Mais abrangente, a banda de Campinas/SP, Rocket Five, chega mais diversificada e madura com seu novo álbum, “Universal Soul” (2020). Uma ouvida mais atenta, nota-se evolução na estrutura das composições, na execução e na produção em geral, com o Rock clássico se mesclando ao Progressivo com diversas pitadas psicodélicas. Para falar sobre o disco, conversamos com Ricardo Marks (baixo/vocal) e Julio Pilenso (bateria/vocal). Completam o time Eduardo Haszler (guitarra/vocal) e Leonardo Meliani (teclados/vocal).
O que mudou no processo de composição e gravação de “Universal Soul” em relação aos trabalhos anteriores?
Júlio Pilenso: O processo de composição foi mais colaborativo do que nos álbuns anteriores. Fizemos sessões especificas para cada uma das músicas e a opinião de cada um foi crucial para cada faixa. Não seguíamos sem o aval de todos, o que nos levou a um resultado final de acordo com nossas expectativas. O processo de gravação foi por etapas, após a pré-produção estar finalizada. Seguimos com uma guia com metrônomo e após isso, gravamos bateria, bases de baixo, teclado e guitarra, solos e vozes. Algumas vezes complementamos com efeitos e overdubs.
E qual o principal diferencial do novo disco em relação a esses trabalhos. Aliás, o que vocês destacariam no disco?
JP: O principal diferencial foi uma evolução nas composições e no processo de gravação. Incluímos também duas faixas instrumentais, que não havíamos feito antes. A coesão entre as faixas e a dedicação máxima de cada um foi o destaque.
Na resenha que fiz destaquei que a banda está abrangente dentro de sua proposta, ou seja, caminha por diversos trilhos do Rock and Roll, principalmente o clássico e o progressivo (esse mais latente no disco). Vocês concordam? E ao que justificam isso?
Ricardo Marks: Tivemos um desenvolvimento individual como músicos e em grupo, depois que consolidamos a formação em quarteto, por conta de um melhor entrosamento. Isso ajudou no processo de composição e arranjos. As influências progressivas são em boa parte devidas a mim e ao Léo, pois normalmente ouvimos mais bandas e artistas desse estilo. No final, buscamos alinhar as raízes da banda com todas as nossas influências individuais.
Falando em produção, Julio cuidou de tudo novamente. Por que optam por trabalhar com alguém da banda sempre? Uma opinião externa não seria bem-vinda nesse sentido?
RM: Tivemos essa discussão em nosso primeiro álbum completo, “On the Move”, de 2018. Embora tivéssemos ficado satisfeitos com a produção externa no nosso EP de 2016, entendemos que, tomando conta da produção, poderíamos deixar o trabalho mais fiel às nossas ideias. E, como somos uma banda “off-label”, teríamos que pagar caro pela produção. Então decidimos que faríamos todo o trabalho de produção, engenharia e mixagem internamente, mesmo que o processo exigisse um tempo de aprendizado.
Outro trabalho fantástico e que se manteve, foi o de capa, com mais uma arte do “Lobo” Ramirez. Como foi concebida essa arte, vocês o orientaram ou escolheram uma arte a parte?
RM: Passamos apenas a ideia geral, que era um viajante do espaço encontrando a “Alma Universal”. Todo o resto foi imaginação e concepção dele, mais uma vez, superando nossas expectativas.
A Simple Kid e Solitary Man foram escolhidas como os singles do trabalho. É nítido que as duas composições já soam como hits da banda e, além da qualidade, definem bem a Rocket Five. Mas como esse processo de escolha e gostaria que falassem um pouco mais dessas faixas.
RM: Solitary Man já estava finalizada desde 2018. Inclusive em nosso álbum ao vivo “Moving on the Station”, consta uma versão inicial dessa faixa, que mudou pouco para sua versão final. Foi a primeira faixa que gravamos e finalizamos, enquanto outras faixas ainda estavam incompletas e queríamos lançar um lyric vídeo antes do álbum. Por isso, precisávamos da faixa pronta. E, acima de tudo, porque é uma ótima faixa. Já A Simple Kid foi por conta de ser uma faixa mais acessível, além de seu caráter autobiográfico.
Outra composição espetacular é New Mankind, que traz uma veia mais acessível. Também gostaria que falassem dessa música.
JP: New Mankind teve sua ideia inicial alterada algumas vezes até que chegamos a um entendimento que trataria sobre a visão dos autistas sobre o mundo. Para os autistas, pequenas vitórias são importantes e eles se aproximam de pessoas que os entendem e os acolhem. A parte musical dela foi embasada em um refrão forte, estrofes com bastante groove e pela primeira vez, um solo de baixo em nossas composições
“Universal Soul” traz letras bem bacanas. Qual mensagem do disco? Elas estão conectadas e/ou o disco chega a ser conceitual? Gostaria que abordassem algo sobre isso.
RM: A primeira faixa composta de “Universal Soul” foi Quicksand of Shadows, após o lançamento do EP, e sua letra fala sobre os efeitos devastadores da depressão. Originalmente, essa faixa estaria no álbum anterior, mas ela soava bem diferente das demais e acabou não sendo incluída. Como ela ficou pendente, acabei compondo uma continuação, que se tornou a faixa Coming Home. Sua letra traz o reconhecimento da depressão e uma atitude de aceitação. Durante o processo de composição, desenvolvemos a ideia do álbum ter em suas letras temas relacionados a distúrbios psicológicos diversos, e assim fomos desenvolvendo as composições.
O disco sai em um momento muito crítico, de pandemia. Como vocês têm trabalhado nesses tempos e o que esperam do cenário musical quando ao menos todos estiverem vacinados? Acreditam que algum legado será deixado disso tudo?
RM: O álbum todo foi gravado e produzido durante a pandemia. O processo foi demorado e cansativo e, ao final, queríamos apenas terminar e seguir adiante. Pensamos que seria possível fazer alguns shows no começo de 2021 e chegamos até a fazer alguns ensaios. No entanto, devido à nova realidade e lockdown, paramos novamente.
Tem alguma coisa que vocês possam nos adiantar? Algum vídeo, música nova… enfim, algo além da divulgação de “Universal Soul”?
RM: Queremos ter um lançamento ainda em 2021. Podem ser 1 ou 2 singles ou até mesmo um EP com algumas faixas novas e talvez um cover. Mas essa discussão ainda está bem no começo.
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