“Você é a última pessoa que eu esperava encontrar aqui!” Foram essas palavras que me recepcionaram à entrada do Credicard Hall na noite da última quinta, 06/10, ao encontrar uma amiga enquanto realizava meu credenciamento. E, de certo modo, o comentário seria pertinente. Afinal, um headbanger, com todo o estereótipo “from hell” como eu, no show de uma banda de Rock/Pop pode realmente soar estranho. Porem, se fizermos uma breve análise histórica da situação, podemos perceber que o argumento não é exatamente real. Afinal, quem hoje, se enquadrando em qualquer grupo Rocker/Banger, nascidos no final da década de 70/início da de 80, conseguiu escapar de curtir algum momento, em alguma balada, hinos como Shout, Everybody Wants to Rule the World ou Head over Heels? Assim como atire o primeiro vinil quem nunca “se enroscou” em alguém, em algum momento da vida, ao som de Woman in Chains! Logo, apesar de todo estereótipo, acredito que minha presença ali fazia todo sentido!

Tears for Fears

E, assim que entrei na pista do Credicard, pude perceber rapidamente que a média de idade ali certamente era das mais altas já encontradas por mim em um show. Era fácil encontrar cabelos brancos tomando conta de várias cabeças, numa olhada em volta. Ninguém aparentando pouca idade dentro dessa mesma olhada. Isso aponta nitidamente para o citado acima: o público do Tears for Fears (banda formada pela dupla Roland Orzabal – voz/guitarra e Curt Smith – voz /baixo, e que conta com músicos de apoio para completar a formação) é certamente um público apaixonado, que acompanha a estrada da dupla a algumas décadas, e fatalmente possui uma história que em alguns momentos se mistura com a da banda. Isso criou um clima muito ameno, familiar antes, durante e depois do show. Não tivemos aquelas reações frenéticas que estou acostumado a presenciar em shows de Heavy Metal, mas sim uma energia muito próxima a que encontramos em festas e baladas. Mais uma vz, confirmando o citado no primeiro parágrafo.

Tears for Fears

Exatamente as 22h (com meia hora de atraso em relação ao horário anunciado), tem início uma faixa instrumental clássica, com uma pegada meio épica, soando até estranho para o estilo musical que viria na sequência. Mas aquilo indicava que a banda enfim subiria ao palco, para apagar um hiato de 15 anos sem shows em nossas terras. E o início foi realmente para trazer todos para dentro do show: Everybody Wants to Rule the World. Simplesmente um dos mais fortes clássicos, já arremessado assim no colo do sedento público. Foi explosivo! Não vejo adjetivo melhor para designar o momento. O show seguiu-se intercalando músicas que agradavam aos fãs reais, e clássicos que visivelmente eram os que mais empolgavam e levantavam o público. Roland arriscou muitas palavras e até algumas frases em português, com uma dicção muito boa. Isso aproximou mais ainda banda e público, deixando o clima até mais intimista. Palavra que talvez nem coubesse aqui, dado o fato da casa estar tomada! O próximo momento de “casa a baixo” foi em Mad World, música essa que eu já havia ouvido esse ano, sendo executada no show acústico do Reign of Kindo. Três músicas depois, um dos momentos de destaque do show: o curioso e muito bem re-arranjado cover de Billie Jean, clássico dos clássicos do rei do Pop mundial, Michael Jackson. Deixaram a música muito mais lenta, quase uma “balada”, mas de muito bom gosto. E, logo na sequência, uma das mais carismáticas e gostosas músicas da banda: Advice for the Youg at Heart. Era curioso ver a quantidade de mãos que levantavam com algum aparelho nelas, para filmarem esses clássicos. Floating Down the River, e então Badman`s Song, e aqui uma clara demonstração da qualidade dos músicos que acompanham a dupla Roland & Curt. Pale Shelter e então uma sequência devastadora: Break it Down Again e Head Over Heels. Simplesmente impossível não se sentir viajando no tempo, voltando algumas décadas, quando se era comum ouvir esses hits nas rádios, o tempo todo. Uma sensação muito boa tomou conta de mim nesse momento. E ao fim dessas, a banda se retirou. Apenas uma breve pausa e já estavam de volta, com uma iluminação muito branda, e então começam a executar a que para mim é a melhor de todas: Woman in Chains. Essa música, em minha opinião, em sua versão original, possui um dos mais rebuscados e competentes arranjos da história do Rock Pop. E ficou linda ao vivo. E para fechar a apresentação, em uma versão estendida, o hino Shout. E agora sim o show chegava ao fim.

Tears for Fears

Uma produção primorosa. Um show muito bonito de se ver, com uma iluminação cuidadosa e uma disposição de palco idem. Cinco pequenos telões, um ao centro e os quatro restantes nas laterais, formavam mosaicos que mudavam em todas as músicas. Isso criou durante todo o show uma interação de luzes e imagens e formas realmente muito belas de se ver! Uma banda tão competente quanto, que se não são um primor em agitação em cima do palco, são muito educados, simpáticos e carismáticos, características não muito comuns em britânicos. Tudo isso, unido ao nítido e saboroso saudosismo oferecido, criou essa noite, além de um show, uma experiência para ser lembrada por muito tempo!

Setlist:

Everybody Wants to Rule the World
Secret World (‘Let Em In’ snippet)
Sowing the Seeds of Love
Change
Call Me Mellow
Everybody Loves a Happy Ending
Mad World
Memories Fade
Closest Thing to Heaven
Billie Jean (Michael Jackson cover)
Advice for the Young at Heart
Floating Down the River
Badman’s Song
Pale Shelter
Break It Down Again
Head Over Heels

Bis

Woman In Chains
Shout

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Escrito por

Redação

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