Confronto, banda carioca de metal que completou este ano sua primeira década na estrada, é um dos nomes que se afirma cada vez mais nos cenários brasileiro e mundial. Formada por Felipe Chehuan (vocal), Maxmiliano (guitarra), Eduardo Moratori (baixo) e Felipe Ribeiro (bateria), o Confronto está em fase final de produção do álbum sucessor de Sanctuarium (2008), que conta com participações de grandes nomes da cena nacional e tem lançamento previsto para o começo do ano que vem.
Em entrevista para o Portal do Inferno, o baterista Felipe Ribeiro fala sobre o trabalho da banda neste álbum. Ele também comenta sobre as grandes turnês que já tiveram na Europa, a responsabilidade de levar para públicos tão diferentes as mensagens sobre a realidade da vida dos brasileiros e os planos do Confronto para o final deste ano e 2013, que inclui o lançamento de um documentário. Confira:
Portal do Inferno: Confronto já está na estrada há dez anos e é uma 100% ativa, com diversas turnês não somente no Brasil, mas também pela Europa. Sabemos que são poucos os músicos no Brasil, que conseguem sobreviver apenas da música. Como vocês conciliam o trabalho do dia a dia com a agenda da banda?
Felipe Ribeiro: Na verdade, a coisas foram acontecendo e a sensação que eu tenho é que não foi uma simples questão de escolha. A música e o estilo de vida abraçaram a gente e, quando nos demos conta, estávamos totalmente envolvidos com ela. No começo só queríamos tocar o máximo que pudéssemos e, quando vimos, estávamos abandonando os estudos, os empregos e toda vida social convencional. Hoje conseguimos ver isso com certa clareza, porque nos entregamos de corpo e alma àquilo que amamos. Nossa vida é compor, tocar, gravar, sair em turnê e ver a galera ensandecida e isso exige o máximo de dedicação… ter uma banda, para mim, significa ter um amor, um sonho e compromisso com esse sonho. Hoje, alguns de nós trabalham exclusivamente com o Confronto e outros têm atividades que lhes permitem ter a banda como foco principal de suas vidas. Isso faz toda a diferença para nós.
P.I.: Todas as letras da banda são compostas em português e esse fato não impediu que vocês conseguissem um grande público na Europa. Como é a recepção dos fãs de lá com a música do Confronto?
Felipe: Sempre tivemos uma receptividade muito grande por lá, desde a primeira turnê. Não digo apenas pelas turnês, mas pelo fato de sempre ter nossos CDs lançados lá fora. Já trabalhamos com gravadora alemã, austríaca, belga, italiana e até mesmo russa lançando material do Confronto e todas as músicas sempre foram gravadas em português. Nenhum CD do Confronto até hoje foi gravado em outra língua que não fosse o português. Vejo que existia a curiosidade pelo que era diferente e fora do padrão deles e, no fim, isso acabou sendo uma coisa legal, porque despertou ainda mais o interesse do público europeu pelas questões que envolvem não apenas o Brasil, mas também a America do Sul em geral.
Ouvimos de muitas pessoas na Europa que o Confronto faz o que eles chamam de “New Wave of South American Metal” (A Nova Onda do Metal Sul-americano), um movimento que já aconteceu na Inglaterra, nos Estados Unidos, Suécia e em várias partes do mundo, trazendo renovação e uma maneira de reinventar a forma característica de se fazer heavy metal. Achamos isso sensacional, pois imaginar um belga cantando “Amor pela favela… reduto de nossa esperança e lar de nossas fraquezas” parece algo surreal, não? Pois então, é difícil alguém que nasce na Áustria, por exemplo, entender o conceito de pobreza tal como nós temos aqui no Brasil. Fazer com que eles entendam, respeitem e admirem a nossa força foi um desafio pra nós.
É muito legal a gente fazer um show na República Tcheca, Polônia, Alemanha, Itália, por exemplo, e ver as pessoas cantando ou pelo menos tentando cantar as músicas em português. Essa é a nova onda do metal sul-americano e acredito que é uma grande conquista!
P.I.: No meu ponto de vista, as composições do Confronto retratam a vida de um cara da periferia, mostrando a realidade vivida por vocês e por muitos no Brasil. Qual foi a reação de vocês quando a banda estourou na Europa, um lugar com uma realidade tão diferente, e não no Brasil?
Felipe: Então, isso foi algo que sempre carregamos com a gente e vou te dizer que nunca tivemos um controle sobre isso. As letras fluem com a mesma naturalidade com que respiramos e nunca conseguimos retirar a influência das nossas raízes naquilo que escrevemos. E também, nunca quisemos fazer diferente!
Para nós, há praticamente 10 anos, foi um choque absurdo de realidade sair da Baixada Fluminense e passar por países como Dinamarca, Espanha, Suíça, etc. Demoramos um tempo para absorver aquilo, pois era como estar em outra dimensão. Foi uma mistura de alegria, tristeza, desesperança e de certa forma, ter certeza daquilo que já imaginávamos antes: de que vivíamos no Brasil, uma espécie de inferno. Mas, por outro lado, a parte positiva é que essa experiência também nos serviu de incentivo, pois veja bem: o Brasil é geograficamente bonito, tem samba, Sepultura, praias paradisíacas e futebol (que hoje já nem é tão bom assim) e isso todos sabem… é a parte boa.
