À exemplo do que foi feito antes da Copa do Mundo da Rússia, os mesmos autores do especial Copa do Metal decidiram falar um pouco sobre o torneio feminino que acontece na França neste mês de junho. Dessa vez, o destaque, merecido, é para as mulheres, com abordagem de suas seleções e uma banda para representar cada país com no mínimo uma mulher em sua formação. A tarefa no garimpo à bandas que atendessem à esta exigência foi divertida e, algumas vezes, nada fácil. Lamentavelmente, não fomos capazes de encontrar (se é que existem) uma única banda com uma mulher na formação de três países, portanto, decidimos por não falar sobre suas seleções também. Os países que não serão abordados neste especial, portanto, são Nigéria (grupo A), Jamaica (grupo C) e Camarões (grupo E). No entanto, se você que está lendo, conhecer uma banda de metal de algum dos países ausentes, por favor, comente na publicação e faremos a edição com prazer. Caso contrário, deixaremos essa lacuna, assim como ocorreu com Senegal na Copa do Metal de 2018.
Confira abaixo os grupos A e B:
GRUPO A:
França:
(Flávio Diniz)
Longe de ser uma potência do futebol mundial, a seleção feminina francesa não possui grandes conquistas ao longo de sua história. Seu melhor desempenho em uma Copa do Mundo foi um quarto lugar em 2011, na Alemanha, onde as japonesas sagraram-se campeãs sobre os EUA. A França possui títulos de menor repercussão, como duas Cyprus Cup (torneio mundial disputado no Chipre) e uma SheBelieves Cup (campeonato disputado anualmente nos Estados Unidos). Nas categorias de base, a seleção tem maior destaque, tendo conquistado quatro vezes o campeonato mundial na categoria sub-19 e uma vez a Copa do Mundo no sub-17. Os franceses certamente anseiam por uma boa campanha neste ano e quem sabe com a força de jogar em casa, fazer uma dobradinha, com dois títulos de Copa do Mundo em dois anos (seleções masculina e feminina). Por falar nisso, recentemente as seleções se envolveram em uma polêmica, quando as garotas, às vésperas da copa do mundo, precisaram ceder o centro de treinamento para a seleção masculina que se prepara para um amistoso e um jogo válido pelas eliminatórias da Eurocopa. O debate envolvendo temas como sexismo se reacendeu com a notícia tomando conta das redes sociais.
Lar de um dos maiores festivais de metal do mundo, o respeitadíssimo Hell Fest, que faz frente ao “badalado” Wacken Open Air, a França não é, no entanto, um celeiro de grandes nomes do metal mundial. Obviamente há nomes respeitados, como Benighted e Gojira, mas talvez nada mais famoso do que isso. A banda selecionada para representar franceses e francesas não possui uma vasta discografia, mas deve agradar em cheio fãs do Metal Sinfônico. Fundada em 2015, Beneath My Sins possui um álbum lançado em 2017 intitulado “Valkyries of Modern Time”. Emma Elvastone é a voz feminina que emoldura o som trabalhado e envolvente da banda. O repertório da cantora é muito rico. Seus timbres vocais são bem diversificados, alcançando notas bem altas e suaves de acordo com o que a composição pede, arriscando até alguma agressividade aqui e ali. A sonoridade da Beneath My Sins segue um estilo suave e clássico do gênero, adicionando trechos mais modernos e comerciais, que ajudam a diferenciar suas composições em um gênero difícil de se sobressair.
Ouça abaixo a música “Losing You Again”, um dos destaques do álbum “Valkyries of Modern Time”.
Coreia do Sul:
(Flávio Diniz)
Atualmente, ocupando a 14ª colocação no Ranking mundial da FIFA, a Coreia do Sul tem pela frente a missão de realizar uma campanha melhor ou igual à última Copa do Mundo (Canadá – 2015), quando chegou às oitavas de final, classificando-se em segundo colocado, atrás de Brasil e à frente de Costa Rica e Espanha. No mata-mata, foram eliminadas frente à França em uma derrota por 3×0. Em 2019, o país participa somente de sua terceira Copa do Mundo. A primeira participação ocorreu na copa de 2003 nos Estados Unidos, quando as sul coreanas perderam os três jogos da fase de grupos, marcando um gol e sofrendo onze, encerrando a participação em décimo quarto lugar, com um saldo negativo de dez gols, a frente apenas de Nigéria e Argentina. A posição no ranking mundial talvez não incomode tanto jogadoras e torcedoras daquele país, pois estão na metade de cima da tabela dos 30 primeiros países, mas estar três posições atrás da outra Coreia, certamente deve incomodar um pouco mais.
