Há quase vinte anos divulgando um pouco da mitologia celta pelo mundo afora, os irlandeses do Cruachan finalmente vêm ao Brasil para mostrar seu folk/pagan metal pela primeira vez. O Portal do Inferno conversou com Keith Fay (vocal e multi-instrumentista) sobre o mais recente trabalho da banda, Blood On The Black Robe, a expectativa para os shows no Brasil, e um pouco mais sobre essa que é uma das – senão a – pioneiras do estilo.

Portal do Inferno: Primeiramente, obrigada por conceder essa entrevista ao Portal do Inferno. Você está ansioso por vir ao Brasil pela primeira vez?
Keith Fay: Não estou ansioso ou preocupado, mas esperando muito por isso. É um grande país, já li muito sobre o Brasil ao longo dos anos então eu, pessoalmente, estou muito empolgado. E também porque o Cruachan tem muitos fãs brasileiros e nunca teve a chance de tocar aí em todos esses anos de atividade, então vai ser ótimo consertar isso.

P.I.: Você conhece alguma banda brasileira de folk/viking metal? E sobre os fãs brasileiros e sul-americanos?
Keith: Uma banda que eu conheço há bastante tempo é o Tuatha de Danann, também comecei a pesquisar mais, especialmente sobre os rapazes que irão tocar conosco quando formos aí. Temos muitos fãs aí e os temos por muito anos, eu recebi vários emails ao longo dos anos e agora, de um tempo para cá, temos tido muito apoio e comunicação em nossa página no facebook.

Cruachan

P.I.: Nós – público brasileiro – podemos esperar alguma surpresa nos shows aqui?
Keith: Hmmmmm… Não, nenhuma supresa. Acho que o fato de estarmos finalmente fazendo um show no Brasil já é uma surpresa para todos.

P.I.: Desde que a vocalista Karen Gilligan saiu da banda, vocês estão contando com vocalistas convidadas locais nas apresentações ao vivo. Como elas são escolhidas?
Keith: Nós geralmente anunciamos em nosso website ou em nossa página do facebook, ou, algumas vezes, pedimos ao produtor local para conseguir uma vocalista para nós. Elas cantam somente umas quatro ou cinco músicas conosco; temos várias músicas clássicas com vocais femininos, eu poderia cantá-las sozinho e facilitar as coisas, mas sinto que seria uma traição com os fãs então é por isso que fazemos assim.

P.I.: No começo desse ano você foi agredido por alguns caras em Dublin e teve umas costelas fraturadas e outros machucados. Você está totalmente recuperado agora? Algum desses rapazes foi pego?
Keith: Sim, estou bem agora, como se nada tivesse acontecido. (risos) Eles nunca foram pegos, eu nem esperava que fossem porque eram muitos e foi tudo muito rápido, eu nunca seria capaz de identificar quem eles eram. Só vi o rosto de um deles antes de ser nocauteado.

P.I.: Voltando ao assunto música, algumas das letras do Cruachan são escritas em Gaélico, você prefere escrever e cantar em Gaélico ou em Inglês?
Keith: Prefiro escrever em Inglês para que mais pessoas consigam entender o que estou dizendo. Temos pouquíssimas em Gaélico, provavelmente apenas uns nomes de músicas, mas pode ser que eu escreva uma música em Gaélico para o próximo álbum… se funcionar e fizer sentido.

P.I.: Após cinco anos, esse álbum novo, Blood On The Black Robe, é como uma volta às raízes, mais extremo e sombrio que os anteriores. Isso foi intencional?
Keith: Sim, eu sempre quis retornar ao som sombrio porque acredito que o folk metal está se tornando uma piada. Existem muitas bandas felizes e falando sobre bebidas. Há muita escuridão e tristeza na música folk e eu queria explorar isso e continuarei fazendo nos próximos trabalhos.

