Pouco antes de embarcar para uma turnê na América do Sul, em setembro deste ano, Roger Tiegs, mais conhecido como Infernus, se encontrou em um momento delicado: a banda passaria por mais uma mudança na sua formação, com o desligamento do vocalista Pest do grupo, que não queria embarcar na turnê. O líder do Gorgoroth, uma das maiores referências do Black Metal norueguês, teve que encontrar um substituto a tempo e Hoest, da banda Taake, foi o nome escolhido para cobrir a agenda do grupo, que incluiu quatro apresentações no Brasil.
Em entrevista a reporter Fabiola Santini, que será publicada na próxima edição da revista italiana Rockerilla, Infernus fala, entre outros assuntos, sobre a turnê pelo continente, a experiência dos shows com Hoest e elege o show de São Paulo como um dos melhores do giro. Ele também antecipa que a banda está pronta para entrar em estúdio no ano que vem com seu novo vocalista, Atterigner, e coloca um ponto final em qualquer possibilidade futura de trabalho ou relação com seus ex-companheiros de banda Gaahl e King ov Hell. Confira:
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Fabiola Santini: A última vez que vimos Gorgoroth ao vivo aqui em Londres, há um ano no The Underworld, vocês fizeram um excelente show. O que você se lembra e valoriza ao máximo do primeiro show Gorgoroth, em 1994? Em algum momento, enquanto você estava naquele palco, você imaginou que estaria tocando e fazendo turnês pelo mundo por quase duas décadas?
Roger Tiegs – Infernus: Eu não poderia, naturalmente, prever como as coisas seriam ao longo dos anos com 40 mudanças no line-up da banda, mais ou menos, etc, etc. Mas eu tinha o objetivo de que isso era algo que eu, de alguma forma, faria muito tempo.
Fabiola: Desde seu primeiro show em seu país até a sua mais recente turnê, na América do Sul, você encontrou públicos diversos; qual foi a reação global aos seus shows? Você acha que em 2012 o Gorgoroth e o Black Metal ainda são fortes atrativos tanto para os fãs antigos quanto os novos?
Infernus: Eu acho que sim. Ao longo dos anos, tenho visto em nossos shows uma mistura boa tanto de pessoas da nossa idade e crianças que mostram interesse no que estamos fazendo. A América Latina em geral é muito emocionante para mim, eu gosto de estar e tocar lá. Eu senti que a maioria dos shows da nossa última turnê foi boa, aproveitei bem na maior parte do tempo. Para mim, é difícil escolher um desses shows como o que mais gostei. Talvez o show em São Paulo (Brasil), que tocamos com o Autopsy. San Jose, na Costa Rica, também foi bom, este foi o primeiro show que fizemos lá.
Fabiola: Um pouco antes da turnê sul-americana começar, o Pest foi convidado a sair da banda. Quais foram as razões por trás dessa decisão, que deve ter sido muito difícil, considerando que ele estava envolvido com a banda desde 1995. Sua saída foi amigável?
Infernus: A razão foi dada oficialmente no nosso site, um ou dois dias após a decisão ser tomada. Foi difícil, considerando o tempo. Ele saiu duas semanas antes da turnê que estava prestes a começar, uma parte da tour que havia sido planejada há mais de meio ano, e foi difícil também devido nossa relação pessoal muito próxima. No entanto, era uma necessidade e acredito que eu e Pest somos capazes de lidar com essa nova situação de uma forma construtiva, madura. Eu acredito que estarei em uma situação amigável com ele nos próximos 17 anos também. Afinal de contas, isso que aconteceu… era apenas o fim de uma relação de trabalho. Não há necessidade de torná-la mais dramática do que realmente foi.
Fabiola: Hoest, do Taake, o substituiu como vocalista na turnê, eu, pessoalmente, não conseguiria pensar em uma escolha melhor.
