Por: (Arte Metal)
Foram nove anos sem um registro e, segundo a própria banda, esse distanciamento não significou o fim, mas sim um tempo fora dos holofotes do underground. O retorno com um trabalho veio diante de novidades e reformulação tanto na sua sonoridade, quanto em sua formação e estética. Foi assim que os goianos do Heaven’s Guardian voltaram aos braços do público e mídia especializada, mais especificamente com o terceiro álbum, Signs (2016). Os guitarristas Ericsson Marin e Luiz Mauricio, além do tecladista Everton Marin conversaram com o ARTE METAL e falaram um pouco mais sobre todo esse processo. Completam o time atualmente Olívia Bayer e Flávio Mendez (vocais), Murilo Ramos (baixo) e Arthur Albuquerque (bateria).
Signs (2016) foi lançado nove anos após o DVD X Years on the Road (2007). O Heaven’s Guardian chegou a encerrar as atividades ou esta foi uma longa hibernação?
Ericsson Marin: De fato, a banda nunca esteve em estado de hibernação. Durante todo esse tempo, o Heavens Guardian continuou compondo e se apresentando com diferentes formações. Por exemplo, com Mário Linhares (Dark Avenger) e Izacc Moreira (Vougan) nos vocais, e a adição do tecladista Everton Marin ao line up oficial. No entanto, nenhum projeto novo foi produzido, o que acabou gerando esse hiato frente à mídia e aos fãs. Somente após esses 9 anos é que a banda realmente efetivou uma formação para o lançamento de um novo trabalho.
O que vocês fizeram durante este tempo? Se envolveram com projetos voltados ao Metal?
Ericsson: Durante esse tempo, além do trabalho com composição e audição de novos integrantes, a banda se apresentou em alguns importantes eventos de Rock. Dentre esses, destacam-se a abertura para a banda norte-americana Megadeth em Goiânia e as participações tanto no Marreco’s Fest em Brasília quanto em duas edições do Goiaba Rock Festival em Inhumas. Na última ocasião do Goiaba Rock, a banda se apresentou com a formação do DVD X Years on the Road, uma vez que o ex-vocalista Carlos Zema fazia uma curta passagem por Goiânia.
E como ‘retornaram’ e chegaram até essa atual formação? Por que optaram em contar com dois vocalistas?
Ericsson: Chegar até a formação atual não foi um trabalho fácil. Porém, foi super espontâneo o modo como tudo aconteceu. Depois de trabalhar com alguns vocalistas, começamos a fazer alguns ensaios casuais com o Flávio Lima. Ele era um amigo de longa data, e o seu estilo e técnica vocal meio que tenor-agressivo, acabou soando legal para a banda. É obvio que faltava ao Flávio a linha melódica também trabalhada por Carlos Zema nos discos anteriores. E foi aí que a Olívia Bayer encaixou perfeitamente. O seu estilo e técnica vocal meio que soprano-jazz-blues, trouxe o elemento melódico que faltava aos vocais do Heavens Guardian, sem abandonar a agressividade necessária. Ela veio através do baterista Arthur Albuquerque, e com um único ensaio com a dupla, percebemos que a banda tinha encontrado sua nova linha vocal.
Falando agora do novo trabalho, Signs. Naturalmente o disco traz uma sonoridade diferenciada até porque a banda atual tem mais elementos a serem explorados. Porém, a sonoridade atual, trazendo um lado mais Prog Metal foi algo direcionado ou fluiu naturalmente?
Everton Marin: Foi algo que veio sendo trabalhado com muita calma e ensaios contínuos. A banda sempre conta com a participação de todos no processo de composição e claro que isto traz um gama de possibilidades, porque cada integrante tem um certo tipo de influência que vai do clássico até o Thrash. A intenção nunca foi fazer nada muito Prog, mas com o passar do tempo vimos que conseguimos encontrar uma boa mescla de riffs mais progs com outros mais pesados, sem perder a essência da banda.
Mesmo assim as características do Metal melódico da banda parece estarem mantidas. Vocês concordam? Se sim, essa foi uma preocupação da banda?
Ericsson: Perfeitamente. Essa sempre foi uma preocupação da banda. Inserir novos elementos, mas mantendo as características do Metal melódico. Com a inclusão do tecladista Everton Marin, que assim como outros integrantes também possui formação erudita, essa característica foi ainda mais evidenciada nas composições.
Signs conta com músicas versáteis, com variação nos andamentos e arranjos bem encaixados. Ao mesmo tempo em que as composições não soam simples, não são exageradas em termos de técnica, mantendo um bom equilíbrio. Como chegaram a tal equilíbrio?
