A iniciativa de juntar três bandas de estilos diferentes foi, no mínimo, digna de debate. Ela surgiu da idéia de juntar, em um só evento, as três maiores bilheterias que a produtora Liberation atingiu, já que esta era sua festa de vinte anos. Muitos apoiaram, pregando a união do meio de forma pacífica no mesmo ambiente. Outros tantos acharam que deveria ser dividido, pois o evento teria mais força. Outra vertente levantou fortemente a bandeira que, ao menos o Lacuna Coil (que está em início de turnê mundial de divulgação de seu mais recente álbum, Dark Adrenaline) deveria vir para um show completo. A verdade é que a iniciativa foi plenamente abraçada pelos três públicos, que lotaram a casa e travaram uma divertida disputa de “gritos de guerra” com o nome de sua banda preferida ali. Mas, vamos aos shows!
Lacuna Coil
Quero deixar claro aqui que sou um fã inveterado e incondicional de Lacuna Coil, a mais de doze anos. Estive no show em 2010, um show completo, e a perspectiva de ver um show pela metade estava me incomodando um pouco. E exatamente no horário marcado, com talvez no máximo 5 minutos de atraso, os italianos irromperam ao palco, mandando uma das faixas do atual trabalho, a I Don`t Believe in Tomorrow. Uma músca, digamos, “estranha” para se começar um show, mas serviu para trazer todos para o mesmo. Na sequência, I Won`t tell You, uma grande música do álbum Shallow Life, que funciona maravilhosamente ao vivo. Na sequência, Kill the Light, uma baita música do último trabalho deles. Ótima em estúdio, ótima ao vivo. Mais uma do Dark Adrenaline, Upsidedown, e então começamos a viagem pelos sons mais antigos, ou clássicos como alguns preferem. E só não vou dizer que aqui começou uma parte um tanto quanto decepcionante do show, por que tivemos acesso prévio ao setlist, logo sabíamos o que ouviríamos. Swamped, Fragile, Heavens a Lie, Senzafine e Our Truth. E só. Todos esperando alguma “lado B”, como as que haviam sido tocadas no México dois dias antes, uma que fosse, mas não aconteceu. Executaram apenas os hinos. E ainda com direito a uma “escorregada” grande de Cristina no final de Senzafine, com direito a olhadinha com aquela cara de “Ops, sorry!” para Criz Mozatti ao fim da mesma. Não é necessário dizer que todos enlouqueceram com Swamped e Heavens, assim como pularam como nunca ao comando de Andrea, em Fragile. A energia ali era indiscutível! Após essas, mais duas do Dark Adrenaline: Give me Something More (que soou mais agradável ao vivo que em estúdio) e Trip the Darkness, pesadíssima, muito boa ao vivo! E para fechar, a paulada Spellbound, que acredito já possa ser incluída no grupo de hinos da banda.
Um show curto, uma hora (exatamente como havia sido anunciado), doze músicas. Muita energia, muita interatividade com o público. Como é de praxe, Cristina e Andrea sempre muito comunicativos. Posso dizer que em termos de interatividade e reciprocidade e troca de energia com o público, esse show em nada ficou devendo ao de 2010. Para os que estiveram ali para ver apenas o Lacuna (já que várias pessoas puderam ser vistas indo embora ao fim desse show), a única negativa acredito tenha sido o set extremamente curto. Para mim, foi mais um momento único, que acabou com minha garganta e meu pescoço! (rs)
Hatebreed
Certamente a banda com menor mídia em cima, das três do staff dessa noite, o Hatebreed mostrou que somente mídia não constrói um público fiel e entusiasmado. O “Hatebreed Team” fazia questão de mostrar que estava ali desde o início da noite, antes mesmo do show do Lacuna, entoando forte e frequentemente o nome de sua banda preferida. Também pontualmente, com aquele atraso irrelevante, o Hatebreed toma de assalto o palco e começa a verdadeiramente colocar abaixo a casa, causando um terremoto sonoro e todo o respaldo do público contribuindo para! Jamey Jasta, além de comandar os vocais com muita interação com o público, controlou o mesmo e desestabilizou os sismógrafos da região com uma presença de palco vertiginosa! Durante uma hora, assim como foi com o Lacuna Coil, a banda detonou seu Metalcore pesado e agressivo. A todo momento, para onde se olhava, podia-se ver aquele famoso “pogar”, com toda a massa pulando, principalmente no refrão de cada petardo. Frank Novinec e Wayne Lozinak faziam a linha de frente com suas guitarras pesadas, enquanto Chris Beattie (baixo) e Matt Byrne (bateria) davam a coesão necessária ao fundo, com uma cozinha milimétricamente esmagadora. A pancadaria se fez presente com I Will be Heard, Smash Your Enemies, As Diehard as They Come e Destroy Everything. E, a julgar apenas pelo nome das músicas, pode-se perceber que o que foi narrado aqui não é apelas falácia redatorial…
Alguns detratores poderiam dizer que tivemos uma hora de mesmice, com o público reagindo da mesma forma a uma série de músicas iguais (cito pois ouvi isso). Prefiro analisar na ótica que me coloca diante de um público simbiótico com sua banda do coração, e músicos capazes de criar e executar músicas com uma fúria hipnóticas. Não conhecia a banda, e saí com uma agradável sensação desse show.
