Comparações em certos casos, são inevitáveis e a segunda edição do Overload Music Fest trouxe mudanças em relação ao ano anterior. Dessa vez dividido em dois dias, com mais atrações, o evento cresceu e soube ouvir sugestões de fãs ao longo desse tempo, além de trazer novidades para melhorar.
O festival
A mudança de horário em relação ao primeiro ano foi um grande ponto positivo. Ao invés de começar mais tarde e seguir de madrugada até um horário próximo do início do funcionamento normal do transporte público, nesse ano a produção optou por fazer o evento começar mais cedo e terminar em um horário que facilitasse o retorno dos fãs para casa. Mesmo que na opção anterior não houvesse tantos problemas com o transporte, o cansaço acabou pesando para muitas pessoas. Outro ponto positivo foi a alteração da área de merchandising para o mezanino, o que permitiu mais espaço para os fãs olharem as mercadorias, ainda que prejudicados pela falta de iluminação ali.
No mesmo local teve a exposição de trabalhos do espanhol Xavi Forné, o artista por trás do nome Error! Design, deu a oportunidade aos fãs que, muito provavelmente admiraram o cartaz das duas edições do festival de conhecer mais trabalhos do artista e se desejassem, adquirí-los. Por fim, autógrafos e bate-papo com Luiz Mazetto, autor do livro “Nós Somos a Tempestade” que fala sobre a cena do metal alternativo nos Estados Unidos. Por fim, o outro grande acerto foi o meet and greet com todos os artistas do festival, exceto os headliners. Organizado em uma área lateral, os fãs puderam ter discos autografados e fotos com os músicos.
Como nem tudo são flores, a alimentação foi um ponto fraco das noites. A casa impôs restrições a alimentos de fora e outras opções, o que torna um evento de longa duração algo complicado pois a fome sempre bate mais cedo ou mais tarde em todos. Com poucas opções de comida e preços não muito amigáveis nas bebidas, era possível sempre ver alguém reclamando desse ponto.
Mas o foco principal do festival é a música e o clima dele. E nisso o Overload Music Fest acertou a mão mais uma vez.
Novembers Doom
A primeira vinda ao país do grupo americano acabou tendo um gostinho extra para os fãs (e banda) que aguardaram tanto tempo pela oportunidade pois eles se apresentaram nos dois dias do festival. A honra da abertura do evento coube a eles com um set acústico e os músicos foram recepcionados por um bom público que já havia entrado no local, algo que não ocorre com tanta frequência em festivais.
Como o set acústico foi uma surpresa de última hora, houve alguns erros levados de forma divertida por eles e isso também foi um presente para os fãs, pois no final a banda não repetiu canções apresentando ao todo, nos dois dias, 21 músicas de toda a sua discografia.
Era visível a alegria da banda em se apresentar no Brasil. Eles transmitiram ensaios online, chamaram fãs para beber no hotel na noite anterior, foram na fila cumprimentar os que aguardavam a abertura da casa além de circularem pelo evento assistindo outros shows.
O destaque fica para os vocais de Paul Kuhr que variam de forma impressionante do limpo no primeiro dia ao gutural do segundo e ele não estava brincando ao dizer que haviam trazido a chuva antes de iniciar o set pesado com Rain pois ironicamente a cidade de São Paulo teve temporais nos dias seguintes como não acontecia há tempos e também, essa música veio após a tempestade sonora causada pelos japoneses do Mono que se apresentaram pouco antes do set pesado do Novembers Doom.
Com excelente resposta da plateia, que no segundo dia estava em maior número para vê-los, não deve demorar para que o grupo retorne com uma noite solo. E algumas músicas acabaram por ser cortadas devido ao horário como foi possível ver ao final da segunda apresentação do grupo na conversa rápida no final do setlist.
Set 05/09 (acústico): Silent Tomorrow / The Fifth Day of March / Twilight Innocence / Clear Through a Child’s Eyes / For Every Leaf That Falls / Serenity Remembered / Autumn / Reflection Of Age and Origin (Part 2)
Set 06/09: Rain / Bled White / The Jealous Sun / Harvest Scythe / The Novella Reservoir / Just Breathe / Amour of the Harp / Heartfelt / Dark Fields for Brilliance / I Hurt Those I Adore / Buried / The Pale Haunt Departure
Andy McKee
Em sua terceira passagem pelo Brasil, o talentoso violonista Andy McKee dessa vez encarou um público relativamente diferente do que seria o comum de ver em um show dele. Não que isso o intimidasse, fazendo até com que o fato fosse levado na brincadeira ao dizer que muitos ali deveriam estar se perguntando quem era aquele cara sozinho com o violão.