O mundo sabe que o Brasil é um país dito em “desenvolvimento”, mas o que muitos não sabem é a relação que as pessoas daqui têm com a pobreza, com o descaso, como é a vida cotidiana, o grau de abandono que boa parte do povo sofre. E acho legal que o público europeu e mundial tenham essa dimensão, esse conhecimento e que pelo menos saibam que aqui existem pessoas e bandas dispostas a encarar as coisas de frente e não ver apenas pelo lado glamuroso e conveniente.
P.I.: Vocês estão trabalhando novamente com Davi Baeta na produção do novo CD. Foi unânime a escolha dele? Quais elementos ele traz para a sonoridade do Confronto e quais características vocês levam em conta na hora de escolher a equipe que vai trabalhar com vocês em um álbum?
Felipe: Já trabalhamos com o Davi Baeta há praticamente 10 anos e ele foi responsável direto por muitas coisas que aprendemos no decorrer da nossa carreira, nos ajudando a encontrar as nossas próprias características musicais e fazendo com que consigamos registrá-las em nossos CDs da maneira mais real e natural possível. Um dos motivos que sempre gostarmos de trabalhar com ele é que, além da amizade, nós nos identificamos com a forma de pensarmos no metal como uma música com respiração, feita com pegada, transmissão de sentimento e energia. E levarmos isso para dentro do estúdio com naturalidade e personalidade. Não de forma mecânica e automatizada como vemos muito por aí hoje em dia.
Existem bandas que soam como relógio quando ouvimos o CD, quase como máquinas, perfeitas, mas incapazes de inspirar. O resultado é que quando vemos os shows dessas bandas, entendemos porque soam assim, frias. Elas utilizam o máximo de recursos tecnológicos em estúdio para chegar a uma perfeição sobre-humana e não conseguem transmitir sentimento, parece algo mecânico.
Nós, do Confronto, percebemos que as bandas que nos inspiram e que são capazes de inspirar pessoas têm pulsação, soam humanas. Não queremos ouvir algo que pareça um robô, uma máquina tocando ou um computador fazendo rock. Quero ouvir um som, uma música e ter a sensação que existem pessoas ali dando o sangue para fazer o melhor, suando, colocando a inspiração para fora, respirando e sentindo a música que estão fazendo. É justamente isso que procurando com o Confronto, e o Davi sempre foi parte fundamental nessa busca.
Na gravação deste novo CD contamos também com a coprodução do Gabriel Zander (Bil), que também é amigo de longa data e que tem uma identificação muito grande com o que fazemos, não só musicalmente, mas também sob o aspecto da afinidade pessoal mesmo! Ficamos trancafiados por um bom tempo no Superfuzz, no Rio de Janeiro, que é um estúdio maravilhoso e um ambiente perfeito pra gravarmos o melhor CD que já fizemos até hoje. Tenho certeza disso!
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P.I.: O novo trabalho já tem nome ou ainda é segredo? Quando pretendem lançá-lo?
Felipe: Tem não apenas o nome, mas também muita coisa já pronta, como todo projeto gráfico, vídeos e mais algumas surpresas que virão junto com o lançamento. No entanto, ainda preferimos manter segredo e divulgaremos tudo em breve. Acredito que início de 2013 o CD já estará nas ruas. Para adiantar, todo projeto gráfico foi feito na Alemanha pelo artista Patrick Wisttock, que já trabalhou com Confronto no DVD que lançamos em 2010 e no ultimo CD de estúdio Sactuarium (2008). Ele também já trabalhou com bandas como Amon Amarth, Grave, Heaven Shall Burn, entre outras.
P.I.: Este novo CD conta com inúmeras participações especiais, entre elas João Gordo (Ratos de Porão), Carlos Lopes (Dorsal Atlântica), Felipe Eregion (Unearthly), entre outros. Como surgiu a ideia de chamar esses caras para participarem do disco?
Felipe: Pois é, contamos com todas essas participações e cada uma tem a sua história. Por exemplo, o João Gordo vem de uma relação de amizade que criamos com o Ratos de Porão, que começou há alguns anos. Tocamos muitas vezes juntos e, depois de dividirmos várias vezes o mesmo palco, o mesmo camarim e roles, acabamos criando uma relação pessoal com banda. O João Gordo já havia gravado uma participação para um documentário que vamos lançar futuramente e, quando estávamos compondo para o novo CD, fizemos uma música que na hora que ficou pronta o Felipe Chehuan (vocal) teve a sacada de achar que ela ficaria muito mais brutal com a voz do Gordo. Seria legal ter a voz dele dentro de uma música que tem mais o nosso estilo do que o do Ratos de Porão, e assim foi feito. Chehuan ligou pra ele e marcaram a gravação em São Paulo. Foi sensacional!