Fênomeno absurdo da música pop, tendo criado seu próprio estilo, o K-Pop, a Coreia do Sul vê agora o retorno do investimento na cultura chegando aos seus cofres. Psy, com Gangnam Style foi um dos primeiros nomes a invadir com força a cultura do ocidente. O vídeo da música, com suas danças infames, que se espalhou por todo o mundo possui insanos 3,3 bilhões de visualizações. Mas se você acha que os moradores do sul da península coreana se contentam com a música popular criada no país está redondamente enganado. O metal não só é apreciado, como muito bem executado por aquelas bandas. O nome que se destacou dentre nossas pesquisas é o da banda Dark Mirror ov Tragedy. Fundada em 2003 na capital Seul, a banda executa um Black Metal Sinfônico de alto nível, que chega a remeter ao Dimmu Borgir em alguns momentos, até mesmo no visual. Genie é a única mulher da banda e é responsável pelas harmoniosas e atmosféricas notas de teclado, ora deixando o clima denso e pesado, ora dando suaves e melancólicas pitadas que acrescentam e soam necessárias à musicalidade da banda. Em sua discografia, o Dark Mirror ov Tragedy possui quatro álbuns lançados. O último, intitulado “The Lord ov Shadows” é dividido em cinco capítulos. Algumas das faixas possuem 13 e 20 minutos de duração, dando evidências da complexidade de sua música.
Música sugerida: “Chapter III. The Annunciation In Lust”
Noruega:
(Flávio Diniz)
Na contramão das conquistas masculinas, a seleção norueguesa feminina é motivo de orgulho para os escandinavos. Chegaram à duas finais da Copa do Mundo, levantando a taça em uma das ocasiões, em 1995, conquistaram duas medalhas olímpicas (ouro em 2000 e bronze em 1996), são bicampeãs da Eurocopa (1987 e 1993) e chegaram outras três vezes à final do torneio continental. A Noruega possui a melhor jogadora de futebol mundial da atualidade. Trata-se de Ada Hegerberg, jogadora do Olympique Lyonnais, clube pelo qual conquistou nada menos do que treze títulos, sendo quatro vezes campeã da Champions League, cinco do Campeonato Francês e quatro da Copa da França. Além disso, obviamente possui muitos títulos individuais. O mais importante, a Bola de Ouro Feminina de 2018. No entanto, apesar disso tudo, a jogadora não estará na Copa do Mundo. A atacante recusou a convocação devido à desigualdade de tratamento entre homens e mulheres no esporte. Nem mesmo a decisão na mesma época da federação do país de pagar o mesmo salário às duas seleções fez a craque mudar de opinião. A jogadora cobrava mais respeito, nível de profissionalismo e qualidade do trabalho destinado às seleções. “Nem sempre é por dinheiro”, detonou na época. No entanto, vale lembrar, que mesmo sem a principal jogadora, a Noruega entra como uma das favoritas ao título.
Conhecida pela tradição de criar grandes nomes do metal mundial, a Noruega é um dos países com maior concentração de bandas de metal per capita do planeta, ficando atrás apenas da Finlândia e empatando com a Suécia. Considerado por muitos como o berço do Black Metal, dando origem aos maiores nomes do estilo, como Mayhem, Burzum, Dark Throne, Immortal, Dimmu Borgir e outros, o país também é o lar de nomes do metal sinfônico com a presença de mulheres, como as já extintas The Sins of Thy Beloved e Theatre of Tragedy, além da nossa escolhida: Tristania. Talvez o maior nome do metal gótico/sinfônico mundial, a banda foi fundada em 1996. Por dez anos (1997 a 2007), Vibeke Stene foi a dona das vozes femininas da banda e até hoje é considerada sua grande vocalista. Com Vibeke como front woman, o Tristania gravou cinco álbuns. O último, Illumination foi lançado cerca de um mês antes da cantora abandonar o posto. Dois motivos a fizeram tomar esta decisão: o desejo de encerrar sua formação superior e, segundo a própria vocalista, o Tristania estava tomando rumos musicais que não a agradavam. Para a vaga, foi chamada a italiana Mariangela Demurtas, dona das vozes femininas dos dois últimos álbuns da banda. Dois anos depois, o Tristania ganhou mais uma mulher em sua formação. Trata-se da guitarrista Gyri Smørdal Losnegaard, que também gravou os dois últimos álbuns. Embora não apresente nada novo aos fãs há seis anos (Darkest White é o último álbum, de 2013), seguem dentre os principais nomes do metal sinfônico, além de dividir com outras bandas, o pioneirismo do estilo.