Infernus: Ele se encaixa perfeitamente! Eu, pessoalmente, gostei de sair em turnê com ele e quando vi algumas das gravações dos shows da América do Sul, tive a confirmação de que estava certo. Hoest fez um excelente trabalho para a banda.
Fabiola: O mais novo integrante do Gorgoroth é Atterigner, que ocupou o posto de vocalista permanente. Ele é originalmente da banda Triumfall, que faz parte do cast da sua gravadora, a Forces of Satan Records. Qual foi o critério que você utilizou para selecionar o próximo vocalista do Gorgoroth?
Infernus: Agora, Hoest é o nosso vocalista para os shows e Atterigner fará os vocais do próximo álbum. Durante os últimos anos, tenho me preocupado mais com a importância de me dar bem pessoalmente com os caras com os quais estou trabalhando. Esses caras, assim como o Pest – enquanto durou – eu vou considerar suas características pessoais, combinadas com suas habilidades para fazer os vocais de acordo com o meu gosto.
Fabiola: Instinctus Bestialis será o 11º álbum de estúdio do Gorgoroth: como você descreveria o humor da banda enquanto vocês se preparam para esse grande passo?
Infernus: Com a única exceção de que um dos caras está passando por alguns desafios importantes no momento, o estado de espírito da banda está melhor do que nunca. Tem sido assim continuamente desde 2007.
Fabiola: Com a gravação de Incipit Satan, em 1999, o Gorgoroth começou a apostar em novos territórios, como industrial e noise, mas ainda mantendo uma parte de Black Metal tradicional e a característica musical do Gorgoroth. Você vai explorar esses territórios novamente em Instinctus Bestialis?
Infernus: O novo álbum vai falar por si próprio quando foi lançado. Eu acho que soa um pouco rude quando um “artista” fala sobre um trabalho que ainda será apresentado. Instinctus Bestialis está próximo de ser concluído. Todas as melodias já foram escritas e cerca de metade das faixas foram, finalmente, arranjadas. Nós estamos planejando o começo das gravações para março de 2013, talvez. Quando isso tiver sido feito, as pessoas poderão julgar por si mesmas.
Fabiola: Você sempre se recusou a publicar suas letras: qual é a razão para essa escolha e você vai ter a mesma abordagem para Instinctus Bestialis?
Infernus: Por que não teríamos a mesma abordagem com o próximo álbum? Devemos facilitar alguém que fazendo um cover para tocar em bar local? Eu acho que não.
Fabiola: Seu terceiro álbum, Under the Sign of Hell, teve uma nova versão em 2011, seguido por uma turnê mundial: o que fez você decidir trazer de volta à vida uma obra-prima como essa depois de 14 anos?
Infernus: Há muitas razões por trás dessa decisão. Estou ciente de que isso não vai ser uma resposta adequada à sua pergunta, de qualquer maneira, havia muitas razões e eu tinha essa ideia em mente há pelo menos dez anos. Depois que terminamos Quantos Possunt Ad Satanitatem Trahunt (2009), percebi que tinha tempo disponível e um estúdio que estava livre o tempo todo. Os caras também queriam fazer isso, então eu pensei que seria melhor me manter ocupado trabalhando em dois projetos simultaneamente do que andar com os idiotas do metal locais ou fazendo outras coisas.
Fabiola: Vamos falar sobre a disputa de nome.
Infernus: Por quê? Todos nós todos que foi o sétimo baixista e o terceiro vocalista que tentaram roubar o nome. Eu ganhei, eles perderam. É isso aí.
Fabiola: Agora que acabou e você possui o nome Gorgoroth, você sente que Gaahl e King ov Hell, seus ex-companheiros de banda, se desligarão da sua imagem para o bem?
Infernus: Esta será uma resposta muito curta e realmente espero que não tenha que falar sobre esse assunto de novo: eu nunca mais vou trabalhar novamente com qualquer uma dessas duas pessoas.
Fabiola: Será que algum dia veremos Gorgoroth e God Seed juntos em turnê?
Infernus: Você nunca verá isso acontecer.