Já o Carlos Lopes estava gravando o CD do Dorsal Atlântica no estúdio Superfuzz exatamente no mesmo período em que estávamos finalizando a gravação dos vocais para o CD do Confronto. Chegamos ao estúdio e o Carlos tinha acabado de sair e estava tomando café na padaria ao lado, quando alguém falou: “Porra, o Carlos Lopes! Chama o cara pra gravar umas vozes!”. Ele foi lá e gravou com a gente em um clima muito maneiro, com direito a várias histórias e risadas. Foi muito legal espontâneo.
E o Felipe Eregion (Unerthly) e o pessoal da banda Lacerated and Carbonized, além da amizade e do companheirismo da cena aqui no Rio de Janeiro, foram unanimidade quando pensamos em convidados para gravar algumas vozes para o disco! São duas bandas brasileiras do mais alto nível e que fazem as coisas acontecerem de fato, além de serem pessoas incríveis!
P.I.: O movimento Straight Edge tem o Confronto como uma referência, eu nunca achei que as letras da banda estivessem ligadas a esse movimento. Na opinião de vocês, qual é o motivo dessa ligação? Tem a ver com o fato de vocês serem vegetarianos ou a banda realmente se identifica com o movimento?
Felipe: A verdade é que quando escrevemos nossas letras, não pensamos em movimento, em cena e em nada disso. Escrevemos sobre o que pensamos e sentimos em relação às coisas que estão a nossa volta, sobre a nossa visão de mundo, nossas frustrações, nosso ódio, nossa revolta e as nossas guerras diárias. No decorrer desses muitos anos de banda, vimos que muitas pessoas se identificam com a maneira que encaramos as coisas e isso foi crescendo cada vez mais, tomando uma proporção absurda. Ficamos muito felizes em ver que o Confronto consegue agregar diferentes pessoas, pontos de vista e estilos e é legal ver um show nosso lotado de headbangers, thrashers, pessoal do hardcore, straight edges e todos que curtem som pesado de uma maneira geral.
Tocar heavy metal, na nossa maneira de ver, tem a ver com isso: agregar pessoas, juntar essa legião de gente que, de certa forma, escolheu se opor a sociedade dita convencional e negar os padrões. Temos posições bem firmes, definidas e as pessoas se identificam com elas e nos respeitam. Elas sabem que não impomos verdades absolutas, mas que compartilhamos ideias. Nossa posição é clara: sabemos o que somos, quem são os inimigos e, por esse motivo, hoje em dia temos um exército do nosso lado!
P.I.: De tantos shows que vocês fizeram pelo mundo, qual foi o mais marcante e por quê? O que diferencia a plateia brasileira das demais?
Felipe: Olha, foram muitos shows e momentos marcantes, o que dificulta muito escolher um especifico. Mas para citar alguns, podemos escolher o show de gravação do nosso DVD, em São Paulo, no Jabaquara; o show no Quito Fest, no Equador, diante de 50 mil pessoas; o Leper Fest, na Bélgica, ao lado de bandas com Voivod, Dying Fetus, Madball; show com Testament. Enfim, foram muitos momentos marcantes!
Sobre o público, nada se compara ao sul-americano. Não somos apenas nós que falamos, os próprios europeus e americanos falam isso. Sangue latino… sangue quente! É uma coisa quase selvagem, com entrega total, à flor da pele. Temos que ter muito orgulho disso!
P.I.: Quais os planos da banda para 2013? Com o lançamento do novo trabalho, vocês já têm planos para agendar uma turnê no Brasil e na gringa?
Felipe: No começo de 2013 lançaremos o novo CD e, com ele, começaremos mais uma extensa turnê por todo Brasil, América do Sul e mais uma turnê europeia. Tudo já está sendo programado e agendado pela nossa agência de shows, a Sob Controle. Voltaremos à estrada, onde é o nosso lugar e é o que mais gostamos de fazer: shows e mais shows!
P.I.: Obrigado pela entrevista, o espaço é seu para mandar um recado aos fãs do Confronto.
Felipe: Nós que agradecemos a entrevista, o espaço e será sempre um prazer poder participar de alguma forma. Estaremos sempre prontos! E é o seguinte: fiquem antenados que muita coisa absurda está pra acontecer e muitas novidades começarão a ser anunciadas, pois o novo CD do Confronto certamente será, sem sombra de dúvidas, o melhor álbum que já produzimos. Fiquem atentos também às últimas datas da turnê “Confronto: 10 Anos de Tour”: 17/11, no Circo Voador (RJ) com Dead Fish; 18/11, no Hocus Pocus, São José dos Campos (SP); 25/11, em Macaé (RJ) e 14/12, novamente no Circo Voador com o Matanza. E para todas as informações sobre a banda, promoções, datas, fotos, vídeos, é só a galera clicar, curtir e fazer parte da página oficial do Confronto no Facebook. Grande abraço a todos! Confronto 2012!