Ouça abaixo a faixa “Tender Trip On Earth”, do terceiro álbum, “World of Glass”, uma das mais conhecidas.
GRUPO B
Alemanha:
(Leonardo Cantarelli)
É impossível falar de heavy metal e futebol e não mencionar a Alemanha. Um dos países que mais influenciam o mundo atual e são exemplos de modernidade, organização e cultura.
No futebol, a Seleção Alemã masculina, ao longo do tempo, faturou 4 Copas do Mundo e em cima de grandes equipes. Em 1954 venceu a poderosa Hungria de Puskas e cia. (que mandava no futebol daquele período). 20 anos depois bateu a Holanda de Cruyff, que praticava um futebol espetacular, que ficou conhecido como ‘Carrosel Holandês’. Em 2014, enfrentou o Brasil, pentacampeão do mundo, em Belo Horizonte/MG, e venceu por 7 a 1. Humilhou o ‘País do Futebol’ em sua própria terra. A outra conquista foi em 1990.
Assim como os homens, as mulheres também são referência com a bola nos pés. Venceram duas Copas do Mundo (2003 e 07), o que faz com que a Alemanha seja a única nação a ganhar uma Copa tanto no torneio masculino como no feminino.
Ainda sobre as conquistas no âmbito feminino, as alemãs tem 8 Eurocopas (maiores vencedoras) e foram medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil. São uma das favoritas a vencer o torneio na França.
Já no rock e no heavy metal, a Alemanha, como já mencionado, é uma das grandes referências. Anualmente ocorre no norte do país, o Wacken Open Air, o maior evento de metal do mundo e que reúne headbangers dos 4 cantos do planeta. Uma meca para os amantes do metal pesado.
Sobre as bandas, podemos mencionar o Scorpions, um dos pioneiros. Podemos falar sobre Accept ,Grave Digger e Running Wild, que fazem um metal mais tradicional , sobre Helloween e Gama Ray, lendárias bandas de power metal e também o Pink Cream 69 com o seu hard/metal de extrema qualidade.
Já no Thrash Metal há o “Big 4” composto por Kreator, Sodom, Destruction e Tankard. Para quem gosta de underground o Iron Angel é uma grande dica.
Por fim, e falando das mulheres, a grande frontwoman e inspiração para muitos veio de Dusseldorf: Doro Pesch. Ela fez sucesso com a banda Warlock, que tocava um heavy tradicional. Atualmente, Doro, está em carreira solo e todos a conhecem pela sua simpatia, carisma, beleza, além de seguir cantando em alto nível.
Entretanto, a banda que destacarei aqui é uma menos conhecida, mas muito boa: Holy Moses.
O grupo oriundo de Aachen teve início nos anos 80 e há como destaque a cantora Sabina Classen. O estilo praticado é um típico thrash metal e já tem 12 álbuns de estúdio lançados.
O clipe separado abaixo é do início da carreira da banda. Finished with the dogs , segundo full-length lançado e a música tem o mesmo nome do álbum. Embora já tenham tocado em vários festivais grandes, é legal vê-los tocando em um palco bem menor, com uma aparelhagem de som não muito boa, e os fãs tentando subir e fazer mosh. Não é o ideal, mas a realidade de muitos shows de heavy metal.
China:
(Flávio Diniz)
Em Copas do Mundo, seus maiores feitos são um vice-campeonato em 1999 e um quarto lugar em 1995. As chinesas conquistaram também uma medalha de prata nos jogos olímpicos de 1996 e foram duas vezes vice campeãs do mundo na categoria sub-20 (2004 e 2006). Na Copa da Ásia, no entanto, o país reina soberano. Em dezenove edições do torneio, a China chegou à dez finais e foi campeã oito vezes, mais que o dobro da segunda colocada, Coreia do Norte, com três conquistas. Um dos momentos mais marcantes para a seleção no torneio mundial foi justamente no ano em que conquistaram o segundo lugar, quando registraram uma das maiores goleadas da história das Copas Femininas, 7×0 sobre a seleção de Gana. Ainda nesta edição, eliminaram Rússia e Noruega nas quartas de final e semifinal respectivamente, além de classificar-se em primeiro lugar com três vitórias sobre Suécia, Austrália e a já citada Gana. Em 2019, no entanto, para superar suas campanhas anteriores, as chinesas tem a tarefa nada fácil de encarar no jogo de estreia a três vezes finalista e bicampeã do mundo, a seleção da Alemanha.
