Abro esta resenha dizendo que meu conhecimento musical sobre o Mötley não passava de quatro músicas, até a semana do show. Porém, impossível passar despercebido pela história desses caras como banda, e a relevância que eles conseguiram dentro desses trinta anos de estrada. E essa tour atual celebra exatamente isso: os trintas anos de história escrita através de muito sexo, drogas & Rock ‘n’ Roll. E, obvio, você vai para o show esperando ter uma “overdose” disso tudo! Afinal, esperar por um grande show é lugar comum; cruzar com muito álcool idem; e como deixar de lado a lenda de todas as garotas com seios a mostra na platéia? E foi nesse clima que fui para esse show.
Como estava ali de turista (leia-se rodando sem rumo o dia todo pela cidade e sem conhecimento exato de como chegar ao local do show), acabei chegando atrasado ao ginásio, e isso me fez perder o show de abertura, que ficou a cargo da banda Buckcherry. Consegui ver apenas pouco mais de três músicas, mas a impressão que fiquei é que a banda faz um som bem legal, que funciona muito bem ao vivo, pois o público vibrava como se eles fossem a atração principal. Lamentei ter perdido.
Quando os músicos saíram do palco, o mesmo foi literalmente tomado por um time de roadies! Nunca tinha visto tanta gente em cima de um palco, se mexendo para aprontá-lo para um show. Em poucos minutos os tambores gigantescos da bateria do Tommy Lee já podiam ser vistos ao fundo. E então, mesmo sem ter noção exata do que esperar ali, as informações históricas começam a gritar na cabeça. E entre elas estavam as brigas entre Vince e o resto do time. Não parava de me perguntar como isso seria trabalhado em cima do palco. E exatamente as 21h35, os astros principais tomavam o palco.
Wild Side foi a escolhida para iniciar o show. Fiquei feliz, pois essa era uma das quatro que eu conhecia! E o que eu pude perceber logo de cara é que o show teria uma troca de energia muito grande entre banda e público. Saints of Los Angeles seguiu-se, e depois Live Wire, mais uma que pude curtir. Ali eu já estava feliz com a parte Rock ‘n’ Roll do que havia ido buscar. Shout at the Devil, Same Ol’ Situation (S.O.S.), Primal Scream, e a 1ª pausa. Todos saem do palco, e Tommy vem a frente falar com o público. E então encontrei a parte etílica da trilogia, quando ele mesmo perguntou se todos tinham suas devidas bebidas em mãos. Conversou um tanto com o público, e então dirigiu-se ao piano atrás da bateria. Era o sinal para Home Sweet Home, essa acredito que qualquer um conheça. Linda parte do show. Don’t Go Away Mad (Just Go Away) e solo do Mick Mars, que até falou algumas palavras ao microfone! Helter Skelter dos Beatles foi a surpresa da noite (exclusiva desse show), e seguiu-se de mais um momento curioso: após essa música a banda saiu brevemente do palco novamente, e Nikki Sixx puxou um garotinho que estava na platéia. Poucas vezes na vida vi crianças em um show assim. Engraçado foi ele perguntando ao garoto se ele curtia Justin Bieber, e a obvia resposta negativa! Também fui curioso vê-lo dizendo que a Argentina era o melhor público da banda na América do Sul, e presenciar a enorme vaia ao ver o Brasil citado. Enfim. Na sequência tivemos Dr. Feelgood, Too Young to Fall in Love, Ten Seconds to Love, Smokin’ In The Boys Room (Brownsville Station cover com “Rock and Roll” de Gary Glitter) e a com talvéz mais cara de “hino”: Girls Girls Girls. Aqui já estávamos na décima quinta música, e eu continuava me perguntando sobre as desavenças pessoais dos caras. Pois até ali, com mais de uma hora e meia de show, eu não pude perceber absolutamente NADA que desse a entender essa situação entre eles. Se vc não conhece esse lado dos bastidores, jamais imagina que ele existe. Pois o profissionalismo deles consegue suprimir isso de uma forma contundente! Na sequência Kickstart my Heart, e agora o ginásio quase vinha abaixo! E, para minha surpresa, aquela foi a última música. Não houve bis! Acredito que este tenha sido o 1° show em mais de 16 anos de bagagem nas costas que eu vi uma banda encerra-lo sem bis! Isso deixou uma impressão muito positiva em mim, pois mostrou que a energia percebida logo ao início perdurou durante os 100 minutos de palco. Um showzaço, para fazer até que não é fã (eu, por exemplo) deixar o local com um gosto muito bom na boca!
Aí, quando vc pensa “Acabou o show, e que baita show, essa resenha vai ficar muito foda!” Tommy Lee fica sozinho no palco e começa seu Hip Hop com a galera. Tommy: ”I say Mötley, you say Crüe”; Tommy: “Mötley” – galera “Crüe!” Tomy “I say Mick, you say Mars”, e a bricadeira segue. “I say Nikki, you say Sixx”, mais um. “I say Tommy, you say Lee” eh, que legal! “I say Mötley, you say Crüe”, a galera responde e ele sai do palco. Mas, espera, onde fica o Vince nessa história? Sim, leitores, a “treta” totalmente contornada com profissionalismo durante todo o show agora era arremessada na cara de quem ainda fazia questão de ignora-la. Nunca havia presenciado uma “declaração de guerra” clara em cima de um palco. Mais uma para contar para os netos!
E depois disso tudo, eu poderia me perguntar: “mas onde estavam os seios de fora para completar a trilogia?” As recatadas argentinas não fizeram sua parte. Mas, definitivamente, não fez a menor falta!