Definitivamente, 2013 não está sendo um ano fácil para o Bon Jovi. Primeiro, a banda lançou, em março, o fraco e criticado álbum What About Now; em abril, o guitarrista Richie Sambora abandonou a turnê e o grupo, e quase seis meses depois, os fãs ainda não receberam uma explicação oficial e consistente; por fim, prestes a embarcar para os shows na América Latina, o baterista Tico Torres passou por duas emergências médicas, adiando shows no México, Chile, Argentina e São Paulo, e na véspera da apresentação no Rock in Rio, foi substituído às pressas por Rich Scannella.
Mesmo com todas as dificuldades, o que se viu durante a turnê Because We Can foi o Bon Jovi lotando estádios e arenas por onde passou. Prova disso foi o show que a banda fez no último domingo, em São Paulo, no Estádio do Morumbi, não com sua capacidade total, mas muito cheio. O público estava mais do que empolgado para recepcionar o grupo que não tocava aqui há quase três anos.
A abertura ficou por conta do Nickelback, que fazia sua estreia em terras brasileiras. Amada por alguns, odiada por outros devido ao grande apelo comercial que caracterizou a carreira no começo dos anos 2000, a banda até que fez um show honesto, recheado de hits. É só pegar a videografia e constatar: a maioria das músicas estava lá. Talvez tenha sido uma boa tática para conquistar um público até então desconhecido por eles. Com um setlist semelhante ao do Rock in Rio, não faltaram sucessos como Animals, Rockstar e Too Bad, que ganhou um clima ainda mais pesado com a forte chuva que começou a cair no momento – e a piada de que a banda trouxe o tempo de Vancouver, pois lá chove cerca de 10 meses por ano. E, claro, eles reservaram um bom espaço para suas baladas. Algumas foram acompanhadas no violão por Tim Dawson, antigo técnico de som e guitarrista de apoio da banda, que se juntou novamente à equipe. Photograph, Far Away, Savin’ Me, Someday e How You Remind Me, que encerrou o show de pouco mais de uma hora, acalmaram os ânimos mais aflitos que aguardavam o Bon Jovi.
Claramente felizes por estarem ali, os canadenses sorriam o tempo todo, faziam piadas e tentaram ganhar a simpatia do público que, por sua vez, respondeu positivamente. Tomara que a banda não demore outros 18 anos para voltar ao Brasil e tenha a chance de fazer shows como atração principal.
Às 20h em ponto as luzes do estádio se apagaram e fotos e imagens de turnê no telão anunciavam a grande atração. O público, em sua maioria, é claro, formado por mulheres, ficou eufórico. Liderados por Jon Bon Jovi, os músicos David Bryan (teclados), Hugh McDonald (baixo), Phil X e Bobby Bandiera (guitarras) e Rich Scannella (bateria) tomaram seus lugares no palco e iniciaram o setlist com That’s What the Water Made Me, do novo disco. Sem muito tempo a perder, já emendaram com os sucessos de 1986 You Give Love A Bad Name e Raise Your Hands.
Com exceção das duas últimas músicas da noite, o repertório foi igual ao tocado no Rock in Rio, na sexta-feira anterior, mesclando baladas, sucessos antigos, homenagem aos Rolling Stones e poucas músicas do CD novo. Mas nem essa repetição desanimou os fãs e Jon parecia visivelmente menos preocupado e se soltou mais no palco. Bobby, Hugh e Rich não tiveram suas imagens exibidas no telão novamente, o que causou certa indignação no público. E, inspiradas pela fã que foi convidada a subir no palco no Rock in Rio e beijou Jon, muitas paulistas fizeram o mesmo e o que se viu na pista premium foi uma grande exposição de cartazes pedindo para ser a próxima sortuda. Jon dessa vez não atendeu aos pedidos. Não faltaram também mensagens desejando melhoras para Tico Torres e alguns pedidos de músicas.
Sobre os músicos que atualmente apoiam Jon na turnê, Hugh e Bobby são velhos conhecidos do público – o baixista está extraoficialmente na banda desde a saída de Alec John Such, em 1994; e o guitarrista acompanhou as últimas turnês como músico de apoio. Phil X, convidado para substituir Richie Sambora, é um grande guitarrista, carismático com o público, mostra que conhece bem o repertório, mas falta o feeling, aquela pegada a qual todos estavam acostumados a ver no canto esquerdo do palco. Já o baterista Rich Scannella foi uma grande solução para uma situação que precisava ser contornada com urgência. Talvez o setlist tenha sido tão repetitivo justamente pela falta de tempo que o baterista teve para tirar outras músicas. Quem ganhou destaque com isso tudo foi o tecladista David Bryan, muito querido pelos fãs e que teve um pouco mais de atenção e luz dos holofotes.
Um dos pontos altos da noite foi quando Jon pediu para que todos acendessem seus celulares e iluminassem o estádio durante a execução de Wanted Dead or Alive. Foi lindo ver milhares de pontos de luz direcionados para a banda sob a chuva que caía e, ao mesmo tempo, estranho ouvir este clássico sem os backing vocals de Sambora. Jon aproveitou o momento após essa música para falar sobre a situação de Tico Torres e de como eles não poderiam deixar de visitar o Brasil novamente. Agradeceu o apoio de todos os fãs e a ajuda de Scannella.
Livin’ On A Prayer, outra clássica de Slippery When Wet, fechou o setlist oficial da noite e fez o estádio todo cantar e pular junto. Ao se despedir, o público começou a gritar as músicas que gostariam de ouvir, de Always, a These Days e In These Arms, os pedidos foram os mais diversos. A banda se reuniu no centro do palco e prepararam mais duas surpresas. Jon disse que queria transformar o lugar em um bar de 1968 e começaram a tocar Oh, Pretty Woman, de Roy Orbison, com grande participação de Bobby nos backing vocals. Logo após, sob forte chuva, o Bon Jovi finalizou pra valer o show com Born to Be My Baby e fez até os mais quietos e cansados esquecerem o tempo ruim e cantarem.
Dadas as devidas condições, sem Richie, sem Tico, com um clima interno claramente abalado, o Bon Jovi conseguiu fazer um grande show, SIM. Jon ainda é um grande frontman, não canta como antes, mas isso não é novidade para ninguém. Ainda assim, tem seu público fiel por onde passa. O futuro da banda ainda é uma incógnita para os fãs, e talvez até para eles. Para quem acompanha a carreira do Bon Jovi e presenciou essa passagem pelo Brasil, resta torcer por melhores dias e que esse legado não termine.
Setlist Nickelback:
Animals
Something in Your Mouth
Photograph
Far Away
When We Stand Together
Savin’ Me
Too Bad
Someday
Rockstar
Figured You Out
How You Remind Me
Setlist Bon Jovi:
That’s What the Water Made Me
You Give Love a Bad Name
Raise Your Hands
Runaway
Lost Highway
Whole Lot of Livin’
It’s My Life
Because We Can
What About Now
We Got It Going On
Keep the Faith
(You Want to) Make A Memory
Captain Crash and the Beauty Queen from Mars
We Weren’t Born to Follow
Who Says You Can’t Go Home
I’ll Sleep When I’m Dead / Start Me Up (Rolling Stones cover)
Bad Medicine / Shout (The Isley Brothers cover)
Bis:
Wanted Dead or Alive
Have a Nice Day
Livin’ On A Prayer
Bis 2:
Oh, Pretty Woman (Roy Orbison cover)
Born to Be My Baby