Com muito virtuosismo e presença bem notável dos teclados e sintetizadores, a banda Black Lake executa um Death Metal Melódico com diversas influências aqui e ali, como Heavy Metal/Melódico e Progressivo. Seu único registro é um EP lançado em 2014, intitulado “Fight Battle War”. 王灿 (“Wáng càn” de acordo com o Google Tradutor) é a tecladista da banda e tem a às vezes dura tarefa de se inserir nas composições quase ecléticas do Black Lake, que definitivamente bebe de inúmeras fontes ao criar. O termo Death Metal Melódico é muito vago para definir sua sonoridade. Há momentos em que o instrumental executa um Thrash Metal pegado ao mesmo tempo em que o vocal segue uma linha Black Metal cru com teclado e baixo injetando peso e notas sinfônicas acompanhadas de coros. É uma música às vezes complexa e até difícil de entender de primeira, mas longe de ser ruim. No mínimo vale a pena dar uma chance ao trabalho dos chineses.
A música do vídeo abaixo é a que fecha o EP dos chineses e leva o nome de “The Immortal Vow”
Espanha:
(Leonardo Cantarelli)
O futebol feminino na Espanha passou pelos mesmos problemas que em muitos lugares do mundo: a dificuldade para a prática e as boas estruturas para desenvolver o esporte local.
Apenas em 1983, a Real Federación Española de Fútbol, criou de fato uma seleção feminina espanhola.
Os resultados aos poucos vem aparecendo, principalmente nas categorias de base. São 7 títulos europeus (3 pelo sub-19 e 4 pelo sub-17) e 1 Mundial sub-17 (2018). Tudo isso a partir de 2004!
Profissionalmente a melhor campanha foi uma semifinal de Eurocopa em 1997. Las soñadoras debutaram em Copa do Mundo somente em 2015 e não passaram da primeira fase. A meta agora é ao menos sonhar com uma vaga nas oitavas de final. Será que é possível? Pelos bons resultados na base é possível pensar grande.
Já no heavy metal as grandes referências ficam por conta do folk do Mago de Oz, o power metal do Tierra Santa e também do Dark Moor, além do lendário Barón Rojo que tem uma grande influência da NWOBHM.
E bandas com mulheres? O destaque aqui fica para Wurdalak. O grupo oriundo de Valencia pratica um power metal muito envolvente e rico musicalmente. Maria José Romero é quem dá voz a essa banda que possui 6 álbuns. O clipe destacado leva o mesmo nome do grupo e foi lançado no cd ‘Como si no hubiese mañana’ (2016).
África do Sul:
(Leonardo Cantarelli)
A seleção feminina da África do Sul surgiu, de forma oficial, em 1993. Os grandes feitos até o momento foram disputar a Olimpíada de Londres em 2012 (onde não passaram da primeira fase) e a classificação para a Copa do Mundo de 2019. As Banyana Banyana disputarão pela primeira vez um Mundial. Entretanto, o futebol feminino africano ainda é muito fraco e a principal meta é fazer uma campanha meramente digna.
Até o momento em 10 jogos realizados em 2019, as sul-africanas empataram 4 e perderam 6. A última partida, 2 de junho, antes do início da competição, foi um revés de 7 a 2 para a Noruega.
Já pelo heavy metal, a cena da África do Sul surpreende por ter várias bandas e de muita qualidade. E grupos com mulheres? Sim, existem e é fácil encontrar. Difícil escolher apenas um.
A recomendada nesta matéria é Adorned in Ash. O quarteto, liderado pela vocalista/guitarrista Robyn Ferguson, oriundo de Pretória (onde fica a sede do Poder Executivo da África do Sul) executa um Brutal Death/Black que não deve em nada para muitas bandas grandes.
Adorned in Ash possui apenas um álbum : ‘The Dead Walk Among Us’ (2014) e o clip abaixo é referente a música: Broken Glass Reflection