Andy foi “descoberto” por muita gente através do YouTube onde anos atrás foi destaque com as músicas Drifting e Africa (cover do Toto) se tornando então um dos principais músicos de fingerstlyle da atualidade. E o sucesso não foi por menos pois em seu set, ele apresentou as canções citadas acima além de outras covers e composições próprias.
Mesmo suas músicas não contendo vocais, elas não deixaram de prender a atenção da plateia, principalmente devido a impressionante técnica com a qual Andy tirava sons das cordas e percussão de seu violão.
Na segunda metade de seu show, o músico trocou seu violão por uma harp-guitar, um violão de 6 cordas que contém também cordas de baixo, fez uma pose para foto e com ele apresentou covers de Because It’s There e Aerial Boundaries do guitarrista Michael Hedges, conhecido por desenvolver o instrumento em sua carreira.
Setlist: Common Ground / Everybody Wants to Rule the World (Tears for Fears cover) / Africa (Toto cover) / Drifting / Ebon Coast / Tight Trite Night (Don Ross cover) / Because It’s There (Michael Hedges cover) / Aerial Boundaries (Michael Hedges cover)
Riverside
Uma das atrações mais esperadas do evento, os poloneses do Riverside vieram na sequência com um show extremamente energético e empolgado. Poucas bandas são capazes de contar com uma excelente presença de palco de todos os músicos.
Seu último disco Love, Fear and the Time Machine havia sido lançado na semana anterior ao show e muitos fãs foram ao local procurando adquirí-lo o que não foi possível, mas duas canções do álbum foram apresentadas e muito bem recebidas por todos. Muitos dos presentes que desconheciam o grupo ficaram impressionados com tamanha energia no palco com alguns chegando até a compará-los com um “Rush, só que mais pesado” tamanha a maestria dos músicos com seus instrumentos.
Sem dúvidas o melhor show da noite, o Riverside merece um retorno em breve para um show solo onde eles possam apresentar todo o seu potencial e mais canções pois as 9 executadas acabaram por parecer muito pouco, mas isso é algo normal de um festival.
Setlist: Lost (Why Should I Be Frightened By a Hat?) / Feel Like Falling / Hyperactive / Conceiving You / 02 Panic Room / The Depth of Self-Delusion / Saturate Me / Egoist Hedonist / Escalator Shrine
The Reign of Kindo
Velhos conhecidos do Brasil, o The Reign of Kindo foi a atração seguinte. O grupo, que conta com uma boa quantidade de fãs fiéis que estão sempre presentes em seus shows, veio com uma formação diferente da habitual, não trazendo o saxofone dessa vez com uma guitarra em seu lugar que ficou responsável pelas melodias de sopro e uma percussão maior que foi um excelente destaque.
O som dos americanos é provavelmente o que mais se diferenciou de todos na noite pois a mistura de estilos do jazz ao rock faz com que eles mesmos se chamem de “fazedores de música” já que seu estilo não se enquadra em rótulos.
Essa mistura agrada e cai como uma luva para um festival com uma proposta de trazer diferentes bandas com estilos variados entre si. Sem contar a alegria dos músicos com destaque para o baterista Steven Padin que com um pequeno kit de bateria fez uma performance ímpar junto de um duelo com a percussão durante seu solo no meio da última canção do setlist.
Setlist: Impossible World / Feeling In The Night / Thrill of the Fall / Needle & Thread / Bullets In The Air / Romancing A Stranger / Battling the Years / Till We Make Our Ascent / The Moments In Between / Hold Out / The Hero, The Saint, The Tyrant, & The Terrorist / Just Wait (com solos de bateria, percussão e teclado)
Anathema
Fechando a primeira noite, o retorno do Anathema depois do controverso show que ocorreu na cidade no mesmo ano. Dessa vez os ingleses tinham tudo ao seu favor: a vontade de fazer um show melhor e uma estrutura muito superior à da Clash Club. E isso fez a diferença junto com o fato da formação do grupo estar completa em relação às outras apresentações no país.
Apesar disso, a banda talvez pecou um pouco pelo setlist com três músicas a menos e apenas uma diferente em relação ao show do início do ano, isso acabou por deixar alguns fãs um pouco chateados ao esperar alguma mudança ou inclusão de canção para essa apresentação no festival.
Ainda assim, ao vivo o Anathema é uma banda competente e ter uma estrutura compatível com o grupo permite que seu show seja apreciado por todos. Esses fatores ajudaram até no humor dos músicos, visivelmente mais empolgados em estar ali e também porque a vinda para o festival permitiu a eles dessa vez, tocar em mais cidades, um desejo de longa data da banda.
