escrevendo uma música para a sua banda não é nada mal! Ele é um homem íntegro e um amigo muito querido.
Portal do Inferno: First of all, congratulation on the announcement: Huntress has been confirmed for Download Festival 2014!
Jill Janus: We are very excited!
P.I.: Last year performance was well received by fans: how do you feel about going back for the second year in a row?
Jill: We are so honoured to perform at Download two years in a row. It’s quite remarkable for such a new band, as we have only been together for three years. It shows a lot of faith from our UK based fans and from the promoters.
P.I.: Huntress is now part of such an amazing tour with Decapitated and Lamb of God headlining. What are the highlights for you to be part of it?
Jill: This tour is going to expose us to a whole new fan base. It’s incredible to see how we come on stage every night and… there is no mess around. The fans that are here to see Lamb of God, are here to see a show that will kick their teeth down their throats. And that’s what we are bringing night after night. We are winning over fans, there are lot of people who come to our show on this tour that do not know what to expect. Afterwards, we always meet and greet fans at our merch stand and so far we have seen an amazing response.
P.I.: How do you feel about being the only female artist on this tour?
Jill: (laughs!) I love it! I think it’s sexy, I love being the only girl on tour with a bunch of beardy men! They are like my brothers, they all take good care of me and we pull a lot of pranks out of each others. Chris Adler, the drummer from Lamb of God, he was sitting watching the show from backstage the other night, wearing a unicorn mask. And I turned around as I was drinking some water and I looked at him and I got water coming out from my nose as I was laughing so much. We joke with each other and pull pranks out of each other all the time! We feel very honoured to be their friends and to be on this tour with them.
P.I.: Looking at your background: you are classically trained, is there any particular opera artist that you would consider an influence?
Jill: I have always listened to a lot of opera singers and classical music. The one that will always stand out for me is Maria Callas, her vocal richness, her life story, her ability… she is an icon. However I am very, very strict at separating metal and classical music. What classical training has done for me was to support my screams, my metal voice. It’s the reason why I do not loose my voice and I am able to perform night after night. This is the only association, I do not bring opera into metal, I despise that. I do not like symphonic metal, I call it “easy listening” metal. I am a metal singer and any influence that I have had from the classical background has been stripped away. All it does now is to give me the ability and the foundation for my screams.
P.I.: If a female metal singer now was asking you for advice, what would that be?
Jill: The first step would be: sick out Melissa Cross. She is my vocal coach, as well as Randy Blythe and Angela (Gossow) from Arch Enemy. She is amazing: she has a DVD out called The Zen of Screaming and this is how I got started really, transferring a lot of the vocal ability I had from classical music into metal. She makes it really easy for young vocalists to comprehend and to train yourself properly. I do her warm up every day, religiously, before I go on stage. You do need training to pull out these versatile type of screaming, back and forth with the melodic parts that I do. It then goes down to lifestyle, taking good care of yourself, being healthy. I do not party on the road, I vocal rest after every show, I eat well. It’s important to realize that fans are coming here to see the show and you do not ever want to cancel. I have never cancelled a show and we are getting close to three hundred now.
P.I.: Do you think that even today, there is a certain pressure on female vocalist to look a certain way, sexy and beautiful?
Jill: It depends on which medium of music we are talking about. I think that metal is more forgiving on that aspect. I am not afraid to use sex appeal to draw you closer to the flame. But I will burn you alive with the vocals, you have to have skills to back it up. I am a woman, I am a witch, of course I like to use my sexuality within everything I do. Being pagan, it becomes very natural for me to be nude, it’s very natural for me to be very self assured with my body. I am a child of earth, I am very comfortable in my skin. But there is a fine line, you have to understand that you have to back up every choice you make with skills. I work very, very hard to produce the best possible performance every night, and the videos and the artwork. All aspects are part of the Huntress legacy, we take it very seriously. One thing we do not take very seriously is ourselves, we like to have fun, we have humility, we strip away our ego. You have to be a good person.
P.I.: You have describe Huntress discography as a your spiritual journey through three elements: the maiden, the mother, and the crone. Your first album Spell Eater (2012) was the maiden, Starbound Beast (2013) is the mother and your third work will be the crone. What is going to happen after the crone?
Jill: I believe it’s a bit too early to talk about our forth record, but I know for sure that the first albums were going to be a tribute to the Goddess in her three forms, the maiden, the mother and the crone. It’s not thematic, but for me spiritually, they are connected. Spell Eater was written in the maiden phase of the band, you can hear a ferociousness, almost like a beautiful attack to it. Then when we go to Starbound Beast we reached for the Cosmo, it’s a little bit more thoughtful, the musicianship and the songwriting are better in the mother phase of the band. And now we are going in the crone phase of the band. The Goddess is vicious and brutal, that means that our next album is going to be heavier and darker. I am having a lot of fun writing it now. She is horny and you know? Hey! I have a lot of fun about that too! It’s going to be cool!
P.I.: Can we expect a 2014 release already?
Jill: We are recording the new album this year and yes, we are planning to release it this year. Three albums in three years.
P.I.: Amazing.
Jill: We do not want to slow down, we wanted to deliver three albums in three years, this was our goal when we started so that’s what we are aiming for, depending on recording timeframe and tour schedule.
P.I.: Do you find it hard to write new material when you are touring?
Jill: No, it’s surrounding me constantly. I have immersed myself entirely in this life and I had to abolish all other ambitions, I strictly live for Huntress. So even when I am on the road I am writing new songs, like now. I also get inspired on the road a lot, you know, it happens at 5 in the morning if we are on a bus, I wake up and I start receiving messages and lyrics.
P.I.: Fascinating! I also wanted to ask you about your collaboration with Lemmy from Motörhead. I cannot think about two more diverse people in metal than you and him. What was it like to work with him on that great track I Want to Fuck You to Death?
Jill: (laughs!). Lemmy has been a good friend of mine for few years, we would meet up at the Rainbow in Los Angeles for drinks. One day I asked him if he would write a song for me and he did. He handed me two pieces of paper with the lyrics to I Want to Fuck You to Death. And I thought “this is the most romantic thing a boy has ever done to me”. And I thought this was a high five from the universe! Having Lemmy writing a song for your band ain’t so bad! He is a man of integrity and a very dear friend.