Fabiola: Já pode antecipar algo sobre a próxima turnê do Gorgoroth?
Infernus: Estamos agora planejando fazer cerca de oito shows no Sudeste da Ásia em fevereiro, esse é o nosso foco agora. Nós nunca tocamos na Ásia antes e isso é realmente empolgante para nós. Até agora, parece que estamos lidando com bons profissionais, então vamos dar uma chance.
Fabiola: Uma ótima maneira de começar 2013.
Infernus: Sim, parece divertido, de fato! Acabei de falar com dois dos nossos seguranças, e eles mal podem esperar para sair daqui. Será infernal!
Fabiola: Como você está se preparando para essa turnê?
Infernus: Como sempre tive que lidar com a parte de gerenciamento e ainda insisto em fazê-la, há um monte de papelada para cuidar. Essas são as partes chatas, no entanto, coisas que devem ser feitas. Questões técnicas e formalidades são coordenadas em parceria com os promotores, agências de shows, etc.
Fabiola: Deve ser difícil acompanhar tanto o lado criativo quanto o gerencial de uma banda.
Infernus: Não é um trabalho duro, mas é preciso ser um pouco estruturado e mostrar alguma quantidade razoável de senso comum. E também ser capaz de aprender com o passado e escolher os parceiros certos.
Fabiola: Como você vê o Gorgoroth a partir de 2013 em diante?
Infernus: Não há necessidade de mudar de repente e chegar com novas invenções aqui. Estou muito feliz com o que estamos fazendo agora, e quero que a gente melhore dentro desse quadro que criamos. E eu espero que sejamos capazes de continuar fazendo exatamente isso por um longo tempo.
Fabiola Santini: The last time we saw Gorgoroth live here in London a year ago at The Underworld, you delivered another superb performance. What do you remember and treasure the most from Gorgoroth’s very first live show in 1994? Did you picture at a certain point while you were on that stage that you would have continued playing live and touring all over the world for nearly two decades?
Infernus: I could of course not predict exactly how things would turn through the years with 40 line-up changes or so, etc etc. But I had an aim then that this was something I, in some way, was going to do for a very long time.
Fabiola: From your first show in your mother country back then to your most recent tour in South America, you have encountered so many audiences; what was the overall response to your shows? Do you think that in 2012 Gorgoroth and black metal are still strong attractors of both old and new fans?
Infernus: I think so, yes. Through the years, I have seen at our shows a fairly good mix both of people our age and new kids that show interest in what we are doing. Latin America in general is quite exciting for me, I enjoy being and playing there. Most of the shows of our latest tour, I felt they went well; I had a good time most of the time. It’s difficult for me to pick out one of these shows as the particular show I enjoyed the most. Maybe the show in São Paulo (Brazil) when we performed with Autopsy. San Jose in Costa Rica was also good, it was the first show we ever did there.
Fabiola: Right before the South American tour started, Pest was asked to quit the band. What were the reasons behind this decision, which must have been quite hard considering that he had been involved with the band since 1995. Was his departure an amicable one?
Infernus: The reason was given officially through our web page a day or two after the decision was made. It was difficult, considering the timing. It was two weeks before the tour was about to start, a tour which had been planned for more than half a year, and it was also difficult due to the close personal relation between us. Nevertheless, it was a necessity and I believe both me and Pest are able to deal with the new situation in a constructive, mature manner. I believe I will be on friendly terms with him for the next 17 years as well. After all, this thing which happened … it was just the end of a working relationship. There is no need to make it more dramatic than it actually was.
Fabiola: Hoest from Taake replaced him as a touring vocalist, I personally could not think of a better fit.
Infernus: He fits in perfectly! I personally really enjoying touring with him and when I went through some of the tape recordings from the South American shows, I got confirmation I was right. Hoest did a splendid job for the band.
Fabiola: The newest Gorgoroth member is Atterigner, who has become the permanent vocalist. He is originally from the band Triumfall which is signed to your record label, Forces Of Satan Records. What was the criteria you used to select the next Gorgoroth vocalist?