Lamb of God
Uma banda que tem em sua figura principal seu baterista, já merece meu respeito e de muitos em especial. Não é necessário dizer que muito do que o Lamb of God conseguiu até hoje, passa inicialmente pelas baquetas de Chris Adler, um monstro atrás de seu kit! E foi nessa pegada, com o citado adentrando o palco antes de todos, enquanto uma intro mecânica rolava, que o público foi chamado a frente para a paulada que viria fechar o evento. Com 10 minutos de atraso ao horário indicado, as 22h10, o Lamb of God começava sua destruição sonora! Mandando logo de cara Desolation, o público respondeu prontamente ao chamado. Cantando de forma presente, o público fazia frente ao vocal de Randy Blythe que, diga-se de passagem, é um tsunami no palco! Com um vocal agressivo e uma presença de palco impressionante, Randy é facilmente o destaque em atuação da banda. O Lamb of God foi a única das três bandas que teve direito a um setlist completo, tocando em por volta de 1h30 minutos, um total de 16 músicas. Ou melhor dizendo, 15 e meia… veremos o motivo logo mais. O show decorria normalmente: a banda mandando petardos como Ghost Walking, Set to Fail, Hourglass e The Number Six, o público agitando, cantando e abrindo rodas que mais pareciam vortex, que ocupavam quase metade da pista. Laid to Rest e a banda se retira do palco. Todos sabiam que o show não havia acabado, e seu “bis” teve uma peculiaridade: enquanto a banda permaneceu ausente, a música The Passing foi executada de forma mecânica. Uma pausa não silenciosa. In Your Words, Redneck, e cada vez ficava mais nítido o absurdo rítmico de precisão que é Adler! E então, antes de executarem Black Label, Randy falou bastante com o público, e o já tradicional Wall of Death se armou. Se soubessem como isso terminaria, não teriam feito… a música começa, os dois lados se chocam, aquele processo todo com que já estamos acostumados e, alguns minutos depois, escuta-se Randy gritando para a banda, no meio da música “Stop! Stop!” E então se viu uma clareira abrindo e um rapaz caído, inconsciente, no chão. A clareira abriu-se mais, um certo desespero dos seguranças, a banda sai do palco, o resgate leva quase 5 minutos para agir e retirar de maca o citado rapaz. (nota: até esse momento, segunda-feira as 16h, não obtive uma notícia oficial do estado do rapaz). Todos aplaudiram, a banda voltou ao palco, Randy pediu que todos “pegassem mais leve” e então executaram o que todos pediam: Omerta. E nesse clima um tanto quanto abalado, o show chegou ao fim.
Ao final de tudo o que ficou foi, no aspecto do público, um grande evento, com diversão garantida, proporcionado por três grandes bandas de ótimos músicos. Tivemos problemas? Sim, muitos. Talvez até mais do que gostaríamos de presenciar sem comentar. Mas, como tudo acabou bem, vamos mante-los no esquecimento, já que lembrar dos três incríveis shows é muito mais agradável!
Setlist Lacuna Coil:
I Don`t Believe in Tomorrow
I Won`t Tell You
Kill the Light
Upsidedow
Swamped
Fragile
Heaven`s a Lie
Senzafine
Our Truth
Give me Something More
Trip the Darkness
Spellbound
Setlist Lamb of God:
Desolation
Ghost Walking
Walk With Me in Hell
Set to Fail
Now You’ve Got Something to Die For
Ruin
Hourglass
The Undertow
Descending
Contractor
The Number Six
Laid to Rest
Bis
The Passing
In Your Words
Redneck
Black Label
Omerta