Everton: Música não é feita simplesmente para demonstrar técnica e virtuosidade. Sempre quando vamos compor algo tentamos ao máximo criar coisas novas que não são apenas cópias de outras bandas. Um bom arranjo nem sempre é aquele mais elaborado e um equilíbrio entre o simples e o complexo faz a música se tornar mais agradável e prazerosa. Tivemos bons conselhos do Marcello Pompeu durante as gravações e isso ajudou bastante no resultado final.
Claro que o trabalho das linhas vocais soa diferente em relação aos discos anteriores, afinal conta com dois vocalistas. Como foi o trabalho dessas linhas, o que tentaram atingir e o resultado final foi o esperado?
Luiz Mauricio: Assim que ouvimos o Flávio e a Olívia cantarem juntos em um ensaio sentimos que poderia render um belo trabalho. As vozes se completam e deram uma autenticidade bem legal à banda. Uma preocupação que tivemos foi justamente evitar qualquer tipo de comparação com outras bandas. Tentamos explorar o que cada voz tem de melhor, a agressividade do Flávio e a leveza da Olívia. O Pompeu também nos ajudou bastante com arranjos e com os backs.
Aliás, o que Signs traz de semelhança em relação as discos anteriores Strava (2001) e D.O.L.L. (2004)?
Ericsson: A principal semelhança está no formato das composições. Os riffs de guitarra e baixo nas estrofes são pesados e de grande alternância rítmica, o que é preenchido com a agressividade dos vocais. Nos bridges, a banda sempre trabalha um pouco mais a melodia, usando por exemplo, diferentes linhas de backing vocais. Mas são os refrãos a marca registrada do Heaven’s Guardian. Sempre melódicos, usando várias linhas vocais, sem esquecer do peso. Os duetos de guitarra, também marca registrada do Heavens Guardian, não perderam sua importância nos arranjos. Porém, agora contam em algumas ocasiões com a adição do teclado, o que produz ricos trietos melódicos e harmônicos. Muitas vezes, até o próprio baixo é adicionado à melodia, resultando em um quarteto melódico e harmônico. O mesmo aconteceu com os solos, que sempre foram revezados entre eu o e Luiz Maurício, cada um com seu estilo bem característico. Agora, inúmeros solos de teclado podem ser percebidos, alternados com os solos de guitarra. A bateria continua bastante versátil, dependendo do momento da música. Ritmos cadenciados com inúmeros contratempos são seguidos por ritmos rápidos com bastante uso do pedal duplo.
A produção ficou a cargo de Marcello Pompeu (Korzus). Por que optaram por Pompeu e como foi trabalhar com um ícone do Thrash Metal nacional?
Ericsson: O novo projeto do Heavens Guardian trazia um elemento diferente: ousadia. Sabíamos que a proposta era ousada, e precisaria de uma mente aberta para “fazer acontecer”. Alguém que entendesse a proposta e trabalhasse para produzir um álbum melhor do que os anteriores, mesmo que com elementos bem diferentes. Foi aí que o Pompeu se encaixou perfeitamente. Foram três meses em São Paulo de muita conversa, testes, sugestões e aprimoramentos. Chegamos lá com as músicas prontas na nossa concepção, mas não na concepção do Pompeu. Ele trabalhou intensamente em parceria com a banda para lapidar cada composição, tirando o máximo de cada intérprete. Foi um momento especial de muita intensidade para o Heavens Guardian. Trabalhar com o Pompeu realmente superou bastante as expectativas, e o resultado pode ser conferido com o amadurecimento das músicas.
Mesmo após esses anos sem lançar um trabalho oficial, a banda voltou a trabalhar com a Megahard Records, que só não lançou a primeira demo Roll Of The Thunder (1997). Por que optaram por manter essa parceria e como está o trabalho com o selo?
Luiz Mauricio: Fizemos esta opção porque acreditamos nesta parceria. Neste ramo que estamos confiança no selo é algo fundamental. Temos certeza que bons frutos virão ainda.
Como está a repercussão de Signs até então, tanto nacionalmente quanto internacionalmente?
Everton: A melhor possível. A banda já recebeu inúmeros contatos de fãs e de profissionais do ramo tanto do Brasil quanto de outros países, principalmente da Europa. Através das redes sociais e juntamente com alguns vídeos que a banda produziu logo depois de ter lançado o “Sings” muita gente já pôde conhecer este novo trabalho. A banda vem trabalhando para que alcance cada vez mais fãs e quem sabe em breve temos boas novidades para todos.
Pra encerrar, quais os planos de divulgação do trabalho, enfim, o que está por vir e como anda a agenda de shows da banda?
Luiz Mauricio: A banda agora está trabalhando na divulgação do CD tanto através de shows como pelas redes sociais e internet. Hoje em dia com os aplicativos de música podemos atingir outros horizontes com mais facilidade. A banda tem tudo para conseguir realizar grandes shows e quem sabe a primeira turnê fora do país. Como a aceitação do CD está sendo uma boa surpresa temos somente boas perspectivas para o futuro.