Vidas Negras Importam!

Em uma época em que ainda é necessário mostrar a importância dos negros na sociedade e eliminar de vez o racismo, o Portal do Inferno, traz uma reportagem exaltando os negros no Heavy Metal.

Os negros são pioneiros em vários gêneros musicais e que influenciaram estilos que surgiram ao longo das últimas décadas. Podemos citar o blues e o jazz que plantaram a semente do rock e que depois viria o heavy metal.

O metal surgiu no final dos anos 60 na Inglaterra e era composto basicamente pela classe operária britânica. Em sua maioria, eram brancos. Isso persistiu majoritariamente na década de 80. Aos poucos, os negros foram procurando e buscando seu espaço em um meio extremamente branco (inclusive em bandas africanas).

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Bad Brains: banda referência para muitos headbangers. Imagem: divulgação

O grande nome que surge ao pensarmos nessa temática é o de Derrick Green do Sepultura. É um vocalista estadunidense em um grupo brasileiro. Dois países que tiveram muitos escravos e têm uma cultura afro-americana muito rica.

Derrick sofreu muita resistência por parte dos fãs do Sepultura e por parte da imprensa. É claro que a saída de Max Cavalera no auge do grupo, fez o público se sentir viúvo. Mas sempre cabe o questionamento: será que se tivesse entrado um branco no lugar, ele teria sofrido a mesma rejeição que Derrick?

Passado 23 anos, Derrick segue na banda e já gravou 9 álbuns de estúdios.

Nos últimos anos têm sido comum aparecer bandas brasileiras com negros e que exploram  temáticas culturais e sociais . O que é ótimo, em um país miscigenado e que teve influência de várias etnias. Um bom exemplo é o Quilombo que através de um Brutal Death Metal, fala sobre os africanos que vieram ao Brasil e as consequências nos dias de hoje.

Já na Europa também há essas aparições, como é o caso das ótimas  bandas italiana Frozen Crown e  francesa Ianwill. Ambas com mulheres negras!

Para fazer esse especial, contei com a participação do meu amigo e headbanger Guilherme Santos, que conhece muito sobre os assuntos: heavy metal e cultura negra!

Confira:

Bad Brains:

Representatividade negra na música pesada

Guilherme Santos

Fundado em 1977, o Bad Brains é um dos pioneiros na representatividade negra na música pesada. O grupo oriundo de Washington DC (EUA) é composto por HR (vocal), Dr. Know (guitarra), Darryl Jennifer (baixo) e Earl Hudson (bateria) e já possui 11 álbuns de estúdio.

O Bad Brains se consolidou como um dos criadores do hardcore punk e serviu como influência para diversas vertentes do metal extremo. Anthrax, Hatebreed, Sepultura e Ratos de Porão são algumas das bandas que beberam da fonte dos americanos. Os destaques recomendados são os álbuns Rock for light (1983) e I Against (1986). Positive Mental Attitude!

Sepultura

Derrick é a voz da resistência

Leonardo Cantarelli

A primeira banda relevante do heavy metal que colocou um negro como protagonista foi o Sepultura. Após a saída de Max Cavalera, os brasileiros foram atrás de Derrick Green, até então, desconhecido do público headbanger. O americano entrou em um momento complicado no Sepultura: os mineiros estavam no auge e Max era idolatrado pelos fãs.  Isso fez com que Derrick, de início,  não fosse bem recebido e sofreu duras críticas de muitos fãs e parte da imprensa.

A tendência era que não seguisse muito tempo ou o grupo encerrasse as atividades. Entretanto, o estadunidense segue no vocal e já gravou 9 álbuns de estúdio. Derrick resiste, mesmo com muitos fãs, ainda terem esperança de ver os irmãos Cavalera de volta ao Sepultura.

Hirax

Uma banda necessária e um espelho de representação para qualquer headbanger pret@

Guilherme Santos

O movimento thrash metal foi um fenômeno mundial e revolucionário para o cenário do rock pesado. Dentro desse celeiro de bandas pesadas, surgiu em 1982, o Hirax. O seu idealizador foi Katon W. De Pena: negro, extremamente carismático e dono de uma voz potente. Ele sempre esteve na liderança do grupo oriundo da Califórnia, que teve muitas formações. O primeiro álbum gravado foi o Raging Violence, em 1985. O disco possui um apanhado caótico de músicas curtas com influências de speed metal e hardcore punk. No ano seguinte, os estadunidenses lançaram o EP Hate, Fear and Power, que pode ser considerado um dos discos mais velozes de todos os tempos.

A banda encerrou as atividades no final dos anos 80 e retornou no início dos anos 2000, gravando os excelentes The New Age of Terror (2004) e El Rostro de La Muerte (2009).