Infernus: As of now, Hoest is our live vocalist and Atterigner will be doing the vocals for the upcoming album. During the last years I have become more aware of the importance of getting along personally with the guys I am working with. These guys, just as Pest – as long as it lasted – I will be able to co-operate with due to the their personal characteristics in combination with their abilities to do vocal duties according to my liking.
Fabiola: Instinctus Bestialis will be Gorgoroth’s eleventh studio album: how would you describe the mood of the band as you get ready for this next big step?
Infernus: With the only exception that one of the guys is going through some major challenges at the moment, the mood of the band is better than ever. It’s been continuously super since 2007.
Fabiola: With the recording of Incipit Satan in 1999, Gorgoroth began journeying into new territories such as industrial and noise, yet still retaining a traditional black metal edge and the Gorgoroth signature sound. Have you been exploring those territories again for Instinctus Bestialis?
Infernus: The new album will speak for itself when it has been released. I think it sounds a bit boorish when an “artist” talks about a yet to be presented piece of work. Instinctus Bestialis is close to being finished. All the music has been written and about half of the tracks have finally been arranged. We are looking at starting to record maybe as soon as March 2013. When that has been done, people can judge it for themselves.
Fabiola: You have always refused to publish your lyrics: what is the reason behind this choice and will you have the same approach for Instinctus Bestialis?
Infernus: Why should we not have the same approach with the next album? Should we facilitate someone doing a cover version of it and performing it at the local pub? I don’t think so.
Fabiola: Your third album, Under the Sign of Hell, saw a new release in 2011, followed by a worldwide tour: what made you decide to bring back to life such a masterpiece after 14 years?
Infernus: There are many reasons behind this decision. I am aware that this is not going to be a proper answer to your question, anyway: there were many reasons and I had this idea in mind for at least ten years. After we finished Quantos Possunt Ad Satanitatem Trahunt (2009), I realized we had time available and a studio which is available at all times. The guys also wanted to do it, so I thought it would be better to keep more busy working on two projects simultaneously than hanging around with the local metal morons or doing other things.
Fabiola: Let’s talk about the name dispute.
Infernus: Why? We all know it was the seventh bass player and the third vocalist who tried to steal the name. I won, they lost. That’s it.
Fabiola: Now that is over and you own the name Gorgoroth, do you feel that your former bandmates Gaahl and King ov Hell will be out of your picture for good?
Infernus: This is going to be a very short answer and I really hope I will not have to make myself clear on this matter again: I will never work ever again with any of those two people.
Fabiola: Will we ever see Gorgoroth and God Seed touring together?
Infernus: You will never see that happening.
Fabiola: Any anticipation on Gorgoroth forthcoming tour?
Infernus: We are now looking at doing some eight shows in South East Asia in February, this is where the full focus is as of now. We have never toured Asia before and this is really exciting for us. So far it looks like we have hooked up with professional people, so we are going to give it a try.
Fabiola: A great way to start 2013.
Infernus: Yes, it sounds like fun indeed! I just spoke to a couple of our security guys, and they can’t wait to get out of here. There will be hell damnation!
Fabiola: How are you getting ready for this tour?
Infernus: Since I have always been handling the managing side myself and still insist upon doing so, there is a lot of paperwork to get through. These are boring things to talk about, nevertheless things which must be done. Technical issues and formalities taken care of in co-operation with the promoters, booking agencies etc.
Fabiola: It must be hard work to follow both the creative and managerial side of a band.
Infernus: It’s not hard work, it’s about being a bit structured and showing some reasonable amount of common sense. And to be able to learn from the past and to pick the right co-operation partners.
Fabiola: How do you see then Gorgoroth from 2013 going forward?
Infernus: There is no need of suddenly changing and coming up with new inventions around here. I am quite happy with what we are doing now, and I want us to improve within that framework which we have been given. And I hope we will be able to continue doing just exactly that for a long time to come.