Pode-se dizer que, finalmente o Anathema se livrou do estigma de banda com problemas para shows no Brasil depois dos cancelamentos e problemas em casas anteriores. Apresentaram um show digno de headliner encerrando a primeira noite do festival sob aplausos.
Setlist: Anathema / Untouchable, Part 1 / Thin Air / The Lost Song, Part 1 / The Lost Song, Part 2 / The Lost Song, Part 3 / The Beginning and the End / A Simple Mistake / Universal / Closer / Firelight / Distant Satellites / A Natural Disaster / Fragile Dreams
Antimatter
Abrindo o segundo dia do evento, o Antimatter veio com uma formação incompleta para um pequeno set acústico e criando um excelente clima intimista, Mick Moss e David Hall iniciaram a noite com Over Your Shoulder para a alegria daqueles que esperavam o grupo por tanto tempo.
Pelo formato do show, algumas canções esperadas por muitos podem não ter sido executadas, mesmo assim o duo fez um pequeno apanhado de toda a discografia do Antimatter, o que inclui uma curiosidade: um dos primeiros lançamentos de discos da Overload (a produtora do festival) no Brasil foram os álbuns Saviour e Lights Out em um formato duplo.
Mick Moss aliás se mostrou extremamente animado pelo evento, atendendo diversos fãs e assistindo aos shows dos outros grupos de diversos lugares da casa e prometeu que irá voltar com o grupo completo para uma apresentação no país. Que as condições econômicas permitam que ele possa cumprir seu desejo!
Setlist: Over Your Shoulder / The Last Laugh / Mr. White / (Trouble cover) / Dream / A Place in the Sun / Uniformed & Black / Leaving Eden / Monochrome / Conspire / The Power of Love (Frankie Goes to Hollywood cover)
Mono
Vindos do outro lado do mundo, os japoneses do Mono encararam muitas horas de viagem para fazer a mais intensa apresentação do evento. Com um volume alto, todas as nuances do post-rock instrumental do grupo puderam ser apreciadas e causaram as mais diversas reações para os presentes.
Houve quem não conseguiu compreender totalmente o que acontecia ali, alguns chegaram a ir mais para o fundo para conseguir apreciar o som enquanto muitos ficaram hipnotizados na frente do palco pelas melodias e peso alternando momentos de leveza e brutalidade que eles apresentavam.
O post-rock nem sempre é compreendido em um evento por alguns ouvintes mas mesmo com um tempo curto por ser festival, o Mono demonstrou o porque ser um dos nomes mais importantes do estilo, não deixando ninguém indiferente a sua apresentação. Foram apenas 6 músicas que passaram sobre todos como uma tempestade, curiosamente um dos temas da primeira canção que o Novembers Doom apresentaria a seguir.
Setlist: Ashes in the Snow / Pure as Snow (Trails of the Winter Storm) / Kanata / Halcyon (Beautiful Days)
Recoil, Ignite / Death In Reverse
Paradise Lost
Para encerrar o festival, o Paradise Lost veio após a segunda apresentação do Novembers Doom. E a escolha não poderia ser melhor. Retornando ao país para a divulgação de seu novo disco The Plague Within, o grupo demonstrou estar extremamente empolgado no show, talvez porque dessa vez se apresentariam em um lugar melhor que todas as últimas passagens pela cidade ou talvez pelo clima do evento.
Mesmo que em seus últimos discos eles tenham retornado um pouco à sonoridade de seus primeiros lançamentos, os ingleses não deixaram de fora canções como Erased ou Isolate de sua fase mais “leve” e tamanha a consistência do grupo que elas funcionam de forma perfeita ao lado de outras músicas como Hallowed Land ou Tragic Idol. Independente da época e sonoridade, o Paradise Lost tem uma identidade única que permite reconhecê-los.
Irretocáveis, pode-se dizer que esse foi o melhor show deles dentre todas as passagens deles no país encerrando em grande estilo o Overload Music Fest de 2015, que ao final exibiu uma animadora mensagem “Nós vemos em 2016!“. Dizem que a “terceira vez é a da sorte” ou “a terceira vez é o charme” e, continuando por esse caminho e organização, além das acertadas escolhas de line-up, o Overload Music Fest de 2016 tem tudo para cumprir esse ditado popular.
Setlist: The Enemy / No Hope in Sight / Gothic / Tragic Idol / Erased / True Belief / Victim of the Past / Hallowed Land / Faith Divides Us – Death Unites Us / Pity the Sadness / Isolate / Terminal / One Second / An Eternity of Lies / As I Die / Say Just Words