Criminal Mosh

Temas urbanos aliados ao terror. Banda boa e extremamente necessária

Guilherme Santos

O crossover no Brasil tem uma história incrível e com certeza o Criminal Mosh é parte significativa dessa sonoridade.Formada em São Paulo, em 2005, a banda sempre fez um som calcado no thrash metal com hardcore e trazendo temas urbanos misturados com a temática do horror.O primeiro registro, violência explícita, é totalmente indicado para fãs de Lobotomia, Dorsal Atlântica, Ratos de Porão, Crumbsuckers , Corrosion of Conformity e Bad Brains.

A banda teve várias formações, mas sempre contou com Marcelo ‘Mosh’ na liderança. Nos últimos anos, o grupo trouxe influências do Hip-Hop da velha escola ao som que remete bastante ao Body Count. Recentemente, a banda lançou o clipe single da música ‘ O Crime e a Razão’ com a participação do W-Yo,ex-RPW. Além do Criminal Mosh,  Marcelo também é vocalista do VMR (Vanguarda Metal Revolucionária) e do Kennyata Leste.

Frozen Crown

Power Metal com guitarrista negra e canhota

Leonardo Cantarelli

O Frozen Crown é mais uma das inúmeras belas bandas de power metal da Itália.  Com dois álbuns de estúdio lançados, o grupo oriundo de Milão, conta com a guitarrista Talia Bellazecca, que é negra e canhota! Um diferencial dentre os grupos europeus. Bellazzeca , que tem origens cubanas, está na banda desde 2017.

A performance da jovem italiana pode ser vista no vídeo abaixo.

Ianwill

Death metal francês com mulher negra no vocal

Leonardo Cantarelli

Mulheres no heavy metal galgaram seu espaço nos anos 80 e 90. Mas eram mais comuns em bandas de heavy metal tradicional, power metal e symphonic metal. Nos anos 2000, com Angela Gossow nos vocais do Arch Enemy, houve mais mulheres se arriscando em grupos que praticam um som mais extremo.

Agora, o Ianwill se destaca não só por ter uma mulher no vocal, mas pelo fato de ser negra. Algo ainda raro no meio headbanger!

A banda francesa iniciou suas atividades em 2011 e lançou seu primeiro álbum em 2019 ( One Credit left) . As vozes ficam por conta de Audrey Ebrotié!

O grupo pratica um Death Metal Melódico/Metalcore, que em alguns momentos nos remete ao lendário Arch Enemy.

Vale ressaltar, que a vocalista de 32 anos esteve em outro grupo, também de Death Metal Melódico, que se chamou Diary of Destruction.

Quilombo

Temática negra pautada por um historiador

Guilherme Santos

Projeto necessário na cena do heavy metal, onde o tema é a negritude e é pautado por um historiador. Panda Reis, além de ser baterista da lendária banda de death metal Oligarquia, teve como trabalho de pesquisa a história africana e indígena.  A ideia da banda é trazer um recorte real indo contra a historiografia tendenciosa do nosso país que sempre colocou a pessoa negra de forma extremamente pejorativa e indo contra a falácia preconceituosa e euro centrista presente em diversos setores da sociedade, incluindo o heavy metal, que se tornou cada vez mais conservador e preconceituoso.

O EP de estreia foi “Itankale” e foi lançado em 2018. É um disco que conta a história de um africano que veio escravizado para o Brasil e tem que se adaptar a uma realidade completamente diferente da que vivia em sua terra de origem.  Isso também é negativo, pois, foi uma forma de apagar a força a história do povo africano. O EP é histórico, pois fala desde a escravidão até os dias de hoje. É importante também tanto para o conhecimento quanto a representatividade, pois, mostra que o povo africano era muito evoluído e grandioso, indo contra o pensamento racista e escravocrata. Como está evidente no release da banda :Quilombo não veio para causar desigualdade ou pender a ‘balança’ para um dos lados, mas sim para dar a versão à quem não tinha direito à voz e à escrita, e falar de si mesmo, para equilibrar a ‘balança’.

Confira o EP:

S.U.C.

Sádica Utópica e Convergente

Leonardo Cantarelli

Aqui vai uma homenagem ao colaborador Guilherme Santos, que ajudou muito nesse projeto e em outros artigos Para quem não conhece a S.U.C., banda de grind/death, sugiro que veja a matéria publicada aqui no site e o vídeo abaixo. O grupo oriundo de São Carlos/SP faz músicas contestando os governos atuais, a sociedade conservadora e não tem medo de se posicionarem. Guilherme é o baterista da banda.

Recentemente a S.U.C. lançou o vídeo abaixo, mostrando toda a sua indignação em relação ao período conturbado que vivemos. Em 37 segundos se tem uma boa base das atrocidades que vive boa parte da população;

Escrito por

Leonardo Cantarelli

Headbanger, jornalista formado, autor de 2 livros e mesatenista!