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P.I.: Tenho lido muitas resenhas positivas sobre o Blood On The Black Robe, o que você pode nos contar sobre esse álbum e as resenhas? Você lê ou se importa com o que os críticos dizem sobre a banda?
Keith: Sim, as resenhas têm sido fantásticas e as vendas, muito melhores do que os álbuns anteriores, então nem preciso falar que estamos todos muito contentes com isso. Para ser honesto, não sou muito bom em ler coisas ruins sobre a banda, o que não é algo bom. Eu levo as resenhas negativas de forma muito pessoal, o que é ridículo porque não tem como a música do Cruachan agradar todo mundo. Uma vez eu li uma resenha de um de nossos álbuns anteriores na qual o autor me amaldiçoou pelo meu vocal e também meus pais, por terem me parido (risos) – isso foi muito extremo!!

P.I.: Como vocês conciliam o emprego, a vida familiar e as turnês? Porque não acho que seja fácil fazer tudo funcionar bem…
Keith: Bom, todos nós temos família, filhos, contas, etc, então temos empregos em tempo integral para manter tudo isso. Como resultado nós nunca saímos tanto em turnê como as outras bandas que não possuem esse tipo de comprometimento. É realmente doloroso, nossa gravadora gostaria de nos colocar em turnês por meses a fio mas isso não é possível por causa dos nossos empregos. Nós damos um jeito de sair o máximo possível, duas semanas em turnê e festivais de final de semana é mais ou menos o máximo que somos capazes de nos comprometermos. É dito que a maioria das bandas consideradas maiores do que nós vive em quase miséria, ganhando muito pouco com sua música, então acho que nós temos o melhor dos dois mundos.

P.I.: Qual sua opinião sobre essas chamadas bandas de folk metal com essas músicas alegres sobre bebida, gnomos e dancinhas? Quero dizer, não que não sejam boas e tal, mas prefiro músicas mais épicas, tipo as do Cruachan, sobre batalhas, honra, mitologia, orgulho…
Keith: Odeio isso. Bom, não é justo, eu devo dizer que não é a minha praia. Um cara muito amigo meu é baixista do Alestorm, e eles são exatamente esse tipo de banda, eu acho. Mas eles têm um número enorme de fãs que os ama e os respeita e isso é ótimo, mas acho que é importante ter um tipo de equilíbrio também, para mostrar que há mais na música folk do que esse tipo de música. Nós também temos partes engraçadas em músicas anteriores mas elas nunca foram o foco principal da banda ou algo perto disso.

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P.I.: Cruachan não é uma banda de guitarra-baixo-bateria, tem vários instrumentos – tin whistle, gaitas, bodhrán, mandolin, e por aí vai. Como é o processo de gravação de todos esses instrumentos (para uma música ou um álbum inteiro)?
Keith: Pode ser realmente um pé no saco mas também é muito divertido. Às vezes nós nunca sabemos como uma música vai ficar até entrarmos em estúdio e começarmos a sobrepor todos esses instrumentos, isso também pode ser muito estimulante – experimentar diferentes sons e instrumentos – vendo o que funciona e o que é um desastre, etc, etc.

P.I.: Vocês usam vestimentas parecidas com as do filme Coração Valente no palco. Quem teve a ideia de usar esse figurino? Isso ajuda na performance em um show?
Keith: Bom, elas são mais baseadas em guerreiros gaélicos irlandeses. É importante lembrar que a imagem da Escócia – com seus kilts, etc – é um resultado direto da migração e invasão irlandesa naquela área. A Irlanda colonizou a Escócia, o kilt é originalmente da Irlanda. Quando os Romanos invadiram a Inglaterra e se depararam com esse Norte cheio de irlandeses, chamaram de “Irish Land” (terra irlandesa), a palavra romana para “Irish” é “Scotti”. De qualquer forma, nós queríamos tentar criar uma atmosfera com uma imagem que combinasse com nossa música – pode ser bem entediante ver uma banda só de jeans e camiseta, é por isso que fazemos assim.

P.I.: Você poderia fazer a gentileza de deixar uma mensagem para seus fãs, leitores do Portal do Inferno?
Keith: Hey – é com grande prazer que finalmente, após todos esses anos, eu posso realmente dizer – VEJO VOCÊS NOS SHOWS!

P.I.: Bom, gostaria de agradecer novamente pelo seu tempo e seja bem-vindo ao Brasil.
Keith: Saudações!

Escrito por

Redação

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